domingo, 29 de junho de 2008

O futebol, todos sabemos , surgiu no limiar do século XX no Rio de Janeiro como “uma grande novidade”, mas por ser esporte de origem inglesa logo cairia no gosto das rodas elegantes da cidade ( que na época cultivavam quase que exclusivamente o remo ) — e de imediato, por suas próprias características , despertaria paixões acirradas, não apenas entre torcedores e admiradores dos clubes então formados ( Payssandu Cricket Club, Fluminense Foot-Ball Club, The Bangu Athletic Club, etc ).
Justamente por ter vindo da “Old Albion” (assim era chamada a Inglaterra, ‘na intimidade’, pelas elites), em seus primeiros anos na cidade o futebol teve um caráter restrito, praticado preponderantemente por jovens ricos e bem-nascidos — mas já no final da década de 1910 alcançava uma popularidade nunca vista . João do Rio foi o primeiro cronista a detectar a importância do jogo para a cidade, assinando com o pseudônimo de José Antonio José (um de seus ‘disfarces’ jornalísticos: com esse nome, escreveu,p.ex., Memórias de um rato de hotel) uma crônica intitulada “Pall Mall Rio – Foot-ball” em O Paiz de 4 de setembro de 1916, onde vaticinava :“Tenho assistido a meetings colossais em diversos países, mergulhei no povo de diversos países, nessas grandes festas da saúde, da força e do ar. Mas absolutamente nunca eu vi o fogo , o entusiasmo, a ebriez da multidão assim.”(...)
Na esteira de João do Rio, impressionados com a avassaladora popularidade do futebol, os intelectuais, e notadamente os escritores, se entregaram à tentação e ao desafio de interpretá-lo e à difusão desses ideais de culto ao corpo e defesa acalorada do esporte como ‘fator de regeneração racial’, como Olavo Bilac, Luis Edmundo, Afrânio Peixoto – este, de participação decisiva nesse despertar de interesse pelo futebol entre os literatos : médico que também era, foi o primeiro a legitimar, sob argumentação científica,o futebol como atividade ‘respeitável’, ligando-o ao intelecto e à educação , anotando em 1918 que “esse jogo de foot-ball, esses desportos que dão saúde e força, ensinam a disciplina e a ordem, fazem a cooperação e a solidariedade, me enternecem, porque são grandes escolas onde está se refazendo o caráter do Brasil” (“A educação nacional”, em Poeira de estrada, ed. Francisco Alves, 1918).
Dentre eles, Coelho Neto logo se notabilizou como o maior dos adeptos, o mais vibrante entusiasta do novo esporte, tornando-se em pouco tempo grande ideólogo do jogo ,mergulhando obstinadamente na defesa apaixonada das vantagens de sua disseminação. A atração pelo futebol manifestou-se já em seu romance Esfinge, publicado em 1908 por Lello & Irmãos, do Porto, -- eis outra efeméride importante deste ano de 2008 -- em que o personagem James Marian, um inglês hóspede da pensão de miss Barkley, tinha o hábito de “aos domingos, sair cedo com seu material de tênis e com roupa para o foot-ball”.

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