terça-feira, 17 de março de 2015

Apontamentos e anotações de ‘garimpos’ literários

- a propósito da descoberta recente de poema inédito de Machado de Assis
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Pesquisador dedicado a literatura brasileira (oitocentista e parte novecentista), ensaísta, articulista, escritor ( autor de 11 livros impressos e 5 e-books), em meus trabalhos – pesquisas, estudos; artigos,ensaios, palestras, conferências, e mormente livros – priorizo, melhor dizer torno exclusivo, fazendo disso o próprio leimotiv de minha atividade intelectual e autoral., o approach da diferenciação, no que se refere ao inédito, ou pouco conhecido e divulgado, ou estudado e publicado, etc. -- investigados,pesquisados, identificados e recolhidos  os textos e escritos nessa condição em suas respectivas fontes primárias , vale dizer nos periódicos – jornais, revistas, almanaques, álbuns - dos respectivos tempos de suas veiculações originais. O vasculhar e o ‘garimpo’ em fontes primárias constituem per se o mote e força motriz que rege e impulsiona meus projetos e programas literários.
 Nos periódicos encontra-se, e neles arregimento, o material básico, a matéria bruta – melhor : a  matéria- prima (no mais elevado sentido) – com que trabalho, a massa e argamassa com que construo meus escritos e obras.
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De Machado de Assis, o conto até então inédito, dado como desaparecido – tudo indica que por  sua temática e elementos de trama plenos de sutileza -- “Um para o outro”, publicado em A Estação julho-agosto 1879, que incluí no livro Contos de Machado de Assis : relicários e raisonnés (PUC-Rio\Loyola, 2008), veio de um longo trabalho investigativo desenvolvido durante 6 anos – no caso, com foco exclusivo em uma única fonte primária, o citado jornal.
                  --publicado originalmente nos  folhetins de 30 de julho, 15 e 30 de agosto, 15 e 30 de setembro e 15 de outubro de 1879  em A Estação, o conto “Um para o outro” , dado como perdido,jamais fora  incluído até então em qualquer antologia,coletânea,seleta ou  edição em volume.

A par do citado livro pela ABL, 2014, ainda referente a Machado de Assis, debruço-me há mais de um ano no jornal O Parahyba – periódico de excepcional atuação e extrema importância para a história jornalística e cultural brasileiras, e pouquíssimo conhecido e estudado,  fundado e  publicado na cidade de Petrópolis,Rio de Janeiro, caracterizado por um acervo de idéias "progressistas", abrigando, no campo político, teses e posturas liberais pouco comuns então, como p. ex. a educação, questões econômico-financeiras, problemas fundiários e de colonização de terras,além de aspectos ligados a costumes e comportamentos e tratamento de temas pouco enfocados, alguns considerados ‘difíceis’ ou delicados(como p. ex. a situação da mulher na sociedade).

Mesmo nos casos em que trabalhei com textos e escritos oriundos de fontes secundárias -- livros, ou coletâneas ou antologias publicadas -- volvi-me às fontes primárias – os periódicos -- e os cotejei com as formas originais nos periódicos de origem : e assim sempre o faço e farei para todos os trabalhos..
Assim foi, p. ex., nos contos políticos, inclusos os chamados “argelinos” de Lima Barreto, os quais publicados em apenas uma coletânea – a 2ª. edição de Histórias e sonhos, 1951 (e não na primeira, de 1920) --portanto ‘semi-inéditos’, conferi com os respectivos textos veiculados originalmente em Careta(1914; 1915; 1919; 1920;1921;1922; 1924 - postumamente) e no Correio da Noite (1914), nos quais aliás encontrei, em algumas crônicas, trechos diferentes dos publicados na coletânea, e apontando-os vis a vis uns com outros  incorporei-os no livro Lima Barreto e política : os “contos argelinos” e outros textos (PUC-Rio\Loyola, 2010)

Do mesmo modo, com os textos compondo o livro  Escritos de Euclydes da Cunha: política, ecopolítica, etnopolítica (PUC-Rio\Loyola, 2009), captados em livros e seletas publicados, mas verificados um a um nos respectivos veículos originais, nos jornais A Província de São Paulo,1888-89; Democracia, 1890; O Estado de S. Paulo, 1892-97, 1900, 1904; Jornal do Commercio, 1907; O Paiz,1908; na revista Kosmos, 1906; no Almanaque Brasileiro Garnier, 1908.

Também com as crônicas machadianas, de duas séries escritas para a Gazeta de Notícias, respectivamente em 1886 e em 1886-87, publicadas em um livro e em uma coletânea (‘semi-inéditas’, pois) , que devidamente confrontadas e verificadas com os originais nas fontes primárias, foram reunidas no livro Crônicas de Machado de Assis : “A + B” e “Gazeta de Holanda” (PUC-Rio\Loyola, 2010).

De iguais forma e modo procedi ao indispensável cotejo dos elementos textuais de fontes secundárias – i.e.,  livros, seletas, coletâneas e antologias -- com aqueles das respectivas  primárias -- veiculados originalmente em periódicos, dentre o possível e disponível encontrar -- em outros dois de meus trabalhos capitais recentes(ambos a se tornarem livros, ambos ainda sem arregimentar editor) : “Machado de Assis: leitor, formador de leitor” -- -- que tendo como temática a leitura e leitores no Brasil, o livro e o escritor como seus instrumentos e veículos de fomento, com um viés sobre elementos  presentes e atuantes na vida literária e padrões de leitura do Brasil Oitocentista, reporta a Machado de Assis, sua formação literária e capacidade formativa de leitores, tendo como  escopo levantar, catalogar, mapear, identificar, examinar, e interpretar, as leituras  e influências literárias  de autores e de obras, brasileiros e estrangeiros, na formação intelectual de Machado , e em decorrência,também constituindo um retrato de inéditas amplitude e abrangência,das citações, alusões, referências a obras, textos e autores em todos seus romances, contos, poemas,teatro, traduções, crônicas, artigos e ensaios, críticas literárias, críticas teatrais, pareceres, prefácios, com as quais informou,formou e criou leitores no século XIX (e continua a fazer contemporaneamente e por todos os tempos); e “Machado de Assis e os portugueses : influências, convivências  e convergências literárias e culturais” – a reportar  às relações, interações, intertextualidades entre Machado de Assis e portugueses,  nestes considerados  em um viés, autores, obras e textos lusos, cronologica e literariamente  quer a ele anteriores quer contemporâneos, que exerceram decisiva influência na formação e vida literárias, constituíram leituras do escritor brasileiro (nos livros em sua biblioteca pessoal e aqueles objetos de consultas regulares em acervos e bibliotecas públicas e mesmo em livrarias), receberam citações, alusões, menções, referências e recorrências feitas por Machado de Assis nos romances,nos contos,nas crônicas, em artigos e ensaios,na poesia, na criação teatral, na tradução,na crítica literária,crítica teatral, prefácios, pareceres, correspondência; em outro viés, tanto  vínculos familiares laços conjugais, quanto personalidades lusas a ele contemporâneos, viventes no Brasil à época,que cada qual a seus grau, modo e teor, participaram e atuaram  ativamente na trajetória  pessoal,literária e profissional de Machado de Assis.
Os dois estudos duas obras têm em comum oferecerem cenários e cenáculos completos das influências e orientações literárias e bibliográficas, vale dizer autores, obras e textos, brasileiros e estrangeiros, em Machado, decisivos para sua formação e biografia intelectual – no caso dos portugueses absolutamente cruciais, como nenhum outro, também politicamente, socialmente e pessoalmente, além de lingüística e literária; ambos  apresentam, de  modo inédito por sua completude, raisonnés de todas as leituras realizadas por Machado e todas citações,referências, alusões a autores, obras e textos praticadas por ele em seus escritos.

Por sua vez, Arthur Azevedo, que sempre despertara em mim marcante atração sob o ponto de vista literário, propiciou-me, e tem propiciado, o desenvolvimento de um (intensivo ) programa de pesquisa e de produção de obras focados essencialmente na recolha e recuperação de nada menos do que 95% de suas crônicas e cerca de 25% de seus contos, até agora inéditos em livro ou outro meio, inclusive digital, somente publicados em periódicos de distintos períodos, abrangentes de um leque cronológico de 1872 a 1908 : dele, incorporei 5  contos inéditos, originalmente em O Mequetrefe, 1884, em A Rua,  1889,  no Almanaque do Comércio, 1887, na Kosmos, 1906, no Almanaque Brasileiro Garnier, 1910, no livro Contos de Arthur Azevedo : os “efêmeros” e inéditos (PUC\Loyola, 2009); e incluí um conto inédito, “Aventuras de um adolescente.” recolhido de A Vida Moderna, março 1887, incorporado ao livro e e-book que publiquei em 2012 Arthur Azevedo : Cenas da comédia humana - contos em claves temáticas (Imã Editorial);  49 crônicas, nunca divulgadas,abrigadas no livro Arthur Azevedo : crônicas (inéditas) em A Vida Moderna 1886-87 (ABL, 2013); 15 contos, no e-book Arthur Azevedo : contos  inéditos, em produção (Foglio\Objetiva); recolhi e organizei um conjunto de  20 contos e 20 crônicas (inéditos em livro)  publicados em O Rio-Nu, 1903, jornal humorístico, sarcástico,satírico,mas também de crítica social e política,  que fazia o maior sucesso no início do século XX no Rio.
                                                       
 
Na verdade, o vasculhar e garimpar permanentes, sistematizados, concatenados, consistentes, em periódicos  coaduna-se  com  a própria conceituação do periódico como veículo de registro e até intervenção nos fatos,episódios e processos de seu tempo, e sua relevância como fonte inesgotável  para estudos de história,literatura,artes, cultura, política, sociologia, etc.: nos estudos literários, especificamente, são cada vez mais recorrentes  para efeito de investigação e pesquisa , pesquisadores e estudiosos de literatura debruçando-se crescente e intensamente sobre esses verdadeiros mananciais de informações , muitos até inexplorados, para constituir ou reconstituir a história literária.

Em suma, constituintes, desde sempre, do cenáculo basilar de meus estudos e atuação literários, periódicos - e a consulta, investigação, pesquisas neles -  permanentemente pautaram\pautam, pontuaram\ pontuam, permearam\permeiam, impulsionaram\impulsionam minhas idealizações, projetos e realizações em literatura brasileira.

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