domingo, 27 de julho de 2014

sobre periódicos e literatura

a propósito do colóquio "Real em revista", no Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro,de 28.07 a 01.01- em que notáveis estudiosos, pesquisadores e especialistas discorrem e dialogam sobre periódicos e literatura. o evento é concomitante à consecução do projeto de digitalização de periódicos dos séculos XVIII, XIX e XX nos acervos do RGPL.
estarei presente, e aponho aqui excerto de paper que, tempos atrás, escrevi para entidade acadêmica e um portal de literatura.
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Apontamentos e anotações de ‘garimpos’ literários

Pesquisador dedicado a literatura brasileira (oitocentista e parte novecentista), ensaísta, articulista, escritor ( autor de 11 livros impressos e 5 e-books), em meus trabalhos – pesquisas, estudos; artigos,ensaios, palestras, conferências, e mormente livros – priorizo, melhor dizer torno exclusivo, fazendo disso o próprio leimotiv de minha atividade intelectual e autoral., o approach da diferenciação, no que se refere ao inédito, ou pouco conhecido e divulgado, ou estudado e publicado, etc. -- investigados,pesquisados, identificados e recolhidos  os textos e escritos nessa condição em suas respectivas fontes primárias , vale dizer nos periódicos – jornais, revistas, almanaques, álbuns - dos respectivos tempos de suas veiculações originais. O vasculhar e o ‘garimpo’ em fontes primárias constituem per se o mote e força motriz que rege e impulsiona meus projetos e programas literários.
 Nos periódicos encontra-se, e neles arregimento, o material básico, a matéria bruta – melhor : a  matéria- prima (no mais elevado sentido) – com que trabalho, a massa e argamassa com que construo meus escritos e obras.
  Na verdade, o vasculhar e garimpar permanentes, sistematizados, concatenados, consistentes, em periódicos para efeito de meu trabalho literário coaduna-se conceitualmente com os  interesse e atenção que  desde sempre me despertou as relações históricas entre os literatos e a imprensa. 
A rigor, sempre me interessou e despertou especial dedicação, como tópico marcante de estudo literário,  as relações – quer no Brasil oitocentista quer novecentista - entre literatos e escritores com a imprensa. 
Foi - e é – assim, a caracterizar e enfatizar tais vasculhar e garimpar  permanentes, sistematizados, concatenados, consistentes, em periódicos para descobrir  e recolher inéditos ou raros de Machado de Assis, de Lima Barreto; para investigar  inéditos ou pouco conhecidos de Castro Alves, Viriato Correa, Olavo Bilac,Laurindo Rabelo, Francisca Julia, Inglês de Souza, Mario de Alencar, Aluisio Azevedo, Raul Pompéia – os quais   comporão um conjunto (a ser livro) de “inéditos dispersos”[sic]; para recolher inéditos de Arthur Azevedo, de Coelho Neto.
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De Machado de Assis, o conto até então inédito, dado como desaparecido – tudo indica que por  sua temática e elementos de trama plenos de sutileza -- “Um para o outro”, publicado em A Estação julho-agosto 1879, que incluí no livro Contos de Machado de Assis : relicários e raisonnés (PUC-Rio\Loyola, 2008), veio de um longo trabalho investigativo desenvolvido durante 6 anos – no caso, com foco exclusivo em uma única fonte primária, o citado jornal.
                  --publicado originalmente nos  folhetins de 30 de julho, 15 e 30 de agosto, 15 e30 de setembro e 15 de outubro de 1879  em A Estação, o conto “Um para o outro” , dado como perdido,jamais fora  incluído até então em qualquer antologia,coletânea,seleta ou  edição em volume.
                 

Recentemente – a comprovar que em Machado nada é definitivo e conclusivo, sempre há o que desvendar --  resgatei um pequeno conjunto de escritos variados,  apenas publicados em periódicos como O Parahyba (1859), O Futuro (1863), Diário do Rio de Janeiro (1866), A Instrução Pública (1873; 1875), a saber : uma crônica, um editorial (sim), um conto., duas traduções – organizados no livro “Machado de Assis : inéditos em livro”, ora no prelo (ABL).
Ainda referente a Machado de Assis, debruço-me há mais de um ano no jornal O Parahyba – periódico de excepcional atuação e extrema importância para a história jornalística e cultural brasileiras.
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            Projeto que resgata e dá a conhecimentos público, acadêmico,editorial e cultural  um dos periódicos mais importantes – ainda que pouquíssimo conhecido e estudado --  da história jornalística brasileira, fundado e  publicado na cidade de Petrópolis,Rio de Janeiro.
            Reveste-se de especial significância a  produção de Machado de Assis no jornal : 4 poemas -- o primeiro deles, em abril de 1858, considerado “uma data da história literária do Brasil”; outro,uma das primeiras do Machado tradutor, atividade que desenvolveu com notável mestria por longo tempo); uma crônica(em junho de 1859, sob todos os ponto de vista histórica, por ser efetivamente  a primeira de sua fértil safra de mais de 700 escritas durante 41 anos, e pelo vigoroso teor político)--todos, textos importante como elementos, para estudos e registro historiográfico, dos primórdios da criação machadiana..
            O Parahyba, publicação bissemanal, fundado em 1857 pelo jornalista e escritor Augusto Emílio Zaluar, caracterizou-se por um acervo de idéias "progressistas", abrigando, no campo político, teses e posturas liberais pouco comuns então, como p. ex. a educação – o jornal empenhava-se pela criação e extensão do ensino profissional (editorial de janeiro de 1858 pregava: “A base de todo nosso desenvolvimento está na instrução pública”) – questões econômico-financeiras (a crise de 1858-59 gerou muitas matérias; um editorial criticava “os capitalistas”), problemas fundiários e de colonização de terras,além de aspectos ligados a costumes e comportamentos e tratamento de temas pouco enfocados, alguns considerados ‘difíceis’ ou delicados(como p. ex. a situação da mulher na sociedade). o jornal manteve-se até novembro de 1859, vencido por dificuldades financeiras, apesar de contar com um grupo de colaboradores bastante qualificado e de nomes, como Machado de Assis,  Quintino Bocaiúva, Manuel Antonio de Almeida,entre outros.
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De Machado, mapeei sua produção textual na imprensa brasileira, oitocentista (de 1855 a 1899) e novecentista (1900- 1907), como poeta, tradutor,contista, cronista,articulista, crítico literário, crítico teatral,romancista,  que me serve como guia e bússola de investigações e pesquisas -- apontando rigorosamente a seqüência cronológica de sua atuação e suas respectivas produções  em cada periódico:
   A Marmota / O Parahyba (Petrópolis- RJ) / Correio Mercantil / O Espelho / Diário do Rio de Janeiro /Semana Ilustrada / A Primavera /Jornal do Povo/  O Futuro/ A Saudade / O Binóculo/ Jornal das Famílias / Biblioteca Brasileira / Almanaque Ilustrado da Semana Ilustrada /Imprensa Acadêmica (São Paulo) /Revista Mensal da Sociedade de Ensaios Literários/  Revista Contemporânea/ Semanário Maranhense (São Luiz- MA)/ Arquivo Literário/ Jornal da Tarde/   Jornal do Comércio/  A Reforma / Leitura Popular/  A Luz/  Arquivo Contemporâneo/ The New Word (Nova Yok-EUA)/ A Instrução Pùblica/  O Globo/  A Crença/  A Época/ Ilustração Brasileira/  Gazeta de Notícias/ O Cruzeiro / Revista Brasileira/  A Estação/ Almanaque da Gazeta de Notícias/  Gazeta Literária / Gazeta Suburbana/  A Ilustração /  O Poeta/   A Semana  /Diário de Notícias/  A Quinzena/  Almanaque das Fluminenses/   O Álbum/  Revista Brazileira/  A Cigarra/  República/ A Bruxa/ Brasil-Portugal / O Comércio de São Paulo /Almanaque Brasileiro Garnier 

Aliás, para Machado o jornal – vis a vis o teatro -- eram os dois elementos, ou as duas searas, fadadas a se constituírem nas ‘barreiras’ a um processo ‘invasor’, a predominância de obras,textos e autores e da cultura estrangeiras, culpabilizadas pela indigência da produção artística e cultural brasileira, o jornal, “literatura comum,universal,altamente democrática” exposto enfaticamente no artigo  “O jornal e o livro”, no  Correio Mercantil, 10.01.1859.
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Mesmo nos casos em que trabalhei com textos e escritos oriundos de fontes secundárias -- livros, ou coletâneas ou antologias publicadas -- volvi-me às fontes primárias – os periódicos -- e os cotejei com as formas originais nos periódicos de origem : e assim sempre o faço e farei para todos os trabalhos..
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Assim foi, p. ex., nos contos políticos, inclusos os chamados “argelinos” de Lima Barreto, os quais publicados em apenas uma coletânea – a 2ª. edição de Histórias e sonhos, 1951 (e não na primeira, de 1920) --portanto ‘semi-inéditos’, conferi com os respectivos textos veiculados originalmente em Careta(1914; 1915; 1919; 1920;1921;1922; 1924 - postumamente) e no Correio da Noite (1914), nos quais aliás encontrei, em algumas crônicas, trechos diferentes dos publicados na coletânea, e apontando-os vis a vis uns com outros  incorporei-os no livro Lima Barreto e política : os “contos argelinos” e outros textos (PUC-Rio\Loyola, 2010)

Do mesmo modo, com os textos compondo o livro  Escritos de Euclydes da Cunha: política, ecopolítica, etnopolítica (PUC-Rio\Loyola, 2009), captados em livros e seletas publicados, mas verificados um a um nos respectivos veículos originais, nos jornais A Província de São Paulo,1888-89; Democracia, 1890; O Estado de S. Paulo, 1892-97, 1900, 1904; Jornal do Commercio, 1907; O Paiz,1908; na revista Kosmos, 1906; no Almanaque Brasileiro Garnier, 1908.
Também com as crônicas machadianas, de duas séries escritas para a Gazeta de Notícias, respectivamente em 1886 e em 1886-87, publicadas em um livro e em uma coletânea (‘semi-inéditas’, pois) , que devidamente confrontadas e verificadas com os originais nas fontes primárias, foram reunidas no livro Crônicas de Machado de Assis : “A + B” e “Gazeta de Holanda” (PUC-Rio\Loyola, 2010).
De iguais forma e modo procedi ao indispensável cotejo dos elementos textuais de fontes secundárias – i.e.,  livros, seletas, coletâneas e antologias -- com aqueles das respectivas  primárias -- veiculados originalmente em periódicos, dentre o possível e disponível encontrar -- em outros dois de meus trabalhos capitais recentes(ambos a se tornarem livros, ambos ainda sem arregimentar editor) : “Machado de Assis: leitor, formador de leitor” -- -- que tendo como temática a leitura e leitores no Brasil, o livro e o escritor como seus instrumentos e veículos de fomento, com um viés sobre elementos  presentes e atuantes na vida literária e padrões de leitura do Brasil Oitocentista, reporta a Machado de Assis, sua formação literária e capacidade formativa de leitores, tendo como  escopo levantar, catalogar, mapear, identificar, examinar, e interpretar, as leituras  e influências literárias  de autores e de obras, brasileiros e estrangeiros, na formação intelectual de Machado , e em decorrência,também constituindo um retrato de inéditas amplitude e abrangência,das citações, alusões, referências a obras, textos e autores em todos seus romances, contos, poemas,teatro, traduções, crônicas, artigos e ensaios, críticas literárias, críticas teatrais, pareceres, prefácios, com as quais informou,formou e criou leitores no século XIX (e continua a fazer contemporaneamente e por todos os tempos); e “Machado de Assis e os portugueses : influências, convivências  e convergências literárias e culturais” – a reportar  às relações, interações, intertextualidades entre Machado de Assis e portugueses,  nestes considerados  em um viés, autores, obras e textos lusos, cronologica e literariamente  quer a ele anteriores quer contemporâneos, que exerceram decisiva influência na formação e vida literárias, constituíram leituras do escritor brasileiro (nos livros em sua biblioteca pessoal e aqueles objetos de consultas regulares em acervos e bibliotecas públicas e mesmo em livrarias), receberam citações, alusões, menções, referências e recorrências feitas por Machado de Assis nos romances,nos contos,nas crônicas, em artigos e ensaios,na poesia, na criação teatral, na tradução,na crítica literária,crítica teatral, prefácios, pareceres, correspondência; em outro viés, tanto  vínculos familiares laços conjugais, quanto personalidades lusas a ele contemporâneos, viventes no Brasil à época,que cada qual a seus grau, modo e teor, participaram e atuaram  ativamente na trajetória  pessoal,literária e profissional de Machado de Assis.
 Os dois estudos duas obras têm em comum oferecerem cenários e cenáculos completos das influências e orientações literárias e bibliográficas, vale dizer autores, obras e textos, brasileiros e estrangeiros, em Machado, decisivos para sua formação e biografia intelectual – no caso dos portugueses absolutamente cruciais, como nenhum outro, também politicamente, socialmente e pessoalmente, além de lingüística e literária; ambos  apresentam, de  modo inédito por sua completude, raisonnés de todas as leituras realizadas por Machado e todas citações,referências, alusões a autores, obras e textos praticadas por ele em seus escritos.
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Por sua vez, Arthur Azevedo, que sempre despertara em mim marcante atração sob o ponto de vista literário, propiciou-me, e tem propiciado, o desenvolvimento de um (intensivo ) programa de pesquisa e de produção de obras focados essencialmente na recolha e recuperação de nada menos do que 95% de suas crônicas e cerca de 25% de seus contos, até agora inéditos em livro ou outro meio, inclusive digital, somente publicados em periódicos de distintos períodos, abrangentes de um leque cronológico de 1872 a 1908 : dele, incorporei 5  contos inéditos, originalmente em O Mequetrefe, 1884, em A Rua,  1889,  no Almanaque do Comércio, 1887, na Kosmos, 1906, no Almanaque Brasileiro Garnier, 1910, no livro Contos de Arthur Azevedo : os “efêmeros” e inéditos (PUC\Loyola, 2009); e incluí um conto inédito, “Aventuras de um adolescente.” recolhido de A Vida Moderna, março 1887, incorporado ao livro e e-book que publiquei em 2012 Arthur Azevedo : Cenas da comédia humana - contos em claves temáticas (Imã Editorial);  49 crônicas, nunca divulgadas,abrigadas no livro Arthur Azevedo : crônicas (inéditas) em A Vida Moderna 1886-87 (ABL, 2013); 15 contos, no e-book Arthur Azevedo : contos  inéditos, em produção (Foglio\Objetiva); 20 contos e 20 crônicas no conjunto “Arthur Azevedo : Contos e crônicas inéditos em O Rio-Nu”.
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Atualmente, dedico-me a organizar quatro obras inerentes a Coelho Neto, duas delas por referência aos 150 anos de nascimento (1864) e 80 anos de morte (1934) : uma, reunindo seus últimos contos escritos em vida, a segunda,  reunindo suas crônicas tratando de política, veiculadas essencialmente em diversos periódicos em distintas épocas, a terceira abrigando crônicas somente publicadas em um jornal no período 1918-19; e mais uma obra,  reportando aos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, em 2015, organizando um conjunto, com alguns textos inéditos, de crônicas sobre a cidade. 

Ainda em 2014, por também reportar a 160 anos de publicação, em livro (1854) de Memórias de um sargento de milícias,  preparo livro especial que além do texto em si oriundo do livro incorporo estudos críticos e sobremodo, a título de cotejo pois diferente em diversos trechos, até mesmo de forma substancial, parte do escrito originalmente veiculado no Correio Mercantil, entre junho e agosto1852.

E também neste ano, debruçando-me numa obra de Lima Barreto que desde sempre me interessou e fascinou, pelo que contém de significantes e significados para a trajetória literária do escritor – “Clara dos Anjos”, escrita por ele em 3 versões, a primeira como esboço em 1904 (110 anos, portanto), a segunda em 1919 como conto, a terceira em forma de romance, publicada em livro somente em 1948, mas veiculada originalmente em folhetins na Revista Souza Cruz, 1920-21 : especial e preponderantemente nestes trabalho com fins de cotejo, interpretação e análise com relação às demais e delineamento do importante processo de inflexão em elementos da concepção e da produção literária de Lima.
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Em suma, constituintes, desde sempre, do cenáculo basilar de meus estudos e atuação literários, periódicos - e a consulta,investigação, pesquisas neles - fossem jornais, fossem revistas, fossem almanaques, especificamente dos oitocentos e das primeiras décadas dos novecentos brasileiros, permanentemente pautaram\pautam, pontuaram\ pontuam, permearam\permeiam, impulsionaram\impulsionam minhas idealizações, projetos e realizações em literatura brasileira.
MR
































sábado, 19 de julho de 2014

MORTE DE UM GÊNIO -- QUE EXISTIRÁ E FICARÁ PARA SEMPRE

Profundamente abalado, arrasado mesmo – nem conseguia escrever ontem, tento hoje -- com a morte do grande João Ubaldo Ribeiro, 18.07. todos que me conhecem sabem de quanto o adoro, como escritor e pessoa. Para mim, o maior romancista brasileiro de hoja, fora de qualquer dúvida – quem escreve “Viva o povo brasileiro”, “Sargento Getulio”, “O albatroz azul”, p. ex. possui estatura universal, comparável aos gênios da Literatura. [mas é dele uma esplêndida coletânea de contos e crônicas, inclusive de cunho paradidático, publicada em livro impresso e ebook ].
“Gênio”, era João, assim Glauber Rocha o definia com todas as letras. E com tal genialidade, era de uma simplicidade, um despojamento, uma autenticidade, até mesmo modéstia (muuuuita) e timidez. Acadêmico com todas as honras e fardões, era nas ruas do Leblon que o encontrávamos em sua melhor, e contumaz quase inseparável, indumentária : bermudas, chinelas – com aquela irresistível cara abolachada, o cinematográfico bigode, o eterno sorriso e um bom humor indestrutível. Os gênios, como se sabe, não precisam de pompas e circunstâncias, dispensam falsas elegâncias e rituais, vivem  e aparecem como são.
João era dono de vasta cultura, literária e de outras áreas (inclusive foi pós-graduado em Ciência Política, leu e discorria com absoluto conhecimento sobre os grandes ensaístas políticos, os chamados  intérpretes do Brasil): leu de tudo, desde cedo (conta sua iniciação por imposição severa do pai), por isso o excepcional embasamento literário – segundo ele, fundamentado nos escritores barrocos, Vieira à frente e  no cimo.
Seu estilo narrativo vinha daí : fluente, quase na oralidade, único, impermeável a modismos, a ‘modernidades’, certeiramente atemporal. Ler seus escritos era\é um prazer e um deleite somente proporcionado pelo baluartes de altíssimo quilate literário.
Sua riqueza cultural, aliás, extrapolava : viveu um tempo na Alemanha, daí dominava (e amava) perfeitamente o alemão [cá entre nós: foi ouvindo-o, primeiro numa memorável palestra, depois em conversas informais –sim, tive-as com ele, onde ? nas ruas do Leblon, claro...—que despertou em mim o fervor pelas língua e lingüística, literatura e cultura alemãs, como já expus aqui (ao tratar do Unheimlich, lembram ?)]; e para quem não sabe, ele pessoalmente verteu para o inglês todo o “Viva o povo brasileiro” para efeito de sua publicação pelo mundo !.
Assim era João – e suas deliciosas estórias e ‘causos’ pessoais. Divertíamos ouvindo-o declarar, eis um exemplo concreto de sua modéstia, sua autenticidade, que “ eu só podia mesmo ser escritor, não por vocação ou talento [sic] , mas por exclusão, não tinha aptidão para cantar nem tocar instrumento musical, não sabia dançar,  não jogava bem futebol, não consegui aprender a jogar xadrez, era péssimo em jogo de cartas, não dava pra nada – por isso fui escrever....  vejam só, a marca dos gênios é assim.
Foi-se, de corpo, mas fica permanente entre nós -- e no Olimpo da literatura brasileira --  de genialidade e um conjunto de atributos que nem todos possuem.

mr

19.07.2014