terça-feira, 2 de julho de 2013

sobre Constituinte (e a propósito de um sesquicentenário)-- pelo momento brasileiro

A Constituinte perante a História

(...) Trata o sr. Homem de Mello -- um dos mais notáveis talentos nacionais no qual o verdor dos anos corre a par com a erudição e a proficiência literária – de provar que o período da Constituinte ainda não foi justamente apreciado pelos contemporâneos.
Um desejo constante de acertar, tanto na ordem das idéias, como na ordem dos fatos, eis o que se nota nos escritos do sr. Homem de Mello. (...) O pensamento do sr. Homem de Mello é altamente patriótico. Ele quer liquidar imparcialmente o passado para tornar mais fácil o inventário das nossas coisas aos historiadores do futuro. É difícil a tarefa, nem o sr. Homem de Mello dissimula: julgar a frio os homens de quem parece ouvir-se ainda os passos no caminho do nosso passado político, violentar as nossas afeições, modificar as nossas antipatias, é uma obra de consciência e de coragem, digna e honrosa, é certo, mas nem por isso fácil de empreender.
Compenetrado desta verdade, o sr. Homem de Mello procura e consegue evitar o perigo. Para esse resultado, em que toma parte a consciência do escritor, tenho para mim que contribui no seu tanto a índole do homem.É o sr. Homem de Mello de natural frio e meditativo. Parece que tem medo à precipitação e à involuntariedade, medo que sempre foi uma das primeiras virtudes do historiador.
 Para estudiosos tais são necessários os louvores, não somente como prêmio e animação a esses, mas ainda como estímulo a outros. Que o sr. Homem de Mello prossiga nas suas investigações histórico-políticas e que outros o imitem em trabalhos tão sérios, é o mais legítimo desejo de quem ama a vitória do pensamento e da verdade.
Falei no que o historiador pode tirar da história; passarei a falar no que a história fornece ao romancista.“Querem romances? perguntava Guizot. Por que não encaram de perto a história?”(...)
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[este fragmento integra artigo de Machado de Assis acerca do livro A Constituinte perante a História, de Homem de Mello, publicado originalmente no  Diário do Rio de Janeiro, 24.08.1863  - prestes portanto a completar 150 anos].


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