sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

os primeiros de Machado - I


pois então diz-se que agora semana pós-Carnaval, tem início o ano no País.Ano que se anuncia como o ano do centenário da morte (29 setembro 1908) de Machado de Assis, ele então com 69 anos(nascera em 21 junho1839) -- uma efeméride para estar marcada nos corações e mentes de todos. vamos daqui registrá-la e homenagear Machado[embora saibamos que todos os anos são de Machado de Assis ,seu nome, sua obra e sua grandiosidade acima e além de circunstâncias de momento].pretendo expor aqui uma série de textos abrigando as primeiras produções literárias de Machado, seguindo sua respectiva ordem cronológica.

a primeiríssima peça de criação machadiana foi um poema intitulado “Sonetos” , dedicado a uma misteriosa "Ilma. Sra. D.P.J.A.", publicado em 1854 , com a assinatura J. M. M. Assis, no Periódico dos Pobres – poema esse de que se tem notícia mas nenhuma cópia conhecida (perdeu-se no tempo,na então incipiência autoral de Machado e na insignificância da qualidade literária.do texto...).o que ficou devidamente registrado, como peças debutantes, foram os poemas “A palmeira”,estampado na edição de 6 janeiro 1855 no jornal A Marmota Fluminense (a partir de 1857 passou a intitular-se apenas A Marmota)de Paula Brito (o tipógrafo,livreiro e editor de enorme e crucial influência na vida de Machado), no qual Machado escreveu até 1862, seguido do poema "Ela", publicado nesse mesmo jornal em 12 janeiro .
A palmeira
a Francisco Gonçalves Braga

Como é linda e verdejante
Esta palmeira gigante
Que se eleva sobre o monte!
Como seus galhos frondosos
S'elevam tão majestosos
Quase a tocar no horizonte!

Ó palmeira, eu te saúdo,
Ó tronco valente e mudo,
Da natureza expressão!
Aqui te venho ofertar
Triste canto, que soltar
Vai meu triste coração.

Sim, bem triste, que pendida
Tenho a fronte amortecida,
Do pesar acabrunhada!
Sofro os rigores da sorte,
Das desgraças a mais forte
Nesta vida amargurada!

Como tu amas a terra
Que tua raiz encerra,
Com profunda discrição;
Também amei da donzela
Sua imagem meiga e bela,
Que alentava o coração.

Como ao brilho purpurino
Do crepúsculo matutino
Da manhã o doce albor;
Também amei com loucura
Ess'alma toda ternura
Dei-lhe todo o meu amor!

Amei!. .. mas negra traição
Perverteu o coração
Dessa imagem da candura!
Sofri então dor cruel,
Sorvi da desgraça o fel,
Sorvi tragos d'amargura!
........................
Adeus, palmeira! ao cantor
Guarda o segredo de amor;
Sim, cala os segredos meus!
Não reveles o meu canto,
Esconde em ti o meu pranto
Adeus, ó palmeira!. .. adeus!
________
in A Marmota Fluminense,6 janeiro 1855

Ela
Nunca vi, - não sei se existe
Uma deidade tão bela,
Que tenha uns olhos brilhantes
Como são os olhos dela!

F. G. Braga

Seus olhos que· brilham tanto,
Que prendem tão doce encanto,
Que prendem um casto amor
Onde com rara beleza,
Se esmerou a natureza
Com meiguice e com primor.
Suas faces purpurinas
De rubras cores divinas
De mago brilho e condão;
Meigas faces que harmonia
Inspira em doce poesia
Ao meu terno coração!
Sua boca meiga e breve,
Onde um sorriso de leve
Com doçura se desliza,
Ornando purpúrea cor,
Celestes lábios de amor
Que com neve se harmoniza.
Com sua boca mimosa
Solta voz harmoniosa
Que inspira ardente paixão,
Dos lábios de Querubim
Eu quisera ouvir um - sim _
Pr'a alívio do coração!
Vem, ó anjo de candura,
Fazer a dita, a ventura
De minh'alma, sem vigor;
Donzela, vem dar-lhe alento,
Faz-lhe gozar teu portento,
"Dá-lhe um suspiro de amor!"
_____________
in A Marmota Fluminense,12 janeiro 1855

como ‘curiosidade’, vale ainda expor outro poema, muito peculiar, dessa fase -- no qual Machado evoca o 'byronismo' que influenciara e impregnara a poética de Álvares de Azevedo,para citar o exemplo mais manifesto e enfático, por extensão muito da poesia que se fazia mormente em São Paulo no início da década de 1850. o poema machadiano em questão é "Cognac".

Cognac!...

Vem, meu cognac, meu licor d'amores! ...
É longo o sono teu dentro do frasco;
Do teu ardor a inspiração brotando
O cérebro incendeia! ...
Da vida a insipidez gostoso adoças;
Mais vai um trago teu que mil grandezas;
Suave distração - da vida esmalte,
Quem há que te não ame?
Tomado com o café em fresca tarde
Derramas tanto ardor pelas entranhas,
Que o já provecto renascer-lhe sente
Da mocidade o fogo!
Cognac! - inspirador de ledos sonhos,
Excitante licor - de amor ardente!
Uma tua garrafa e o Dom Quixote,
É passatempo amável!
Que poeta que sou com teu auxílio!
Somente um trago teu m'inspira um verso;
O copo cheio o mais sonoro canto;
Todo o frasco um poema!
_________________
in A Marmota Fluminense,12 abril 1856

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