sexta-feira, 27 de junho de 2014

MACHADO DE ASSIS, 175 anos(21.06.1839) - V


Os primeiros de Machado (contin.)

a crônica primeira:
A odisséa econômica do sr. ministro da Fazenda"
Afinal apareceu uma das medidas prometidas pelo governo contra os males da situação; medida homeopática com que o Gabinete similia similibus pretende curar o mal que enxerga nas instituições bancárias. O projeto do sr. Sales é realmente uma concepção enfezada, irmão ou próximo parente de um outro de certo deputado que pretende a organização do trabalho.
O homem moral do sr. Sales Torres Homem sofreu uma transformação, e não é certo aquele mesmo que tão ardente parecia no apostolado das liberdades públicas. Este projeto com que o atual ministro pretende aniquilar o crédito, tem um só vislumbre das idéias que animavam aquele Graco de tantas painas vigorosas? 

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### não posso mais do que apresentar aqui excerto dos dois parágrafos iniciais desta crônica, publicada originalmente no jornal O Parahyba, de Petrópolis, em , 26 junho 1859 [há portanto exatos 155 anos, considerando estarmos hoje em 26.06.2014], porquanto , INÉDITA QUE ATÉ AGORA É, em livro ou no digital, será dada a público formal e oficialmente em meu livro "Inéditos de Machado de Assis (uma crônica; um editorial; um conto; duas traduções)', pela Academia Brasileira de Letras - ora no prelo.
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"O Parahyba", jornal bissemanal, fundado em Petrópolis em 1857(a 02.12) pelo jornalista e escritor Augusto Emílio Zaluar, caracterizou-se por um acervo de idéias "progressistas", abrigando, no campo político, teses e posturas liberais pouco comuns então, como p. ex. a educação, questões econômico-financeiras, problemas fundiários e de colonização de terras,além de aspectos ligados a costumes e comportamentos e tratamento de temas pouco enfocados, alguns considerados ‘difíceis’ ou delicados(como p. ex. a situação da mulher na sociedade). o jornal manteve-se até novembro(27) de 1859, vencido por dificuldades financeiras, apesar de contar com um grupo de colaboradores bastante qualificado e de nomes, como Machado de Assis, Quintino Bocaiúva, Manuel Antonio de Almeida,entre outros.
Esta foi a única crônica publicada por Machado em "O Parahyba" , ele então com 20 anos (as outras colaborações machadianas no jornal foram os poemas “Vem!”(11.04.1858), “A uma donzela árabe”- tradução de original de Lamartine (20.01.1859), “A um poeta” (17.02.1859), “S. Helena”(22.05.1859), “Nunca mais” (12.06.1859).
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A crônica – já se denota por suas primeiras linhas -- ostenta nítido e explícito teor político, detectados claramente em seus próprios título e conteúdo. Importante notar que, apesar do vigoroso tom da crônica, não vacila em assiná-la expressamente, com seu nome – ao contrário da ‘cautela’ adotada, p. ex., nos mencionados dois primeiros textos, ao assinar respectivamente As e M.A., em outras de suas crônicas e artigos, em contos – em muitas e muitos com o uso de pseudônimos.
A crônica tem em foco a política econômica preconizada por Sales Torres Homem, então ministro da Fazenda do Gabinete conservador(1858-59) de Antônio Paulino de Abreu, visconde de Abaeté, de reversão do programa de grande expansão do meio circulante posto em prática pelo anterior Gabinete (também conservador,1857-58) de Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda ; Torres Homem encaminha à Câmara projeto, tido como radicalmente conservador e tendente a restringir vigorosamente o crédito. Machado, então liberal ao extremo, interpreta o plano de Torres Homem como “atentatório a liberdades constitucionais” e pondo em cheque a competência financeira do ministro. 

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