sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
Machado de Assis e os portugueses nos periódicos oitocentistas
artigo
Machado
de Assis e os portugueses : influências,
relações; atuação e convívio nos periódicos
Dentro
e na órbita dos estudos machadianos a que me dedico e desenvolvo, as relações e
interações entre Machado de Assis e os portugueses
adquiriram relevância ímpar, no que se refere às influências e
orientações literárias e bibliográficas, nacionais e estrangeiras (nestas, a
abrigar, a par dos portugueses, os franceses, os ingleses, os alemães, os
gregos, os latinos, espanhóis e italianos – a oferecer subsídios valiosos para
os estudos de Literatura Comparada) na formação intelectual de Machado, face a extrema, crucial
importância destes quer na vida pessoal quer
na construção da obra do escritor brasileiro; e mais : no embasamento e
no engajamento político, na fundamentação de seu pensamento ideológico – este,
na verdade, um aspecto pouquíssimo notado e conhecido e raramente estudado.
Convém aqui esclarecer o quanto de
significância para um ‘desenho’ de marcantes influências literárias,
intelectuais e culturais quer para a
formação do escritor quer para efeito de seu contributo à formação de
seu leitor (e,vale deduzir e induzir, para o leitorado brasileiro do século XIX
) – per se objeto e leitmotiv de um amplo, abrangente
trabalho, de características e elementos quase inéditos, inclusive formalizado
em estudo especial e livro a ser editado sob o título significativo de “A
formação intelectual de Machado de Assis : fontes para biografia intelectual” --
detêm as leituras, fosse nos livros de
sua posse mantidos na biblioteca pessoal fosse nas consultas realizadas por ele
em bibliotecas públicas e particulares,em gabinetes de leitura – mormente no
Real Gabinete Português de Leitura – em entidades e instituições, bem como as
citações e referências expressas em seus escritos. Os acurados, metódicos,
rigorosos levantamento e mapeamento desses elementos tornam-se obrigatórios para
constituição informativa e reflexiva de cenários e vetores das orientações estrangeiras, bem como das
influências brasileiras, em Machado de
Assis.
Notório fato: não obstante a preponderância
dos franceses nesse cenário de influências estrangeiras, os portugueses -- por
seus autores e obras lidos e consultados por Machado, naqueles que com ele
conviveram no Rio de Janeiro, naqueles intensamente citados, referenciados em
sua obra -- foram absolutamente decisivos na vida, quer pessoal, social e
conjugal, quer intelectual, em suas formação e constituição literárias e em sua
obra, ficcional e não-ficcional, na edificação de sua linguagem, escrita e
estilo narrativo,até mesmo no embasamento político-ideológico-filosófico de
Machado de Assis.
relações, vínculos, convívio
A solidez e a característica
genuína dos vínculos machadianos com os portugueses são nitidamente expressas
por elementos que se estendem de sua
própria origem familiar aos fortes e intensos laços de amizade com lusitanos
então residentes no Rio de Janeiro, de seu casamento às leituras que lhe acompanharam por toda a vida
,fosse nos acervos públicos por ele regularmente freqüentados fosse nos livros
em sua biblioteca pessoal, de sua formação literária e cultural às inúmeras (e
significativas) citações,alusões, referências e recorrências a autores e obras
lusitanos em sua ficção e não-ficção.
No âmbito de seus vínculos
familiares e conjugais, emerge a constatação do quanto mulheres de origem
portuguesa constituíram-se não apenas em objeto de especial afeto por parte de
Machado – até porque exerceram marcante papel em diversos momentos de sua vida
-- mas sobremodo contribuíram para a
construção de sua linguagem, no que tange a prosódia, sintaxe, léxico e semântica, o que por extensão
incorporou-se à própria linguagem
literária machadiana.
Sob outro viés, vale a pena
considerar que, em parte decorrente de desses originários vínculos
familiares, ao mesmo tempo guiado por um
vetor sob o escopo maior de sua iniciação no embasamento literário-cultural,
Machado desde cedo passou a conhecer autores e obras lusitanos, especialmente
os clássicos da língua. Jovem, de parcos recursos financeiros, valeu-se na
freqüência regular, contumaz a bibliotecas públicas e privadas, e de um acurado
autodidatismo em suas leituras de formação, realizadas mormente no Real
Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro (o preponderante), também no Liceu Literário Português, na
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, no Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro
Com o tempo, foi formando
gradativamente – e consistentemente – sua biblioteca pessoal, na qual se não
majoritários em quantidade autores e obras portugueses se fizeram notar por
parâmetros de alta representatividade literário-bibliográfica.
No extenso painel de seus
interesses literários e suas leituras, Machado de Assis constituiu-se , per se, em elo decisivo de contato entre as culturas brasileira e
portuguesa na segunda metade do séc. XIX : os
vínculos familiares de origem, bem como os de eleição afetiva e de
interesse intelectual que manteve ao longo da vida com membros da colônia
portuguesa radicados no Rio de Janeiro,
faziam o escritor circular dentro de um ambiente luso-brasileiro,de marcantes ecos em seus próprios escritos.
É extenso, como extremamente
significativo, o elenco de fraternas amizades cultivadas, desde sua juventude,
com escritores portugueses recém transferidos para o Rio de Janeiro (estima-se
que em 1852, por exemplo, viviam cerca
de 30 mil na cidade), atraídos pelo ambiente acolhedor e de alta efervescência cultural, mas também de
cunho filosófico-ideológico, aqui criado desde 1837 por aqueles que,
afastando-se do levante do Porto, inclusive fundaram o Real Gabinete Português
de Leitura.
Pelos anos 1850 encontravam-se
radicados no Rio de Janeiro literatos como Francisco Gonçalves Braga, Augusto
Emílio Zaluar, Carlos Augusto de Sá, Faustino Xavier de Novais, Francisco Ramos
Paz, Ernesto Cybrão, Reinaldo Carlos Montoro, Manuel de Melo, Pedro A. Garção.
Todos de alguma influência nas rodas literárias e nos ambientes letrados da
capital brasileira.
Desse elenco, destaque absoluto –
pelas decisivas, preponderantes influências em Machado – a Zaluar e Xavier de
Novais.
Todos esses autores encontram-se
de alguma forma presentes nos escritos de Machado, atestando estreita
interlocução literária – que, de resto, atesta o clamoroso fato de que nenhum
escritor ou literato brasileiro, à época, aproximou-se e identificou-se de tal forma,e
essência, como Machado de Assis junto aos portugueses.
Com efeito, foi exatamente por
conta da fértil, profícua, intensa
convivência física com esses que Machado tinha como “amigos fraternos”
que se realça e enfatiza – como se asseverou
anteriormente – a importância crucial dos portugueses muito maior do que a dos
franceses,ingleses, só para citar dois exemplos de preponderantes influências
em Machado
Relacionamentos, convivências e
atividades intelectuais em comum exercidos e praticados em torno, primeiramente
– ainda que em escala incipiente – da Sociedade Petalógica (criada e
incentivada por Paula Brito),em 1854-55,
na qual estavam Braga,Zaluar e Garção;
em seguida no escritório de Caetano Filgueiras -- que escreveria o famoso
prefácio à 1ª. edição da coletânea poética Crisálidas,
de Machado -- onde inclusive constituiu-se o denominado “Grupo dos Cinco”,
composto de Filgueiras, Braga,.os brasileiros Casimiro de Abreu --que vivera
bom tempo em Lisboa - Cândido Macedo Junior,e Machado, em 1857; depois, um novo grupo,unidos por traços
ideológicos comuns,de elementos democráticos e liberais, a fornecerem o
fermento para uma nova postura política de Machado (que a sustentaria daí por diante, ao longo do
tempo) – tendo como figura central o
proscrito francês Charles Ribeyrolles, e onde estreitou seu relacionamento com
Augusto Emilio Zaluar, Reinaldo Carlos Montoro,Francisco Ramos Paz, Remigio de
Sena Pereira (estes três iriam traduzir, ao lado de Machado e Manuel Antonio de
Almeida, a obra de Ribeyrolles, sob supervisão e acompanhamento deste, Le Brèsil Pittoresque)-- todos mais
tarde participantes e atuantes, com
Machado, no (importantíssimo) jornal O Parahyba, de Petrópolis, e no Correio Mercantil
Mas também exercidos, os
relacionamentos e convivências, nos saraus literários; nas reuniões no Grêmio
Literário Português, no Retiro Literário Português (uma dissidência do Grêmio),
na Arcádia Fluminense (onde, em 1864, Machado apresentou sua peça “Os deuses de
casaca”); e ao ensejo de dois eventos bastante
significativos : o centenário (aliás, mais comemorado no Brasil que em
Portugal) de nascimento de Bocage, em
1865, e o tricentenário de nascimento de Camões, 1880, iniciativa do Gabinete
Português de Leitura (acontecimento inclusive de intensa participação popular
no Rio de Janeiro) – quando Machado apresentou a peça,escrita especialmente
para a ocasião, “Tu,só tu puro amor”
-- nos periódicos oitocentistas
Sobretudo e sobremodo a intensa e
decisiva convivência de Machado com os literatos portugueses deu-se e
dinamizou-se nos jornais oitocentistas nos quais atuavam e colaboravam, sob distintos graus de
regularidade. Assim :
* Marmota Fluminense- sob essa denominação de 1855 a 1857, quando
passou a A Marmota -- em 1855-56 (que
publicava transcrições de obras portuguesas, como “Folhas caídas”, de
Garret,poemas de João de Lemos e Antonio Dinis, e outros);
* Correio Mercantil,.1858-59, no qual
Machado conheceu Faustino Xavier de Novais, e publicou,entre outros
textos, o artigo “O Jornal e o Livro”, marco
de um posicionamento dialético-político machadiano, cuja (escreveu ele) “idéia
pertenceu ao sr. Reinaldo Carlos [Montoro]” –
artigo contendo trecho de
manifestação de clara adesão aos
princípios democratas e republicanos;[1]
;
* O Parahyba, de Petrópolis, 1858-59 (jornal progressista, avançado
para seu tempo, de relevância ímpar na história jornalística,editorial e
literária brasileiras – até aqui não devidamente estudado[2]
), criado por Zaluar, editorialista e seu redator-chefe,e contando com Carlos
Montoro, Ramos Paz e Machado ;
* Diário do Rio de Janeiro, 1861-62 – nele (com Machado), Ramos Paz e Sena Pereira;
* O Futuro, 1862-63, criado e dirigido por Faustino Xavier de Novais,
contando com Zaluar, Braga, Sena Pereira, Carlos Montoro, Cybrão, Ramos Paz,
Manuel de Melo; o primeiro – e
pode-se dizer principal, se não único -- jornal explicita e essencialmente
luso-brasileiro, de resto expresso formalmente no texto de editorial de seu 1º.número, a 15.09.1862, e que inclusive abrigou crônicas machadianas de
teor político (e de outros timbres)
A rigor, o período de cerca de oito anos na vida de
Machado, desde meados da década de 1850,
marcado por atuações nesses periódicos, em todos eles ‘cercado’ de
portugueses, constitui-se de suma relevância – não só cultural, também e especialmente filosófica e
mesmo ideologicamente -- na construção do pensamento, idéias, opiniões,
comentários, criação, produção e manifestações literárias do escritor, sob um
processo decisivo de assunção de personalidade e independência de pensamento
não submisso a doutrinas e dogmas.
Machado, formado
bibliograficamente por muitos portugueses, em leituras e consultas desde o
início, e convivente dia a dia com literatos lusos, chegava aos 24 anos (1863), lido, respeitado, requisitado,
apreciado, extremamente dedicado a difundir e propagar sua obra literária, à
época já composta de crônicas, poemas,contos,peças teatrais, crítica teatral e
literária, um literato bastante respeitado,requisitado, apreciado,
‘amadurecido’ e em evolução.
os portugueses formadores do Machado escritor
Primeiramente,
por meio dos autores e obras clássicos, quer
antigos e canônicos quer contemporâneos a ele, dos quais foi Machado um
persistente leitor, entre aqueles
armazenados em sua biblioteca e aqueles consultados, uns regularmente
outros especifica e episodicamente, nos acervos públicos e privados que
freqüentava.
Às
intensas e perenes leituras e consultas nas bibliotecas e acervos
bibliográficos e à estreita e criativa convivência com literatos lusos
estabelecidos no Rio de Janeiro, acoplam-se, por sua extrema significância no
retrato dessas relações, as profusas
citações e recorrências aos portugueses em toda a obra machadiana
(devidamente mapeadas e formalizadas em raisonnés[3])
– o que, torno a enfatizar, identificam os teores,graus e influências de
autores,obras e textos lusos em sua
genealogia literária concomitantemente apontam para vetores na constituição,hábitos,gostos e perfis de
leitores a sua época[4],
vale dizer serem vistas como fontes de
informação e conhecimento dessas referências autorais e bibliográficas a seus
leitores, por extensão ao leitor brasileiro de seu tempo : no que registra e
faz aparecer em seus textos, Machado os ‘apresenta’ e transmite aos que o lêem.
Há um claro, relevante processo de ‘transferência’ e transmissão de
conhecimento literário, bibliográfico,cultural, histórico, político, etc, de
insofismável formação cognitiva e de modulação de padrões de leitura da época.
Neste
particular, quais autores portugueses, a par de exercerem marcante influência
em sua formação literária, Machado de
Assis informou e difundiu junto a seus leitores ? hegemônico foi Luis de Camões (quem, de resto, pode-se
considerar, no cômputo geral das menções e referências de Machado, somente
superado por Shakespeare) -- e Os Lusíadas, a obra mais citada por Machado depois da Bíblia ; e mais Almeida Garret,
Alexandre Herculano,Bocage, Antonio F. de Castilho, Antonio .Dinis da Cruz e
Silva, Nicolau Tolentino.
O
papel e influências de poetas
portugueses na formação de Machado de
Assis, inserido de resto na própria tradição poética luso-brasileira da época,
têm exemplos cristalinos em Camões,Garret e Castilho, que marcaram forte e intensamente a poética
machadiana, bem como um daqueles conviventes no Rio de Janeiro, Francisco
Gonçalves Braga , a quem Machado designou como “meu primeiro mestre”. A se
destacar também as influências significativas de Alexandre Herculano – ao lado
de Garret, considerado por Machado como modelo na prosa -- e João de Barros na
constituição de seu conhecimento histórico.
Almeida
Garret, mister enfatizar, a par da acentuada influência temática e estilística
na poética machadiana, teve seu “Bosquejo da História da Poesia e Língua
Portuguesa”, de 1827, estudo fundamental para a história da literatura no
Brasil, a apontar caminhos da emancipação literária – o que viria a se
constituir na égide do movimento deflagrado na década de 1830 por Gonçalves de
Magalhães e José de Alencar, em prol de um “nacionalismo literário brasileiro”
– como forte inspiração para as
reflexões de Machado acerca da literatura brasileira, expressas nos
ensaios “O passado, o presente e o futuro da literatura brasileira”(1858),
“Instinto de nacionalidade”(1873) e “A nova geração”(1879), e sua obra Viagens da minha terra como uma das
peças que moldaram,no teor da sátira menipéica-luciânica (ao lado das obras de
Sterne,Diderot e Xavier de Maistre), a
célebre inflexão machadiana no início da década de 1880.
A
se arrolar ainda Camilo Castelo Branco, que inspirou Machado em certos recursos
narrativos, como as digressões metaliterárias, as interferências do narrador em
diálogo com o leitor, o uso da ironia (já foram apontados elementos da
novela Coração ,cabeça e estômago: uma estética da ambiguidade, de Camilo,
em Memórias póstumas de Brás Cubas)
E
de um português que não era escritor ou literato, Furtado Coelho, que produtor teatral propiciou a Machado , porque
as levava a cena, o incrementar de sua importantíssima atividade de tradutor
(que Mario de Alencar, considerando-o “um dos maiores tradutores
brasileiros”, lamentava tivesse Machado interrompido ).
_______________
Por
fim, uma reflexão a respeito de questão que muito me instiga, e julgo
pertinente. Machado – como representante proeminente do movimento de
‘nacionalização literária’ brasileira -- parece ter sido o primeiro, se não o
único a se aproximar e interagir aos portugueses: não se tem referência, por
exemplo, das presença e atuação, nesse
sentido, de Gonçalves de Magalhães, José de Alencar e dos demais românticos
empenhados,no Brasil, nesse projeto (que se dava simultaneamente em Portugal,
convém frisar) de afirmação de nacionalidade literária e cultural..
Não
existem dúvidas de quanto ambíguos, ou no mínimo reticentes, postaram-se os
românticos brasileiros com relação ao legado lingüístico e cultural dos
portugueses: mesmo tendo em conta a importância, ou necessidade, de
estabelecer, e sedimentar, traços
diferenciadores do novo país depois da independência de 1822, o curioso – e
contraditório – é que desenrolou-se um processo de obediência e
preservação dos padrões lingüísticos,sintáticos,gramaticais,léxicos portugueses
como uma espécie de atestado de qualificação cultural e ‘civilidade’ intelectual. Isto é, intentavam
os primeiros românticos brasileiros se constituírem nos agentes a afirmação
nacionalista brasileira, no âmbito cultural, sem no entanto romperem com o arcabouço lusitano... E por
outro lado sem assumirem, e praticarem, como o foi para e em Machado de Assis, lídimas, eficazes, indispensáveis relações e
interações -- que só embasaram,
consolidaram, consubstanciaram uma notável constituição intelectual.
.
.
.
[1] Texto que oferece aos
estudiosos amplo arsenal de elementos para uma reflexão, até mesmo de cunho
‘revisionista’, acerca da (até então e,de resto, quase consensualmente tida)
índole e perfil ‘monarquista-liberal’ machadianos.
“(Graças ao jornal...)
completa-se a emancipação da
inteligência e começa a dos povos.O direito da força,o direito da autoridade
bastarda consubstanciada nas individualidades dinásticas vai cair. Os reis já
não têm púrpura,envolvem-se nas constituições. As constituições são os tratados de paz
celebrados entre a potência popular e a potência monárquica” [“O Jornal e o
Livro”, in Correio Mercantil, Rio de Janeiro :10-12.01.1859].
[2] Encontro-me em trabalho
de finalização de livro a respeito de O
Parahyba.
[3] No estudo a que me
dedico, acerca das influências e orientações estrangeiras em Machado de Assis, foram
construídos raisonnés de todas as
citações e referências lusitanas em todas as obras – gênero por gênero --
machadianas , assim como os autores,obras e textos constantes de sua biblioteca
pessoal e aqueles lidos e consultados em acervos públicos.
[4] Como mencionado, a
constituição intelectual de Machado, assim como
sua capacidade formativa de leitores – aos quais transmitiu e
‘transferiu’, por via das citações e alusões, os elementos dessa constituição – é tema e conteúdo do estudo,
a ser livro, “A formação literária de Machado de Assis : fontes para biografia
intelectual”.
.
.
artigo
Machado
de Assis e os portugueses : influências,
relações; atuação e convívio nos periódicos oitocentistas
“(...) Portugal não teve [apenas] influência, ele está presente [no
Brasil]. Os portugueses suscitam
desdobramentos delicados (...) ;são
eles próprios engrenagens vivas e sensíveis. Trata-se de recolher os elementos
que permitirão escrever a história interatlântica do mundo lusofalante no
século XIX. Em conseqüência,o conhecimento do século XIX português e
especialmente a transição do romantismo ao realismo serão bem esclarecidos,já
que as duas literaturas vivem em simbiose.”
J.M-Massa, A juventude de Machado
de Assis. Rio de Janeiro: INL, 1965, p. 630
Dentro e na órbita dos estudos machadianos a
que me dedico e desenvolvo, as relações
e interações entre Machado de Assis e os
portugueses adquiriram relevância ímpar, no que se refere às influências e
orientações literárias e bibliográficas, nacionais e estrangeiras (nestas, a
abrigar, a par dos portugueses, os franceses, os ingleses, os alemães, os
gregos, os latinos, espanhóis e italianos – a oferecer subsídios valiosos para
os estudos de Literatura Comparada) na formação intelectual de Machado, face a extrema, crucial
importância destes quer na vida pessoal quer
na construção da obra do escritor brasileiro; e mais : no embasamento e
no engajamento político, na fundamentação de seu pensamento ideológico – este,
na verdade, um aspecto pouquíssimo notado e conhecido e raramente estudado.
Convém aqui esclarecer o quanto de
significância para um ‘desenho’ de marcantes influências literárias,
intelectuais e culturais quer para a
formação do escritor quer para efeito de seu contributo à formação de
seu leitor (e,vale deduzir e induzir, para o leitorado brasileiro do século XIX
) – per se objeto e leitmotiv de um amplo, abrangente
trabalho, de características e elementos quase inéditos, inclusive formalizado
em estudo especial e livro a ser editado sob o título significativo de “A
formação intelectual de Machado de Assis : fontes para biografia intelectual” --
detêm as leituras, fosse nos livros de
sua posse mantidos na biblioteca pessoal fosse nas consultas realizadas por ele
em bibliotecas públicas e particulares,em gabinetes de leitura – mormente no
Real Gabinete Português de Leitura – em entidades e instituições, bem como as
citações e referências expressas em seus escritos. Os acurados, metódicos,
rigorosos levantamento e mapeamento desses elementos tornam-se obrigatórios para
constituição informativa e reflexiva de cenários e vetores das orientações estrangeiras, bem como das
influências brasileiras, em Machado de
Assis.
Notório fato: não obstante a preponderância
dos franceses nesse cenário de influências estrangeiras, os portugueses -- por
seus autores e obras lidos e consultados por Machado, naqueles que com ele
conviveram no Rio de Janeiro, naqueles intensamente citados, referenciados em
sua obra -- foram absolutamente decisivos na vida, quer pessoal, social e
conjugal, quer intelectual, em suas formação e constituição literárias e em sua
obra, ficcional e não-ficcional, na edificação de sua linguagem, escrita e
estilo narrativo,até mesmo no embasamento político-ideológico-filosófico de
Machado de Assis.
relações, vínculos, convívio
A solidez e a característica
genuína dos vínculos machadianos com os portugueses são nitidamente expressas
por elementos que se estendem de sua
própria origem familiar aos fortes e intensos laços de amizade com lusitanos
então residentes no Rio de Janeiro, de seu casamento às leituras que lhe acompanharam por toda a vida
,fosse nos acervos públicos por ele regularmente freqüentados fosse nos livros
em sua biblioteca pessoal, de sua formação literária e cultural às inúmeras (e
significativas) citações,alusões, referências e recorrências a autores e obras
lusitanos em sua ficção e não-ficção.
No âmbito de seus vínculos
familiares e conjugais, emerge a constatação do quanto mulheres de origem
portuguesa constituíram-se não apenas em objeto de especial afeto por parte de
Machado – até porque exerceram marcante papel em diversos momentos de sua vida
-- mas sobremodo contribuíram para a
construção de sua linguagem, no que tange a prosódia, sintaxe, léxico e semântica, o que por extensão
incorporou-se à própria linguagem
literária machadiana.
Sob outro viés, vale a pena
considerar que, em parte decorrente de desses originários vínculos
familiares, ao mesmo tempo guiado por um
vetor sob o escopo maior de sua iniciação no embasamento literário-cultural,
Machado desde cedo passou a conhecer autores e obras lusitanos, especialmente
os clássicos da língua. Jovem, de parcos recursos financeiros, valeu-se na
freqüência regular, contumaz a bibliotecas públicas e privadas, e de um acurado
autodidatismo em suas leituras de formação, realizadas mormente no Real
Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro (o preponderante), também no Liceu Literário Português, na
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, no Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro
Com o tempo, foi formando
gradativamente – e consistentemente – sua biblioteca pessoal, na qual se não
majoritários em quantidade autores e obras portugueses se fizeram notar por
parâmetros de alta representatividade literário-bibliográfica.
No extenso painel de seus
interesses literários e suas leituras, Machado de Assis constituiu-se , per se, em elo decisivo de contato entre as culturas brasileira e
portuguesa na segunda metade do séc. XIX : os
vínculos familiares de origem, bem como os de eleição afetiva e de
interesse intelectual que manteve ao longo da vida com membros da colônia
portuguesa radicados no Rio de Janeiro,
faziam o escritor circular dentro de um ambiente luso-brasileiro,de marcantes ecos em seus próprios escritos.
É extenso, como extremamente
significativo, o elenco de fraternas amizades cultivadas, desde sua juventude,
com escritores portugueses recém transferidos para o Rio de Janeiro (estima-se
que em 1852, por exemplo, viviam cerca
de 30 mil na cidade), atraídos pelo ambiente acolhedor e de alta efervescência cultural, mas também de
cunho filosófico-ideológico, aqui criado desde 1837 por aqueles que,
afastando-se do levante do Porto, inclusive fundaram o Real Gabinete Português
de Leitura.
Pelos anos 1850 encontravam-se
radicados no Rio de Janeiro literatos como Francisco Gonçalves Braga, Augusto
Emílio Zaluar, Carlos Augusto de Sá, Faustino Xavier de Novais, Francisco Ramos
Paz, Ernesto Cybrão, Reinaldo Carlos Montoro, Manuel de Melo, Pedro A. Garção.
Todos de alguma influência nas rodas literárias e nos ambientes letrados da
capital brasileira.
Desse elenco, destaque absoluto –
pelas decisivas, preponderantes influências em Machado – a Zaluar e Xavier de
Novais.
Todos esses autores encontram-se
de alguma forma presentes nos escritos de Machado, atestando estreita
interlocução literária – que, de resto, atesta o clamoroso fato de que nenhum
escritor ou literato brasileiro, à época, aproximou-se e identificou-se de tal forma,e
essência, como Machado de Assis junto aos portugueses.
Com efeito, foi exatamente por
conta da fértil, profícua, intensa
convivência física com esses que Machado tinha como “amigos fraternos”
que se realça e enfatiza – como se asseverou
anteriormente – a importância crucial dos portugueses muito maior do que a dos
franceses,ingleses, só para citar dois exemplos de preponderantes influências
em Machado
Relacionamentos, convivências e
atividades intelectuais em comum exercidos e praticados em torno, primeiramente
– ainda que em escala incipiente – da Sociedade Petalógica (criada e
incentivada por Paula Brito),em 1854-55,
na qual estavam Braga,Zaluar e Garção;
em seguida no escritório de Caetano Filgueiras -- que escreveria o famoso
prefácio à 1ª. edição da coletânea poética Crisálidas,
de Machado -- onde inclusive constituiu-se o denominado “Grupo dos Cinco”,
composto de Filgueiras, Braga,.os brasileiros Casimiro de Abreu --que vivera
bom tempo em Lisboa - Cândido Macedo Junior,e Machado, em 1857; depois, um novo grupo,unidos por traços
ideológicos comuns,de elementos democráticos e liberais, a fornecerem o
fermento para uma nova postura política de Machado (que a sustentaria daí por diante, ao longo do
tempo) – tendo como figura central o
proscrito francês Charles Ribeyrolles, e onde estreitou seu relacionamento com
Augusto Emilio Zaluar, Reinaldo Carlos Montoro,Francisco Ramos Paz, Remigio de
Sena Pereira (estes três iriam traduzir, ao lado de Machado e Manuel Antonio de
Almeida, a obra de Ribeyrolles, sob supervisão e acompanhamento deste, Le Brèsil Pittoresque)-- todos mais
tarde participantes e atuantes, com
Machado, no (importantíssimo) jornal O Parahyba, de Petrópolis, e no Correio Mercantil
Mas também exercidos, os
relacionamentos e convivências, nos saraus literários; nas reuniões no Grêmio
Literário Português, no Retiro Literário Português (uma dissidência do Grêmio),
na Arcádia Fluminense (onde, em 1864, Machado apresentou sua peça “Os deuses de
casaca”); e ao ensejo de dois eventos bastante
significativos : o centenário (aliás, mais comemorado no Brasil que em
Portugal) de nascimento de Bocage, em
1865, e o tricentenário de nascimento de Camões, 1880, iniciativa do Gabinete
Português de Leitura (acontecimento inclusive de intensa participação popular
no Rio de Janeiro) – quando Machado apresentou a peça,escrita especialmente
para a ocasião, “Tu,só tu puro amor”
-- nos periódicos oitocentistas
Sobretudo e sobremodo a intensa e
decisiva convivência de Machado com os literatos portugueses deu-se e
dinamizou-se nos jornais oitocentistas nos quais atuavam e colaboravam, sob distintos graus de
regularidade. Assim :
* Marmota Fluminense- sob essa denominação de 1855 a 1857, quando
passou a A Marmota -- em 1855-56 (que
publicava transcrições de obras portuguesas, como “Folhas caídas”, de
Garret,poemas de João de Lemos e Antonio Dinis, e outros);
* Correio Mercantil,.1858-59, no qual
Machado conheceu Faustino Xavier de Novais, e publicou,entre outros
textos, o artigo “O Jornal e o Livro”, marco
de um posicionamento dialético-político machadiano, cuja (escreveu ele) “idéia
pertenceu ao sr. Reinaldo Carlos [Montoro]” –
artigo contendo trecho de
manifestação de clara adesão aos
princípios democratas e republicanos;[1]
;
* O Parahyba, de Petrópolis, 1858-59 (jornal progressista, avançado
para seu tempo, de relevância ímpar na história jornalística,editorial e
literária brasileiras – até aqui não devidamente estudado[2]
), criado por Zaluar, editorialista e seu redator-chefe,e contando com Carlos
Montoro, Ramos Paz e Machado ;
* Diário do Rio de Janeiro, 1861-62 – nele (com Machado), Ramos Paz e Sena Pereira;
* O Futuro, 1862-63, criado e dirigido por Faustino Xavier de Novais,
contando com Zaluar, Braga, Sena Pereira, Carlos Montoro, Cybrão, Ramos Paz,
Manuel de Melo; o primeiro – e
pode-se dizer principal, se não único -- jornal explicita e essencialmente
luso-brasileiro, de resto expresso formalmente no texto de editorial de seu 1º.número, a 15.09.1862, e que inclusive abrigou crônicas machadianas de
teor político (e de outros timbres)
A rigor, o período de cerca de oito anos na vida de
Machado, desde meados da década de 1850,
marcado por atuações nesses periódicos, em todos eles ‘cercado’ de
portugueses, constitui-se de suma relevância – não só cultural, também e especialmente filosófica e
mesmo ideologicamente -- na construção do pensamento, idéias, opiniões,
comentários, criação, produção e manifestações literárias do escritor, sob um
processo decisivo de assunção de personalidade e independência de pensamento
não submisso a doutrinas e dogmas.
Machado, formado
bibliograficamente por muitos portugueses, em leituras e consultas desde o
início, e convivente dia a dia com literatos lusos, chegava aos 24 anos (1863), lido, respeitado, requisitado,
apreciado, extremamente dedicado a difundir e propagar sua obra literária, à
época já composta de crônicas, poemas,contos,peças teatrais, crítica teatral e
literária, um literato bastante respeitado,requisitado, apreciado,
‘amadurecido’ e em evolução.
os portugueses formadores do Machado escritor
Primeiramente,
por meio dos autores e obras clássicos, quer
antigos e canônicos quer contemporâneos a ele, dos quais foi Machado um
persistente leitor, entre aqueles
armazenados em sua biblioteca e aqueles consultados, uns regularmente
outros especifica e episodicamente, nos acervos públicos e privados que
freqüentava.
Às
intensas e perenes leituras e consultas nas bibliotecas e acervos
bibliográficos e à estreita e criativa convivência com literatos lusos
estabelecidos no Rio de Janeiro, acoplam-se, por sua extrema significância no
retrato dessas relações, as profusas
citações e recorrências aos portugueses em toda a obra machadiana
(devidamente mapeadas e formalizadas em raisonnés[3])
– o que, torno a enfatizar, identificam os teores,graus e influências de
autores,obras e textos lusos em sua
genealogia literária concomitantemente apontam para vetores na constituição,hábitos,gostos e perfis de
leitores a sua época[4],
vale dizer serem vistas como fontes de
informação e conhecimento dessas referências autorais e bibliográficas a seus
leitores, por extensão ao leitor brasileiro de seu tempo : no que registra e
faz aparecer em seus textos, Machado os ‘apresenta’ e transmite aos que o lêem.
Há um claro, relevante processo de ‘transferência’ e transmissão de
conhecimento literário, bibliográfico,cultural, histórico, político, etc, de
insofismável formação cognitiva e de modulação de padrões de leitura da época.
Neste
particular, quais autores portugueses, a par de exercerem marcante influência
em sua formação literária, Machado de
Assis informou e difundiu junto a seus leitores ? hegemônico foi Luis de Camões (quem, de resto, pode-se
considerar, no cômputo geral das menções e referências de Machado, somente
superado por Shakespeare) -- e Os Lusíadas, a obra mais citada por Machado depois da Bíblia ; e mais Almeida Garret,
Alexandre Herculano,Bocage, Antonio F. de Castilho, Antonio .Dinis da Cruz e
Silva, Nicolau Tolentino.
O
papel e influências de poetas
portugueses na formação de Machado de
Assis, inserido de resto na própria tradição poética luso-brasileira da época,
têm exemplos cristalinos em Camões,Garret e Castilho, que marcaram forte e intensamente a poética
machadiana, bem como um daqueles conviventes no Rio de Janeiro, Francisco
Gonçalves Braga , a quem Machado designou como “meu primeiro mestre”. A se
destacar também as influências significativas de Alexandre Herculano – ao lado
de Garret, considerado por Machado como modelo na prosa -- e João de Barros na
constituição de seu conhecimento histórico.
Almeida
Garret, mister enfatizar, a par da acentuada influência temática e estilística
na poética machadiana, teve seu “Bosquejo da História da Poesia e Língua
Portuguesa”, de 1827, estudo fundamental para a história da literatura no
Brasil, a apontar caminhos da emancipação literária – o que viria a se
constituir na égide do movimento deflagrado na década de 1830 por Gonçalves de
Magalhães e José de Alencar, em prol de um “nacionalismo literário brasileiro”
– como forte inspiração para as
reflexões de Machado acerca da literatura brasileira, expressas nos
ensaios “O passado, o presente e o futuro da literatura brasileira”(1858),
“Instinto de nacionalidade”(1873) e “A nova geração”(1879), e sua obra Viagens da minha terra como uma das
peças que moldaram,no teor da sátira menipéica-luciânica (ao lado das obras de
Sterne,Diderot e Xavier de Maistre), a
célebre inflexão machadiana no início da década de 1880.
A
se arrolar ainda Camilo Castelo Branco, que inspirou Machado em certos recursos
narrativos, como as digressões metaliterárias, as interferências do narrador em
diálogo com o leitor, o uso da ironia (já foram apontados elementos da
novela Coração ,cabeça e estômago: uma estética da ambiguidade, de Camilo,
em Memórias póstumas de Brás Cubas)
E
de um português que não era escritor ou literato, Furtado Coelho, que produtor teatral propiciou a Machado , porque
as levava a cena, o incrementar de sua importantíssima atividade de tradutor
(que Mario de Alencar, considerando-o “um dos maiores tradutores
brasileiros”, lamentava tivesse Machado interrompido ).
_______________
Por
fim, uma reflexão a respeito de questão que muito me instiga, e julgo
pertinente. Machado – como representante proeminente do movimento de
‘nacionalização literária’ brasileira -- parece ter sido o primeiro, se não o
único a se aproximar e interagir aos portugueses: não se tem referência, por
exemplo, das presença e atuação, nesse
sentido, de Gonçalves de Magalhães, José de Alencar e dos demais românticos
empenhados,no Brasil, nesse projeto (que se dava simultaneamente em Portugal,
convém frisar) de afirmação de nacionalidade literária e cultural..
Não
existem dúvidas de quanto ambíguos, ou no mínimo reticentes, postaram-se os
românticos brasileiros com relação ao legado lingüístico e cultural dos
portugueses: mesmo tendo em conta a importância, ou necessidade, de
estabelecer, e sedimentar, traços
diferenciadores do novo país depois da independência de 1822, o curioso – e
contraditório – é que desenrolou-se um processo de obediência e
preservação dos padrões lingüísticos,sintáticos,gramaticais,léxicos portugueses
como uma espécie de atestado de qualificação cultural e ‘civilidade’ intelectual. Isto é, intentavam
os primeiros românticos brasileiros se constituírem nos agentes a afirmação
nacionalista brasileira, no âmbito cultural, sem no entanto romperem com o arcabouço lusitano... E por
outro lado sem assumirem, e praticarem, como o foi para e em Machado de Assis, lídimas, eficazes, indispensáveis relações e
interações -- que só embasaram,
consolidaram, consubstanciaram uma notável constituição intelectual.
________________
Mauro Rosso
pesquisador de
literatura brasileira; ensaísta, escritor
ice
apêndice
machado de assis e portugueses nos periódicos oitocentistas do rio de janeiro
raisonée 1 : machado
de assis e portugueses, atuação e convívio nos periódicos
_______________________________________________________________________________________________________________
periódico período rubricas da os
portugueses atuantes e conviventes
[ordem
cronológica de de atuação e convívio colaboração
de MA
________________________________________________________________________________________________________________
Marmota Fluminense 1855- 57 poesia; artigos; tradução; conto; F.G.Braga/Caetano Filgueiras/ A.E.
Zaluar/E. Garção /
crítica
literária
A Marmota 1857-61
. poesia;ensaio; índefinido’*
Correio
Mercantil 1858/1865 poesia; conto;artigos;
ensaio;
F. Xavier
Novaes/Reinaldo Carlos Montoro
(interruptos) crítica literária
O Parahyba 1858-59 poesia; tradução; crônica A.E. Zaluar/ Reinaldo Carlos Montoro/
RemigioSena Pereira/ Francisco Ramos Paz
Diário do Rio de Janeiro 1861-67
crônicas; artigos; tradução;
RemigioSena
Pereira/ Francisco Ramos Paz
crítica
literária; poesia
O Futuro 1862-63 poesia; crônicas; contos
F. Xavier Novaes/ A.E. Zaluar /Reinaldo Carlos Montoro/
Remigio Sena Pereira/ E. Cybrão/ F. Ramos Paz/ F.G.Braga/
Caetano
Filgueiras/ Manuel de Melo.
_______________________________________________________________________________________________
* “Queda que as mulheres têm
pelos tolos” (1861)
........................................
raisonée 2 : machado de assis e portugueses : citações, alusões, referências
nos periódicos
_______________________________________________________________________________________________________________
periódico período rubrica do texto título do texto citações
(autor;obra)
[ordem alfabetica]
______________________________________________________________________________________________________________
A Crença . 1875 artigos;ensaios A A. J. Porciúncula Camões
______________________________________________________________________________________________________________
A Época
1875 contos O sainete
Camões [Os Lusíadas ]
____________________________________________________________________________________________________
A Estação 1879 contos
A chave A.Dinis da
Cruz e Silva
1881 contos O alienista Pedro António; Correia Garção .
1882 contos O
imortal pd.Francisco
Manuel do Nascimento
1883 contos O programa
Camões [Os Lusíadas
];
Justiniano
José da Rocha ;
Firmino Rodrigues Silva
1883 contos Troca de datas A.Herculano [Eurico,
o presbítero ].
1894 contos Um erradio * pde.António Pereira de
Figueiredo
1889-91 romances Quincas Borba
Camões
[Elegia ; “Sobolos Rios que Vão”] ;
Mendes Leal [A pobre das ruínas ];
Bernardim Ribeiro;
A. Garret [Lírica de João Mínimo ]; .
Manuel
de Almeida e Sousa de Lobão ;
pd.
Manuel Bernardes[ Nova Floresta ] ;
Manuel
Antônio Coelho da Rocha
_____________________________________________________________________________________________________
A Marmota 1859 . artigos;ensaios O passado,
o presente e A. Garrett ; Sousa Caldas
o futuro
da literatura __________________
_____________________________________________________________________________________________
Almanaque Brasileiro
Garnier 1896 contos Um incêndio
Camões [Os
Lusíadas ]
____________________________________________________________________________________________________
Diário do Rio de Janeiro 1860 crítica
teatral Revista Dramática Camilo Castelo
Branco
1861 crônicas Bocage ; Pinheiro Guimarães [História
de uma moça rica ]
1861 crônicas
Pinheiro Guimarães [História de uma moça rica ]
. 1861 crônicas pde. José
Agostinho de Macedo [Martim literário]
Camões [Os
Lusíadas]
1861 crônicas pde. Francisco Manuel de Nascimento [“Em defesa da língua”]
1861
crônicas
Bernardim Ribeiro[Menina e moça ]
1861 crônicas A.Dinis da Cruz [O hissope ]
1862 crônicas
A.Dinis da Cruz [O hissope ]; Bocage
1862 crônicas A. F.Castilho\José F. Castilho [Tributo à Memória de
Sua
Majestade Fidelíssima, o Sr. D. Pedro V, o Muito Amado]
;.
José Castilho[ Memória acerca da 2.ª Égloga de Virgílio ].
A. F. Castilho [A noite do castelo;“Cartas de Eco e Narciso”;
“Ciúmes do bardo” ].
pde. F.Manuel do Nascimento
1862 crônicas
Sá Miranda [“Carta”]
1862 crônicas Sá Miranda[“Carta”]; Caldas
Barbosa
1863 crítica
literária A. E. Zaluar [Revelações ]
1863 crítica literária A.Herculano
1863 crítica literária A. E. Zaluar [ Peregrinação pela província de S. Paulo ]
1864 crônicas A. Garret [ “Tratado de educação”
; “Camões”; Folhas caídas ];
Camões [Os Lusíadas ]
1864 crônicas A.D.Pascual [Morte moral
]
1864 crônicas
A.D. Pascual { Morte
moral
].
1864 crônicas A.E.Zaluar [Folhas do caminho ].
1864 crônicas Camões [Os Lusíadas ]
1864 crônicas A.Herculano [Eurico, um presbítero ].
1864 crônicas
A.
Vieira
1864 crônicas Rebelo da Silva [A mocidade de D.João V].
1864 crônicas Teixeira
de Melo [ Sombras e sonhos ];
Fernandes Pinheiro [Manual do pároco ; Meandro poético ] . 1865 crônicas José
Antonio F. da Silva [Lembranças de
José Antônio] ].
1865 crônicas Camões; Bocage
1865 crônicas
Bocage
1865 crônicas pde. Manuel
Bernardes [ Floresta ; Exercícios morais ];
A.F. de Castilho \ José F. de Castilho [ Livraria clássica ;
Excertos do pde.Manuel Bernardes ].
1865 crítica
teatral Revista Dramática Mendes Leal; Bocage [“Pena de Talião”]; .
A.Herculano; A. F. Castilho [Camões ];
A.Garret [Frei Luis de Souza]
1866 crítica literária J. de Vasconcelos Ferreira [Um livro de
rimas ]
1866 crítica teatral O teatro de José de Alencar A. Garret.
1866 crítica literária Caetano Filgueiras
1866 crítica literária F. Gomes de Amorim [Cantos matutinos.]
1866 crítica literária A. Dinis da Cruz [Dido; Hissope ]
1866 crítica literária F. Gomes de Amorim [ Efêmeros ]
1868 crítica literária Faustino X. de
Novais
_____________________________________________________________________________________________________
Gazeta de Notícias 1881 contos Teoria do medalhão *
pde. Francisco Manuel do Nascimento
1882 contos A serenissima república Camões
1883 contos A igreja do Diabo A.Dinis da Cruz e Silva [Hissope ]
1884 contos O diplomático Camões [Os Lusíadas ]
1884
contos As academias de Sião Camões [Os Lusíadas ].
1884 contos Viagem à roda de mim mesmo Camões; Bernardim Ribeiro ["Vilancete seu"]
1884 crônicas Camões [“Elegia-XI”; João de
Barros]
1884 crônicas Camões [Os Lusíadas ]
1885
contos O dicionário Pedro
A. Garção [Obras poéticas ]
1887 crônicas
Camões
1888 crônicas
pde.
Perereca [Memórias para servir à história do reino do
Brasil ].
1888 crônicas
Camões
[Os Lusíadas ]
1888 crônicas Eça de Queiroz [ A
correspondência de Fradique Mendes ].
1888 crônicas
Camões
1888 crônicas
N.
Tolentino [
“O bilhar” ].
1889 crônicas Mendes
Leal [Pedro].
1889 crônicas
Manuel do Nascimento[Filinto
Elisio]
1889 crônicas
N.Tolentino
1889 crônicas Camões [Os Lusíadas ].
1892 crônicas
Camões
1893 crônicas
pde.
Manuel Bernardes
[Pão partido em pequeninos ]
1893 crônicas
N.
Tolentino
1893 crônicas Camões [Os Lusíadas ]
1893 crônicas
A.
Garret [“Camões”]
1894 crônicas
Camões
1894 crônicas
Bocage
1894 crônicas
João
de Barros
1894 crônicas
Camões
1895 crônicas
Camões [Os Lusíadas ]
.
1895 crônicas
Camões
1895 crônicas Pedro Rabelo[Alma alheia ]; Bocage ;Camões [Os Lusíadas ]
1896 crônicas N.Tolentino; Guerra
Junqueiro
.1896 crônicas
Valentim Magalhães [Bricabraque ]
1896 crônicas
João
de Barros [Décadas da Ásia ];
Camões [Os
Lusíadas
]
.
1896 crônicas
Bocage
; Filinto Elisio
1896 crônicas
A.
Vieira ; Camões
[ Os Lusíadas ]
. 1896 crônicas
Valentim Magalhães [Flor de sangue ] .
1897 crônicas Xavier da Cunha [Endechas de Camões a Bárbara ]
1897 crônicas
Camões [Os Lusíadas ].
1897 crônicas
Camões
1899 artigos;ensaios A.
Garret
1899 artigos;ensaios Garret A. Garret [Viagens na minha terra ]; Camões;
Frei Luís de Sousa [“Adozinda”; “Folhas caídas”];.
Bernardim Ribeiro; Gil Vicente.
1900 artigos;ensaios Eça de Queiróz Eça de Queiróz; A.Vieira; Camões
1904 crítica
literária A. Garret
_______________________________________________________________________________________________________________
Gazeta Literária 1884 contos A segunda vida A. Herculano [Eurico,
o presbítero ]; Sousa Caldas
______________________________________________________________________________________________________
Ilustração
Brasileira 1877 crônicas Pinheiro Guimarães [ História de uma
moça rica ; A punição ]
1877 crônicas A.Herculano [Eurico,um presbítero ].
______________________________________________________________________________________________________
Jornal das Famílias 1866 contos Uma excursão milagrosa Camões [Os Lusíadas
];.
A.Dinis da Cruz e Silva [Hissope ].
1873 contos As bodas de Luís Duarte N. Tolentino
1873 contos Decadência de dois grandes homens A. José de Castilho
1874 contos Os
óculos de Pedro Antão Francisco Rodrigues Lobo;
Pedro
António ;Correia Garção
1876 contos Encher tempo Gil Brás; Sousa Caldas
1876 contos Uma visita de Alcibíades A.Garret
1878 contos Dívida extinta N.Tolentino
______________________________________________________________________________________________________
Jornal do Commercio 1872 crítica literária
Vasco Nunes ; Junqueira Freire
_____________________________________________________________________________________________________
Marmota Fluminense 1855 poesia Um sorriso Camões
A. Garret
1855 poesia No álbum do
sr.
F. G. Braga Manuel José
F. G. Braga
1855 poesia A derradeira injúria Camões[ Os Lusíadas ]
1855
poesia A
uma menina Manuel José Quintana
1856 poesia Um anjo A.E.Zaluar
1856 poesia Consummatum est ! João de
Lemos
_____________________________________________________________________________________________________
O Cruzeiro 1878
romance Iaiá
Garcia pde.
Manuel Bernardes [Luz e calor ];
A.Garret [Romanceiro ]
1878 contos
Elogio da
vaidade A.Garret
1878 crítica literária
Eça de Queiroz [O primo
Basílio ]; Camões ;
A.Herculano [O
monge de Cister ; Eurico um presbítero ];
A.Garrett [O arco de Sant' Ana ]; Gil Vicente
1878 crônicas
Pedro Garção [“O
suicídio”];
João de
Lemos [“Lua de Londres” ];
João de Barros [Décadas ]
1878
crônicas
N. Tolentino [“O colchão dentro
do toucado”]
1878 crônicas
Eça de Queiroz [O primo
Basílio ]
1878 crônicas Eça de Queiroz e Eleazar Eça de Queiroz
1878 crônicas
F.Manuel do Nascimento ; Camões [Os Lusíadas ].
1878 crônicas A. Vieira [Sermão do Bom Ladrão ]
_____________________________________________________________________________________________________________
O Espelho 1859 artigos;ensaios Os imortais –
O marinheiro batavo Camões
1859 crítica
teatral Revista
dos Teatros Ernesto Cybrão [
Luiz].
1859 artigos;ensaios Aquarelas:
O empregado público aposentado A. Herculano; Rebelo da
Silva
1859 crítica
teatral Revista dos Teatros
Mendes Leal [Abel e Caim] ; Camões
_____________ ________________________________________________________________________________________________
O Futuro 1862 contos
O país das quimeras A. Dinis da Cruz e Silva [Hissope]
1862 crônicas
Tomás Ribeiro [“D. Jaime”]
.1863 crônica
Camilo Castelo Branco [Agulha no palheiro ]
1863 crônica
N.Tolentino;
A. Dinis da Cruz e Silva [Hissope ]
1863 crônica
Jacinto de Freitas Oliveira [Esboço histórico de José Estevão ]
1863
crônica
A.E.
Zaluar [Revelações ;Dores e flores ];
Mendes Leal [Calabar]
1863 crônica João Francisco Lisboa [ Jornal do Timon ];
Luis
Ramos Filgueiras
[Dalmo ou os mistérios da noite ].
______ _________________________________________________________________________________________________________
O Globo 1874 romances A mão e a luva António Ferreira
[Carta a Diogo Bernardes ]
1876 romances Helena
A. Garret [Camões]
______________________________________________________________________________________________________
O Novo Mundo 1873 artigos;ensaios Notícia da
atual literatura brasileira: Camões; Fernão Mendes Pinto
Instinto de nacionalidade
________________________________________________________________________________________________________________
Revista Brazileira 1879 crítica
teatral Antonio
José(e Moliére) Gil
Vicente; Manuel de Figueiredo; Camões
1879 artigos;ensaios A
nova geração Fontoura Xavier [“Régio
saltimbanco”] ;
Guerra
Junqueiro [“Musa em férias”];
Francisco de Castro
[Estrelas errantes];
.
Antônio F. de Castilho; A.Vieira; A. Garrett
1880
romances
Memórias póstumas
de Brás Cubas
pd. Manuel Bernardes; Bocage;
A. Vieira;
Camões [Os Lusíadas ]; A.Garret;
Camilo Castelo Branco [Coração, cabeça e estômago
]
1896 artigos;ensaios Henriqueta Renan Camões [ Os Lusíadas ];
Sá de Miranda
1898. crítica literária -- Eça
de Queirós
______________________________________________________________________________________________________
Semana Ilustrada .1861
poesia Elegia Camões
[Elegias ].
1863 poesia Os dois horizontes M.
Ferreira Guimarães
1864 poesia As rosas
Caetano Filgueiras
1864 crônicas
José
F..de Castilhos
1864 crônicas
Pinheiro Guimarães[História de moça rica ; A punição ]
1864 crônicas Pinheiro Guimarães[História de moça rica]
1865 artigos;ensaios Conversas com
as mulheres Antônio F. de Castilhos
1865 contos
O Teles e o Tobias A. Vieira
1869 crônicas
A. Dinis Cruz e Silva
1869
poesia A F.X. de Novais Francisco X
.Novais
1870 poesia A Francisco Pinheiro Guimarães F. P. Guimarães
1870
crônicas
Sá de
Miranda
1870 crônicas
Correa
de Miranda [ Vôos
do tambaqui ]
1871 crítica teatral Júlio Dinis [As Pupilas do Sr. Reitor ]
1872 crítica teatral
A. Garret
1873 crítica teatral
pde. Francisco Manuel de Melo
1873 crítica
teatral Pedreira Braga [“A um poeta morto”].
1874 crítica literária - Sabbas da Costa [A Revolta ]
1875 artigos;ensaios O Visconde
de Castilho A.F. de
Castilho [“Ciúmes de bardo”; “Noite
do castelo”]
1876 Camões[Os Lusíadas ].
1877 A. Herculano [ Eurico,um presbítero ;História de Portugal
________________________________________________________________________________________________________________
mr
.
.
.
.
.
.
[1] Texto que oferece aos
estudiosos amplo arsenal de elementos para uma reflexão, até mesmo de cunho
‘revisionista’, acerca da (até então e,de resto, quase consensualmente tida)
índole e perfil ‘monarquista-liberal’ machadianos.
“(Graças ao jornal...)
completa-se a emancipação da
inteligência e começa a dos povos.O direito da força,o direito da autoridade
bastarda consubstanciada nas individualidades dinásticas vai cair. Os reis já
não têm púrpura,envolvem-se nas constituições. As constituições são os tratados de paz
celebrados entre a potência popular e a potência monárquica” [“O Jornal e o
Livro”, in Correio Mercantil, Rio de Janeiro :10-12.01.1859].
[2] Encontro-me em trabalho
de finalização de livro a respeito de O
Parahyba.
[3] No estudo a que me
dedico, acerca das influências e orientações estrangeiras em Machado de Assis, foram
construídos raisonnés de todas as
citações e referências lusitanas em todas as obras – gênero por gênero --
machadianas , assim como os autores,obras e textos constantes de sua biblioteca
pessoal e aqueles lidos e consultados em acervos públicos.
[4] Como mencionado, a
constituição intelectual de Machado, assim como
sua capacidade formativa de leitores – aos quais transmitiu e
‘transferiu’, por via das citações e alusões, os elementos dessa constituição – é tema e conteúdo do estudo,
a ser livro, “A formação literária de Machado de Assis : fontes para biografia
intelectual”.
[1] Texto que oferece aos
estudiosos amplo arsenal de elementos para uma reflexão, até mesmo de cunho
‘revisionista’, acerca da (até então e,de resto, quase consensualmente tida)
índole e perfil ‘monarquista-liberal’ machadianos.
“(Graças ao jornal...)
completa-se a emancipação da
inteligência e começa a dos povos.O direito da força,o direito da autoridade
bastarda consubstanciada nas individualidades dinásticas vai cair. Os reis já
não têm púrpura,envolvem-se nas constituições. As constituições são os tratados de paz
celebrados entre a potência popular e a potência monárquica” [“O Jornal e o
Livro”, in Correio Mercantil, Rio de Janeiro :10-12.01.1859].
[2] Encontro-me em trabalho
de finalização de livro a respeito de O
Parahyba.
[3] No estudo a que me
dedico, acerca das influências e orientações estrangeiras em Machado de Assis, foram
construídos raisonnés de todas as
citações e referências lusitanas em todas as obras – gênero por gênero --
machadianas , assim como os autores,obras e textos constantes de sua biblioteca
pessoal e aqueles lidos e consultados em acervos públicos.
[4] Como mencionado, a
constituição intelectual de Machado, assim como
sua capacidade formativa de leitores – aos quais transmitiu e
‘transferiu’, por via das citações e alusões, os elementos dessa constituição – é tema e conteúdo do estudo,
a ser livro, “A formação literária de Machado de Assis : fontes para biografia
intelectual”.
Assinar:
Postagens (Atom)