segunda-feira, 15 de outubro de 2012

LIMA BARRETO E EDUCAÇÃO NO BRASIL

no "dia do Professor"[15 outubro], o que Lima Barreto no início do século escrevia - criticamente (e muito lucidamente) sobre a Educação no país. 

["Lima Barreto e Educação" é obra de que já tenho os originais integralmente prontos,e que almejo poder publicar (ainda sem editor) : compõe-se de ensaio interpretativo introdutório, enfocando a situação geral da educação no Brasil, nas primeiras décadas do século XIX, e os enfoques,comentários,análises e especialmente críticas formuladas por Lima Barreto; e de bloco constituído por conjuntos de textos, entre contos(9) , crônicas(22-- abaixo, uma delas) e artigos(2)]
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Como nenhum outro literato da época (refiro-me a escritores, entre romancistas,contistas,poetas, etc , não a ensaístas e especialistas e teóricos do assunto), Lima Barreto, ser pensante e militante como era, debruçou-se, discorreu,refletiu -- e denunciou -- sobre a educação brasileira de seu tempo. Tratou da educação, per se questão histórica nacional ,com as lucidez e discernimento críticos que lhe eram peculiares, iou tanto na não-ficção quanto na ficção, em crônicas,artigos,textos,contos,novelas e romances. As críticas e reflexões que aparecem nos escritos de Lima Barreto revelam aspectos relevantes – muitos deles presentes,e não-resolvidos, até hoje – do cenário educacional do Brasil nas primeiras décadas do século XX, época em que o debate em torno da universalização da escola estava posto, e que até procurava-se formular um projeto de educação popular. os teóricos e educadores profissionais brasileiros se constituíram como tal somente a partir das décadas de 1920 e de 1930. Até então, o pensamento educacional expressava-se por meio de reflexões sociopolíticas, realizadas por publicistas veiculadas particularmente pela imprensa. Daí a importância das precursoras apreciação e reflexão de Lima Barreto sobre a educação no País, (inclusive no inerente à mulher) , nas primeiras décadas do século XX , formulando uma crítica , ainda que de forma assistemática, à organização da educação escolar, à qualidade do ensino e deficiências dos currículos escolares, às formação e desempenho de professores, ao “bacharelismo”, à incompetência ,em suma à política educacional brasileira então em vigor. Lima Barreto oferece uma crítica clara à inadequação do ensino à realidade brasileira, pela falta de um programa que propiciasse uma efetiva formação técnica, ou pela importação de modelos que não respondiam às necessidades nacionais. No seu olhar para a educação brasileira à época, Lima -- atento aos mecanismos educacionais imbuídos nos processos sociais -- sobretudo incorpora e propõe-se a exprimir a própria concepção política de Educação, em que esta teria como finalidade tanto o crescimento do homem em si quanto concomitantemente contribuir para a transformação da sociedade. Todo arsenal crítico de Lima Barreto à educação escolar condensa-se – até mais do que ao caráter elitista do sistema escolar brasileiro -- na questão da sua má qualidade, da sua fragilidade e superficialidade. As consistência, veemência, acuidade e discernimento de seu enfoque o colocam, indiscutivelmente, na vanguarda da crítica social produzida em sua época e o diagnóstico que elabora da formação escolar de sua época antecipa as questões básicas que especialistas e teóricos da educação iriam acentuadamente,e formalmente, apontar, em 1932, no “Manifesto dos Pioneiros da educação Nova: ao povo e ao governo”.
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  A instrução pública 
  Correio da Noite 11.03.1915

 Fala-se novamente na reforma da instrução pública e os jornais se preocupam em pedir aos poderes públicos que a façam de forma a evitar os doutores. 
No Brasil, o doutor (e olhem que eu escapei de ser doutor) é um flagelo, porque se transformou em nobreza e aos poucos foi açambarcando posições, fazendo criar coisas novas para eles, arrendando com o preconceito doutoral as atividades e as competências. 
Ainda não há muito, foi anunciado que os comissários de polícia seriam unicamente os bacharéis em direito; na Estrada de Ferro Central, aos poucos, foram extinguindo, nas oficinas, escritórios e demais serviços técnicos, o acesso daqueles que se vinham fazendo pela prática e pela experiência, para dar os lugares aos doutores engenheiros das nossas escolas politécnicas. A tendência vai se firmando, de constituir-se entre nós uma espécie de teocracia doutoral. Os costumes, o pouco respeito do povo, estão levando as coisas para isso. O doutor, se é ignorante, o é; mas sabe; o doutor, se é preto, o é, mas ... é branco. As famílias, os pais, querem casar as filhas com os doutores; e, se estes não têm emprego, lá correm à Câmara, ao Senado, às secretarias, pedindo, e põem em jogo a influência dos parentes e aderentes.
Então, o orçamento aparece com autorizações de reformas e o bacharelete está empregado, repimpado como diretor, cônsul, enviado extraordinário e diz para nós outros: "Eu venci". Nem os jornais escapam a essa superstição. Antigamente, os autores eram conhecidos pelos seus simples nomes; agora, eles aparecem sempre citados com o seu título universitário. Na burocracia, a coisa é a mesma. Um empregado é mais competente do que outro, na matéria de monte pio, porque aquele é engenheiro de minas e o outro não é nada. À proporção que tal fato se vai dando, o nível da instrução vai baixando. Não é nesta nem naquela escola; é em todas. Essa página de doutor dá panos para as mangas. 
Se o governo quisesse extirpar o mal, não deveria manter absolutamente esses cursos seriados. No que toca à instrução secundária, ainda poderia manter liceus, nos bairros, e prover, de fato, a instrução secundária, no distrito, sem esquecer que o deve fazer também para as moças. A instrução superior não devia ter seriação alguma.
O governo subvencionaria lentes, ajudantes, laboratórios, etc., sem prometer, ao fim do curso, que o estudante seria isto ou aquilo: bacharel ou dentista; engenheiro ou médico. O estudante faria mesmo a escolha das matérias que precisasse, para exercer tal ou qual profissão. 
Hoje, as profissões liberais se entrelaçam' de tal modo e se dividem de tal forma, que prender uma cabeça em um curso é obrigá-la a estudar o que não precisa estudar e não aprender o que precisa aprender. 
No mais, a mais livre concorrência ...

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