sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Aos que vão ao ENEM (III)
Arthur Azevedo, conista;cronista
O conto em Arthur Azevedo
No conto, foi um
inovador. Inventou um gênero ficcional : o conto-comédia, expressão cunhada por
ele presente em boa parte de sua contística , unindo de forma e modo inéditos,e
como ninguém, o teatro – do qual era autor profícuo e consagrado – e a prosa
narrativa ,explorando ao máximo as identificação e intimidade de linguagem
existente entre eles. À teatralidade, aliada à oralidade e ao coloquialismo,
condimentados pelo anedótico deve-se um (a par de outros fatores) porquê ter
conquistado tantos leitores da época.
Nesse sentido, o contista Azevedo interagiu –
para usar um termo de hoje – seus protagonistas e personagens com os leitores,
estes integrados à perfeição com aqueles. Pouquíssimos escritores ficcionais
criaram e mantiveram por toda sua produção tamanha intimidade com o leitor, como um rito
‘sem-cerimônia’ de identificação e confraternização solidária – outro dos porquês da notável
popularidade conquistada por seus contos. Converteu o leitor num aliado, mercê
da familiaridade plena com os
personagens, estes traçados e desenhados à imagem do homem comum habitante da
cidade do Rio de Janeiro na época,
retratado nas histórias sem
disfarces,nuances, sutilezas ou retoques (e retoque, muito menos artifícios
narrativos,estilísticos,temáticos, de trama, de escrita ou de linguagem ,como
sabemos, foi um expediente ou ‘técnica’ de que Arthur Azevedo jamais se
valeu...).
Arthur Azevedo escreveu 238 contos, a grande
maioria originalmente publicada nos
inúmeros periódicos nos quais trabalhou ou colaborou, ou dirigiu, além daqueles que fundou ou ajudou a fundar (vide
o capítulo “Biográfico- bibliográfico de Arthur Azevedo”,neste livro). Embora criando
narrativas curtas desde 1871, só em 1889
animou-se a reunir 24 delas no inaugural Contos
possíveis, dedicado a Machado de Assis ( então um de seus maiores amigos
e companheiro no Ministério da
Viação,Indústria e Obras Públicas), sucedendo-se então as coletâneas Contos fora da moda (1894) e Contos efêmeros (1897); e postumamente Contos em verso (1909), Contos cariocas (1928); Vida alheia (1929); Histórias brejeiras (1962) , Contos
ligeiros (1974). No entanto, do
total da produção contística de Azevedo, muitos deles permanecem absolutamente
inéditos em coletâneas ou seletas, ou volumes isolados – ou conjuntos e
conteúdos digitais -- até aqui
organizados, editados e veiculados.
________________
A crônica em
Arthur Azevedo
De um modo geral, a linguagem da crônica, per se caracterizada pela fluência,
simplicidade e leveza, dirigia-se a um destinatário que não procurava o
rebuscamento e a fineza da língua culta: o público-leitor dos jornais buscava,
nas crônicas, comentários leves e divertidos, facilmente entendidos , e
simplicidade não significava descuido por parte do escritor, o coloquialismo
funcionando como meio e modo de diálogo
entre o cronista e o leitor.Da pena de Arthur Azevedo foram geradas centenas
de crônicas dispersas em mais de 41 periódicos – desde 1857 , ele ainda em São Luiz ;
estabelecido no Rio de Janeiro a partir de 1873, iniciou colaboração
(primeiramente como revisor) no jornal A
Reforma, em 1874, daí
sequencialmente – incluindo séries específicas sobre teatro -- em
diversos periódicos, somente deixando de
publicá-las por sua morte, em 1908. Nesses 41 anos de produção cronística dotou
o leitor das três últimas décadas do século XIX e dos primeiros anos do século
XX de informações e comentários sobre
a vida social, política e cultural do Rio de Janeiro da época – sob olhar e
lentes de um grande observador do
cotidiano da cidade e dos costumes e comportamentos humanos. Mais ainda que nos
contos, chega a número considerável as crônicas azevedianas ainda por serem
recolhidas de suas publicações originais
e dadas a público em livros.
Paralelamente, além de sua obra dramatúrgica,
Artur Azevedo atuou regularmente como
cronista teatral por mais de duas décadas – conjuntos textuais que
documentam e comentam as vida e atividade teatral no Rio de Janeiro da
virada do século XIX e se constituem importante retrato do panorama cultural
brasileiro do período.
As
crônicas, em suas diversas séries publicadas ao
longo do tempo, eram utilizadas por Arthur Azevedo para comentar – e
criticar -- em tom leve, acessível a todos os leitores, os problemas da cidade,
a falta de meios de transporte, das
chuvas, a jogatina excessiva, a modernização urbana, a política, os fatos e
ocorrências importantes, a defesa da arte; quase sempre com a mistura de diferentes assuntos em um mesmo
texto -- caleidoscópica, uma “manta de retalhos”, segundo o próprio Arthur Azevedo -- outras, em textos inteiros dedicados a apenas
um assunto. Sempre incorporando ao conteúdo textual a atualidade do Rio de Janeiro e do Brasil e do mundo, sob a
diversidade de temas e enfoques.
Por suas diversas formas, focos, estilos,
séries, períodos e veículos, constituem
as crônicas azevedianas preciosas fontes de retrato e registro – não apenas da
cidade do Rio de Janeiro, da sociedade fluminense – sobremodo do processo de
transição institucional e política do país no final dos Oitocentos, por
extensão da própria história brasileira
da passagem de um século a outro.
M.R.
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