a propósito do colóquio "Real em revista", no Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro,de 28.07 a 01.01- em que notáveis estudiosos, pesquisadores e especialistas discorrem e dialogam sobre periódicos e literatura. o evento é concomitante à consecução do projeto de digitalização de periódicos dos séculos XVIII, XIX e XX nos acervos do RGPL.
estarei presente, e aponho aqui excerto de paper que, tempos atrás, escrevi para entidade acadêmica e um portal de literatura.
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Apontamentos
e anotações de ‘garimpos’ literários
Pesquisador dedicado a literatura brasileira
(oitocentista e parte novecentista), ensaísta, articulista, escritor ( autor de
11 livros impressos e 5 e-books), em
meus trabalhos – pesquisas, estudos; artigos,ensaios, palestras, conferências,
e mormente livros – priorizo, melhor dizer torno exclusivo, fazendo disso o
próprio leimotiv de minha atividade
intelectual e autoral., o approach da
diferenciação, no que se refere ao inédito, ou pouco conhecido e divulgado, ou
estudado e publicado, etc. -- investigados,pesquisados, identificados e
recolhidos os textos e escritos nessa
condição em suas respectivas fontes primárias , vale dizer nos periódicos –
jornais, revistas, almanaques, álbuns - dos respectivos tempos de suas
veiculações originais. O vasculhar e o ‘garimpo’ em fontes primárias constituem
per se o mote e força motriz que rege
e impulsiona meus projetos e programas literários.
Nos periódicos encontra-se, e neles
arregimento, o material básico, a matéria bruta – melhor : a matéria- prima (no mais elevado sentido) –
com que trabalho, a massa e argamassa com que construo meus escritos e obras.
Na
verdade, o vasculhar e garimpar permanentes, sistematizados, concatenados,
consistentes, em periódicos para efeito de meu trabalho literário coaduna-se
conceitualmente com os interesse e
atenção que desde sempre me despertou as
relações históricas entre os literatos e a imprensa.
A rigor, sempre me interessou e despertou
especial dedicação, como tópico marcante de estudo literário, as relações – quer no Brasil oitocentista
quer novecentista - entre literatos e escritores com a imprensa.
Foi - e é – assim, a caracterizar e enfatizar
tais vasculhar e garimpar permanentes,
sistematizados, concatenados, consistentes, em periódicos para descobrir e recolher inéditos ou raros de Machado de
Assis, de Lima Barreto; para investigar
inéditos ou pouco conhecidos de Castro Alves, Viriato Correa, Olavo
Bilac,Laurindo Rabelo, Francisca Julia, Inglês de Souza, Mario de Alencar,
Aluisio Azevedo, Raul Pompéia – os quais
comporão um conjunto (a ser livro) de “inéditos dispersos”[sic]; para
recolher inéditos de Arthur Azevedo, de Coelho Neto.
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De Machado de Assis, o conto até então
inédito, dado como desaparecido – tudo indica que por sua temática e elementos de trama plenos de
sutileza -- “Um para o outro”, publicado em A
Estação julho-agosto 1879, que incluí no livro Contos de Machado de Assis : relicários e raisonnés
(PUC-Rio\Loyola, 2008), veio de um longo trabalho investigativo desenvolvido
durante 6 anos – no caso, com foco exclusivo em uma única fonte primária, o
citado jornal.
--publicado
originalmente nos folhetins de 30 de
julho, 15 e 30 de agosto, 15 e30 de setembro e 15 de outubro de 1879 em A
Estação, o conto “Um para o
outro” , dado como perdido,jamais fora incluído até então em qualquer
antologia,coletânea,seleta ou edição em
volume.
Recentemente – a comprovar que em Machado nada
é definitivo e conclusivo, sempre há o que desvendar -- resgatei um pequeno conjunto de escritos
variados, apenas publicados em
periódicos como O Parahyba (1859), O Futuro (1863), Diário do Rio de Janeiro (1866), A Instrução Pública (1873; 1875), a saber : uma crônica, um editorial
(sim), um conto., duas traduções – organizados no livro “Machado de Assis :
inéditos em livro”, ora no prelo (ABL).
Ainda referente a Machado de Assis, debruço-me
há mais de um ano no jornal O Parahyba
– periódico de excepcional atuação e extrema importância para a história
jornalística e cultural brasileiras.
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Projeto que resgata e dá a
conhecimentos público, acadêmico,editorial e cultural um dos periódicos mais importantes – ainda
que pouquíssimo conhecido e estudado --
da história jornalística brasileira, fundado e publicado na cidade de Petrópolis,Rio de
Janeiro.
Reveste-se
de especial significância a produção de Machado de Assis no jornal : 4
poemas -- o primeiro deles, em abril de 1858, considerado “uma data da história
literária do Brasil”; outro,uma das primeiras do Machado tradutor, atividade
que desenvolveu com notável mestria por longo tempo); uma crônica(em junho de
1859, sob todos os ponto de vista histórica, por ser efetivamente a primeira de sua fértil safra de mais de 700
escritas durante 41 anos, e pelo vigoroso teor político)--todos, textos
importante como elementos, para estudos e registro historiográfico, dos primórdios
da criação machadiana..
O Parahyba, publicação bissemanal, fundado em
1857 pelo jornalista e escritor Augusto Emílio Zaluar, caracterizou-se por um
acervo de idéias "progressistas", abrigando, no campo político, teses
e posturas liberais pouco comuns então, como p. ex. a educação – o jornal
empenhava-se pela criação e extensão do ensino profissional (editorial de
janeiro de 1858 pregava: “A base de todo
nosso desenvolvimento está na instrução pública”) – questões
econômico-financeiras (a crise de 1858-59 gerou muitas matérias; um editorial
criticava “os capitalistas”), problemas fundiários e de colonização de
terras,além de aspectos ligados a costumes e comportamentos e tratamento de
temas pouco enfocados, alguns considerados ‘difíceis’ ou delicados(como p. ex.
a situação da mulher na sociedade). o jornal manteve-se até novembro de 1859,
vencido por dificuldades financeiras, apesar de contar com um grupo de
colaboradores bastante qualificado e de nomes, como Machado de Assis, Quintino Bocaiúva, Manuel Antonio de
Almeida,entre outros.
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De Machado, mapeei sua produção textual na
imprensa brasileira, oitocentista (de 1855 a 1899) e novecentista (1900- 1907), como
poeta, tradutor,contista, cronista,articulista, crítico literário, crítico
teatral,romancista, que me serve como
guia e bússola de investigações e pesquisas -- apontando rigorosamente a
seqüência cronológica de sua atuação e suas respectivas produções em cada periódico:
A Marmota / O Parahyba (Petrópolis- RJ) / Correio
Mercantil / O Espelho / Diário do Rio de Janeiro /Semana Ilustrada / A Primavera /Jornal do Povo/ O
Futuro/ A Saudade / O Binóculo/ Jornal das
Famílias / Biblioteca Brasileira / Almanaque
Ilustrado da Semana Ilustrada /Imprensa
Acadêmica (São Paulo) /Revista Mensal
da Sociedade de Ensaios Literários/ Revista
Contemporânea/ Semanário Maranhense (São Luiz- MA)/ Arquivo Literário/ Jornal da Tarde/ Jornal
do Comércio/ A
Reforma / Leitura Popular/ A Luz/ Arquivo Contemporâneo/ The New Word (Nova
Yok-EUA)/ A Instrução Pùblica/ O Globo/ A
Crença/ A Época/ Ilustração Brasileira/ Gazeta de Notícias/ O Cruzeiro
/ Revista
Brasileira/ A
Estação/ Almanaque da Gazeta de Notícias/ Gazeta
Literária / Gazeta Suburbana/ A
Ilustração / O
Poeta/ A
Semana /Diário de Notícias/ A Quinzena/ Almanaque
das Fluminenses/ O Álbum/ Revista
Brazileira/ A
Cigarra/ República/ A Bruxa/ Brasil-Portugal
/ O
Comércio de São Paulo /Almanaque Brasileiro Garnier
Aliás, para Machado o jornal – vis a vis o
teatro -- eram os dois elementos, ou as duas searas, fadadas a se constituírem
nas ‘barreiras’ a um processo ‘invasor’, a predominância de obras,textos e
autores e da cultura estrangeiras, culpabilizadas pela indigência da produção
artística e cultural brasileira, o jornal, “literatura
comum,universal,altamente democrática” exposto enfaticamente no artigo “O jornal e o livro”, no Correio
Mercantil, 10.01.1859.
.
Assim foi, p. ex.,
nos contos políticos, inclusos os chamados “argelinos” de Lima Barreto, os
quais publicados em apenas uma coletânea – a 2ª. edição de Histórias e sonhos, 1951 (e não na primeira, de 1920) --portanto
‘semi-inéditos’, conferi com os respectivos textos veiculados originalmente em Careta(1914; 1915; 1919; 1920;1921;1922;
1924 - postumamente) e no Correio da
Noite (1914), nos quais aliás encontrei, em algumas crônicas, trechos
diferentes dos publicados na coletânea, e apontando-os vis a vis uns com
outros incorporei-os no livro Lima Barreto e política : os “contos
argelinos” e outros textos (PUC-Rio\Loyola, 2010)
Do mesmo modo, com
os textos compondo o livro Escritos de Euclydes da Cunha: política,
ecopolítica, etnopolítica (PUC-Rio\Loyola, 2009), captados em livros e
seletas publicados, mas verificados um a um nos respectivos veículos originais,
nos jornais A Província de São Paulo,1888-89;
Democracia, 1890; O Estado de S. Paulo, 1892-97, 1900,
1904; Jornal do Commercio, 1907; O Paiz,1908; na revista Kosmos, 1906; no Almanaque Brasileiro Garnier, 1908.
Também com as
crônicas machadianas, de duas séries escritas para a Gazeta de Notícias, respectivamente em 1886 e em 1886-87,
publicadas em um livro e em uma coletânea (‘semi-inéditas’, pois) , que
devidamente confrontadas e verificadas com os originais nas fontes primárias,
foram reunidas no livro Crônicas de
Machado de Assis : “A + B” e “Gazeta de Holanda” (PUC-Rio\Loyola, 2010).
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Por sua vez, Arthur Azevedo, que sempre
despertara em mim marcante atração sob o ponto de vista literário,
propiciou-me, e tem propiciado, o desenvolvimento de um (intensivo ) programa
de pesquisa e de produção de obras focados essencialmente na recolha e
recuperação de nada menos do que 95% de suas crônicas e cerca de 25% de seus
contos, até agora inéditos em livro ou outro meio, inclusive digital, somente
publicados em periódicos de distintos períodos, abrangentes de um leque
cronológico de 1872 a
1908 : dele, incorporei 5 contos
inéditos, originalmente em O Mequetrefe,
1884, em A Rua, 1889,
no Almanaque do Comércio,
1887, na Kosmos, 1906, no Almanaque Brasileiro Garnier, 1910, no
livro Contos de Arthur Azevedo : os
“efêmeros” e inéditos (PUC\Loyola, 2009); e incluí um conto inédito,
“Aventuras de um adolescente.” recolhido de A
Vida Moderna, março 1887, incorporado ao livro e e-book que publiquei em
2012 Arthur Azevedo : Cenas da comédia
humana - contos em claves temáticas (Imã Editorial); 49 crônicas, nunca divulgadas,abrigadas no
livro Arthur Azevedo : crônicas (inéditas)
em A Vida Moderna 1886-87 (ABL, 2013); 15 contos, no e-book Arthur Azevedo : contos inéditos, em produção (Foglio\Objetiva);
20 contos e 20 crônicas no conjunto “Arthur Azevedo : Contos e crônicas
inéditos em O Rio-Nu”.
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Atualmente, dedico-me a organizar quatro obras
inerentes a Coelho Neto, duas delas por referência aos 150 anos de nascimento
(1864) e 80 anos de morte (1934) : uma, reunindo seus últimos contos escritos
em vida, a segunda, reunindo suas
crônicas tratando de política, veiculadas essencialmente em diversos periódicos
em distintas épocas, a terceira abrigando crônicas somente publicadas em um
jornal no período 1918-19; e mais uma obra,
reportando aos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, em 2015,
organizando um conjunto, com alguns textos inéditos, de crônicas sobre a
cidade.
Ainda em 2014, por também reportar a 160 anos
de publicação, em livro (1854) de Memórias
de um sargento de milícias, preparo
livro especial que além do texto em si oriundo do livro incorporo estudos
críticos e sobremodo, a título de cotejo pois diferente em diversos trechos,
até mesmo de forma substancial, parte do escrito originalmente veiculado no Correio Mercantil, entre junho e
agosto1852.
E também neste ano, debruçando-me numa obra de
Lima Barreto que desde sempre me interessou e fascinou, pelo que contém de
significantes e significados para a trajetória literária do escritor – “Clara
dos Anjos”, escrita por ele em 3 versões, a primeira como esboço em 1904 (110
anos, portanto), a segunda em 1919 como conto, a terceira em forma de romance,
publicada em livro somente em 1948, mas veiculada originalmente em folhetins na
Revista Souza Cruz, 1920-21 :
especial e preponderantemente nestes trabalho com fins de cotejo, interpretação
e análise com relação às demais e delineamento do importante processo de
inflexão em elementos da concepção e da produção literária de Lima.
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Em suma, constituintes, desde sempre, do
cenáculo basilar de meus estudos e atuação literários, periódicos - e a
consulta,investigação, pesquisas neles - fossem jornais, fossem revistas,
fossem almanaques, especificamente dos oitocentos e das primeiras décadas dos
novecentos brasileiros, permanentemente pautaram\pautam, pontuaram\ pontuam,
permearam\permeiam, impulsionaram\impulsionam minhas idealizações, projetos e
realizações em literatura brasileira.
MR