sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Clássicos: porque os ler (claro) – mas por que não editá-los corretamente?

A propósito de obra que finalizo e de um ‘costume’ que grassa por aí no meio digital
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[ a obra a que me refiro,decorrente/derivada de estudo desenvolvido por cerca de dois anos, tem por título- e tema – “Machado de Assis :, leitor, formador de leitores “-- dirige um foco diferenciado – se não, (pode-se dizer) inédito – sobre Machado de Assis, sua obra, sua produção textual, sua vida intelectual. e um viés,igualmente significativo, sobre elementos presentes e atuantes na vida literária e padrões de leitura do Brasil Oitocentista. .
sobremodo, oferece informações e apreciações valiosas acerca da formação e constituição -- intelectual machadiana e de sua notável atuação formativa de leitores no século XIX brasileiro, mais quantitativamente intenso e qualitativamente significativo do que qualquer outro escritor, por também grande que fosse, de seu tempo : formação literária própria de Machado de Assis , adquirida por leituras e consultas feitas com pleno desvelo durante toda sua vida; paralelamente, também formação constitutiva de leitores, por via de citações,referências e recorrências perpetradas por ele em seus textos, quais diálogos intertextuais com grandes autores de várias épocas e geografias culturais -- citações e recorrências tornadas efetivas fontes dessa formação : malgrado o ser numa sociedade marcada por aterradores níveis de analfabetismo,escassez de público-leitor, indigência e aridez cultural].

em todos os cenários sob os quais se retratam quer as leituras de formação e constituição literárias de Machado quer as citações,alusões,referências processadas em suas obras, a notável presença de autores e obras dadas como clássicas.
O que faz uma obra, um texto, um autor destacarem-se, serem relevantes, adquirirem valor historiográfico- literário, tornarem-se , e assim se perpetuarem, clássicos, ‘canônicos’? Uma conjunção de fatores definem um clássico : tem-se como parâmetro básico aqueles que resistem à chamada prova de passagem dos anos, e sobretudo, ou acima de tudo, possuam qualidades específicas ( mas também se considera um fator de relativização -- entre outros requisitos e aspectos, são as leituras que os leitores fazem deles : a história de uma obra, um texto, de um autor, é a história de suas leituras, pela recepção que dela e dele fazem seus leitores; no caso, leitores iniciados nos clássicos literários por Machado de Assis).

-- pois bem : assiste-se agora uma profusão – que poderia ser extremamente auspiciosa, benfazeja, estimulante – de produção, edição e veiculação no meio digital e por via de mídias digitais, de denominados (pelos próprios produtores : ressalve-se...) “clássicos” de literatura brasileira,, em quase avassaladora voltagem e velocidade, em questionavelmente condição/parâmetro qualitativo – aqui quero chegar como ponto principal – para serem dados na realidade como clássicos : via de regra, e no geral, basta incluir Machado de Assis, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Aluisio Azevedo, Lima Barreto, Manuel Antonio de Almeida -- todos, sim, autores clássicos, canônicos -- e ‘quejandos’[sic] , pronto forma-se uma ‘coleção de clássicos’, só que acrescentada de muitos outros escritores e obras que nem poderiam mesmo remotamente serem catalogados como clássicos. E pior ainda : todas, praticamente todas [não é de meu conhecimento alguma(s) que que seja(m) diferente(s): se alguém souber, me avise por favor, agradeceria penhorado ao extremo] edições imperdoavelmente, inconcebivelmente despojadas de textos informativos (quando muito aparece rala biografia do escritor e parca sinopse da obra) interpretativos , críticos – ensaios críticos seriam o ideal,indispensáveis mesmo – e,também bastante importantes, notas de contextualização. Em geral, os produtores e editores de ‘clássicos’ dispensam a atuação, quer para formular o elenco a compor a coleção, quer para constituir tais requisitos interpretativos, críticos, etc , de especialistas e profissionais gabaritados – e assim dá no que dá...
Obra clássica, autor clássico exigem tal tratamento – sem o que, por mais bem intencionado e alvissareiro que seja o propósito (e o é,em tese e na concepção, no que difunde a Literatura Brasileira por via digital, algo sempre benvindo e imperioso, todos aqui sabem de minha postura com relação a isso), por mais esmerada (e algumas são) que seja a edição; sobremodo, por mais eficiente e competente que seja a veiculação e circulação, por mais ‘grife’ que seja a própria produtora, ou distribuidora e comercializadora do conteúdo digital – falo de Amazon, Apple, GooglePlay, etc – não se pode conceber clássicos literários dados à luz,e à praça – e pior, à escola : muitas das edições digitais de agora têm por fim os círculos educacionais, o que torna o cenário mais repulsivo -- desse modo despojado e, chego a dizer, oportunista.
 e, para completar a aberração :são inúmeras as edições (inclusive impressas) com textos das obras incompletos, incorretos,não fidedignos --
 verdadeiros crimes de lesa-cultura.

Clássico é clássico, e como tal deve obrigatoriamente ser tratado e trabalhado.

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