terça-feira, 2 de outubro de 2012
Machado de Assis, a crônica, a política, a História. o Brasil, o Rio de Janeiro
a propósito do iminente pleito municipal em todo o país, convém conhecer o que Machado de Assis -- que tratou muito de política em suas crônicas -- comentou (com ironia crítica e lúcida observação) sobre eleições na cidade do Rio de Janeiro e sobre a Câmara Municipal : constitui um conjunto de 53 crônicas,publicadas em jornais, que constituí (integralmente pronto) para se veicular pelo meio digital
Certamente pelo uso do subterfúgio, da dissimulação, da
sutileza, do disfarce e do enigma – ‘arte’ da qual era mestre e artífice --
Machado de Assis recebeu indevidamente, numa das mais equivocadas avaliações da
literatura brasileira, a pecha de “despolitizado”, “apolítico”, “alheio às
questões políticas e sociais de seu tempo”.
Ledo e puro engano! Machado de Assis foi
um lúcido ‘relator’ da história brasileira e observador atento da sociedade e
das instituições do País, em geral, e especificamente da cidade do Rio de
Janeiro. As crônicas tratando de
política,ou a ela se referindo, justamente aquelas que registram opiniões nunca
expressadas com tanta clareza e coerência, constatam vividamente o quanto Machado debruçou-se sobre os fatos,
os homens, as conjunções, injunções, nuances, conflitos, movimentos, tendências
e complexidade da política de seu tempo, e construiu em diversas escalas focos e matizes um retrato
fidedigno de uma sociedade em profunda transformação, prestes à eclosão de dois
cruciais processos, a Abolição e a República, que moldaram substancialmente a
história brasileira na segunda metade do século XIX.
Machado fez
da crônica mais do que um mero registro datado do cotidiano, elevou-a ao nível
de verdadeiro repositório de relato e interpretação: com suas primordiais
características de leveza de tom e teor, fluência textual e estilística muito
próxima da oralidade, ironia satírica e pilhéria, metáfora e paródia, ostenta
também a presença marcante, como ocorre em sua obra ficcional, dos conhecidos e
admiráveis elementos machadianos do disfarce, da dissimulação, do subterfúgio,
da sutileza, dos significados ocultos postos como desafios ao leitor, e em
especial a “arte das transições”, levada a extremos no unir tópicos
aparentemente distintos, um parecendo não ter nada a ver com outro, mas que
justapostos oferecem um resultado
surpreendente,cujo trajeto é ‘amenizado’ para os leitor, primeiro desviando-o
do tema principal, depois retornando e reintegrando-o,numa espiral de
circularidade muitas vezes nem percebida de todo; Machado esconde ou disfarça uma parte da
verdade e desafia o leitor a descobri-la
e fazê-la emergir -- o que, longe de
confundir ou ‘iludir’, justamente
o incitam e levam-no a formar opinião própria.
Por meio das
crônicas machadianas é possível observar a vida política e governamental brasileira e carioca de sua
época. Ressalve-se no entanto que em
Machado nunca se vê, nem se verá jamais,
o militante,o panfletário – e sim o provocante,instigante,lúcido,consciente analista,qual
cirurgião a dissecar fatos,pessoas e tendências não com o bisturi da
contundência crítica mas com a pinça
delicada da fina ironia,do humor, da
sátira.
Tanto a história
brasileira quanto a fluminense e carioca estão presentes nas crônicas tendo a
política como mote e referência – somando 385 textos dentre um total de 734
escritos -- publicadas em vários periódicos,
de 1859 a 1900, sob os mais diversos formatos, séries e assinaturas. No tocante
ao Rio de Janeiro, cidade onipresente e sempre referência em toda a obra
machadiana, passam pelas crônicas os principais fatos políticos nacionais,
regionais e municipais, e muito especificamente a Câmara Municipal e eleições
municipais, impostos e o erário municipal, os problemas urbanos da cidade, discursos,
pronunciamentos,debates,decisões, atos,resoluções,projetos que moldaram
política e administrativamente a então capital federal.
Crônicas e política, crônica e
História, crônica e sociedade, não-ficção e realidade: elos, laços e fulcros
marcantes na obra de Machado de Assis. Na maior parte dela, em seus âmago e
essência, cerne e conteúdo, é oferecida ao leitor uma interpretação lúcida,
consciente, instigante, por vezes contundente, mas também irônica, alegórica, das diversas fases do II Reinado, da
derrocada do Império e da eclosão da República - desnudando mitos e certezas,
aparências e disfarces, dilemas e mentiras,sob o clamor
crítico-satírico de um olhar direto e
transparente, nada oblíquo ou dissimulado, feito testemunho incomparável e imprescindível da vida política e institucional
brasileira do século XIX.
Revelando também a insofismável atualidade de Machado de
Assis com relação ao Brasil de hoje...
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