segunda-feira, 6 de maio de 2013
A Princesa, como ela era; O cronista, como ele não era
Isabel Cristina
de Bragança e Bourbon (depois unida por casamento a Gastão de Orléans, conde d'Eu, e originando o
nome Orléans e Bragança, exclusivo para seus descendentes), feita princesa
Isabel do Brasil -- retratada por lentes
diferentes da ótica comum à historiografia oficial.
Em O castelo de papel (ed. Rocco, 302 pgs),
de Mary del Priore, a última princesa imperial e regente e a primeira senadora
do país é mostrada em suas íntimas natureza atitudes e comportamentos, a
relação com o conde d'Eu, sobretudo sua real postura pessoal com relação à
escravatura e à abolição : quase nada ‘revolucionária’,não a figura
progressista, abolicionista, mas uma mulher recatada, dedicada à jardinagem, à
família, à religião, até com certo preconceito com relação aos escravos, “uma
dona de casa, que se importava com regimes e com o conforto dos filhos".
Mary é notável em
relatos e retratos desse tipo: historiadora emérita – dedicada em especial a
estudos sobre o Império brasileiro (autora, entre outras obras, de A carne
e o sangue: a Imperatriz D. Leopoldina, D. Pedro I e Domitila, a Marquesa de
Santos; Histórias íntimas: sexualidade e erotismo na História do Brasil; Condessa de Barral, a paixão do Imperador
; O príncipe maldito ; História
do amor no Brasil ; História das
mulheres no Brasil ; Festas e utopias
no Brasil colonial) – escritora de largos recursos estilísticos –
lastreados em sólido embasamento literário: mesmo suas obras historiográficas
guardam nítido,e atraente, estilo descritivo e comentado digno das melhores
narrativas literárias (inclusive publica agora sua primeira ficção, A descoberta do Novo Mundo ) -- foi professora da USP e da PUC-Rio.
__________________
Este novo livro propicia-me mais uma prazerosa oportunidade
de diálogos com ela – e: entre Isabel e ... Machado de Assis.
Isabel, Mary, Machado [e eu]
Em meus estudos machadianos, especificamente
nas crônicas identifico e mapeio referências de Machado de Assis a Isabel
(quase nada ao conde d’Eu; muitas e
muitas, obviamente, ao imperador Pedro II ).
Uma apreciação acerca de referências a Isabel,
à família imperial e ao imperador Pedro II
teria necessariamente de se constituir e desdobrar, como um pano de
fundo mais amplo e abrangente, em torno da própria postura, e atitudes, de
Machado com relação à Monarquia, ao regime monárquico, ao governo imperial – especialmente
aqui examinados sob duas claves,ou crivos, temporais: os anos de 1864 e 1888 .
De resto, vieses que se colocam essencialmente no amplo espectro da relação
machadiana com a política.
Como descrevi e enfatizei em meu estudo – a se
tornar livro – “Machado de Assis, crônicas: a política, a história brasileira
do século XIX”, foi ele ativo observador e intérprete, participante e mesmo
atuante, como nenhum escritor de seu tempo, no que se refere a fatos, temas e questões
políticas de seu tempo.
Machado de Assis recebeu indevidamente, numa
das mais equivocadas avaliações da literatura brasileira, a pecha de
“despolitizado”, “apolítico”, “alheio às questões políticas e sociais de seu
tempo”. Ao contrário, foi um lúcido ‘relator’ da história brasileira e um
crítico atento e severo da sociedade e das instituições do País: as
crônicas tratando de política,ou a ela
se referindo – são 385, cerca de 52% do total das 738 publicadas por ele – desmistificam taxativamente a injusta,indevida
‘chancela’.
Por meio de sua obra é possível observar a
política brasileira da época através dos
olhar, lente e pena machadianos que se dedicaram a retratar, relatar, comentar,
criticar ou parodiar, ironizar ou protestar, repudiar ou gracejar tanto os
acontecimentos principais como os secundários, tanto os macro como os micro-
eventos, tanto a história\vida pública quanto a história\vida privada – conferindo a ambos a mesma importância e a
mesma ‘grandeza’ nas linhas e entrelinhas de suas quase quatro centenas de
crônicas tratando de fatos,homens e coisas da política, de que a ele pouco,
muito pouco escapou. Seu testemunho croniquesco sobre a vida política do II
Reinado e início da República, de tão
precioso e valioso , pode ser dado como indispensável para o conhecimento e
interpretação do Brasil oitocentista.
Machado de Assis foi dado como um ‘monarquista
liberal’, mas evocado como extremamente “respeitoso” ao imperador (“rei filósofo, de espírito superior, um homem
probo, lhano, instruído, patriota” – em crônica de 01.10.1877, na Ilustração Brasileira), por extensão a
toda família imperial.
O que não o impedia de, em diversas crônicas,
tecer enfáticas, por vezes cáusticas, críticas a atos e decisões, políticas, administrativas,
institucionais, econômicas, de Pedro II
Como p.ex. em maio 1863 , quando da decretação
da dissolução da Câmara -- o imperador exercendo sua prerrogativa de “poder
moderador” --, escrevendo na crônica de 15.05. em O
Futuro
“Se
me fosse dado escrever uma crônica
política, esta seria de todas as minhas crônicas a mais farta e a mais
interessante. Com efeito, a situação a que pôs termo o decreto de 12 do
corrente [1]marca,
na história do Império, um dos mais graves e embaraçosos momentos; e a mais
simples exposição do meu pensamento, em relação à gravidade do caso e ao
alcance da medida, bastaria para encher o espaço de três crônicas.
Os ingleses têm, entre
outras manias, a mania de grandes e singulares apostas. Não menos ingleses
foram muitos dos nossos políticos que, confiado cada qual na sua impressão ou
na sua esperança, lançaram-se à aventura e ao azar da fortuna. Qual, apostava
cem bilhetes da loteria afirmando a conservação da câmara temporária ; qual,
punha a sua fortuna em jogo, se alguém a quisesse aceitar, afirmando a
conservação do gabinete; e neste movimento escoaram-se os dias que mediaram
entre a abertura do parlamento e a dissolução da Câmara.
Os mais espertos, dos tais
que vivem ... aux dépens de celui qui l' écoute, afirmavam, uns a dissolução,
outros o adiamento, outros a queda dos ministros, isto com um ar de iniciados
nos segredos de cima, que faria rir ao mais grave e sisudo deste mundo.
O que é certo é que o ano
de 1863 é, e há de ser fecundo em acontecimentos.
Aguardemos o que vier, e deixemos a apreciação do decreto de
12 de maio, não sem registrá-lo como uma data de regeneração. (...)”
Ou antes, em janeiro 1859, no artigo “O Jornal
e o Livro” no Correio Mercantil
(10-12.01) – que a rigor embasa uma explícita postura ideológica relativa à
Monarquia (no caso, contrária -- o que contrapõe ao desígnio contumaz de ter
sido ele um ‘monarquista liberal’: liberal, sim, monarquista nem tanto....: o
notável estudioso machadiano Jean-Michel Massa sustenta significar uma guinada
radical, do “outrora convivente com a burguesia e elogioso de seu imperador
agora predizendo a queda das realezas”[sic]):
“[Graças ao jornal] completa-se
a emancipação da inteligência e começa a dos povos. O direito da força, o
direito da autoridade bastarda consubstanciada nas individualidades dinásticas
vai cair. Os reis já não têm púrpura, envolvem-se nas constituições. As
constituições são os tratados de paz celebrados entre a potência popular e a
potência monárquica(...)”
Ainda para efeito de refletir quanto às
relações de Machado com a Monarquia, importante notar, e anotar -- a par do escrito nesse artigo
sua colaboração ao liberal Jornal
do Povo, de vida curta( apenas 5 edições), em 1862 – colaboração efêmera,
como a própria existência do jornal
– certamente por concordar com os
perfil,linha e ideologia do jornal, cujo editorial do 1º. número,
em 07.04, apregoava
“O
povo antes do rei! O direito antes do privilégio! A lei antes da autoridade! No
sistema representativo só o povo delega poderes. Todos os poderes são
responsáveis perante a nação. Não há poder permanente senão a soberania
nacional”
e sustentava no 2º. número, em 12.04
“O
governo paternal do Brasil é uma árvore mancenilha do Oriente. Destrói o que se
abriga à sua sombra”
Particularmente a
Isabel dedicou várias manifestações de simpatia, a maioria das referências
reportam-se ao ano de 1864 – de resto, ano de marcantes fatos nos cenários
políticos e institucionais do país e particularmente relevante para Machado -- quando deram-se dois eventos importantes para
ela – por extensão para o Império e para o país: seu aniversário de 18 anos e seu casamento,
este em especial recebendo de Machado ‘cobertura’ em algumas crônicas, e – acredito que desconhecidos,ou pouco conhecidos,até mesmo
surpreendentes – dois poemas (na verdade, típicos ‘versos de circunstâncias’)
dedicados às núpcias imperiais.
⌂ O ano de 1864 foi um período
significativamente intenso de fatos de política interior e exterior para o
Brasil – todos, sem exceção, em maior ou menor grau, com mais ou menos
intensidade e contundência, registrados, retratados, comentados e interpretados
por Machado nas crônicas que publicou no
período. Ocorreram significativas trocas de Gabinetes -- primeiro, em janeiro, ao do conservador
Marquês de Olinda sucedeu o do liberal Zacarias de Góis Vasconcelos,que durou
apenas até agosto, sob forte oposição parlamentar fomentada por Saldanha
Marinho -- diretor do Diário do Rio de
Janeiro, onde Machado escrevia, inclusive tecendo críticas e se opondo a Zacarias em várias crônicas,também naquelas
que publicava na Imprensa Acadêmica ;
depois, no final de agosto, para o também liberal Francisco José Furtado,que durou até maio
1865 – deu-se o rumoroso caso ,na seara econômico-financeira, da falência da
casa bancária Souto & Cia,que gerou pânico generalizado e inclusive crise
política; ativaram-se as demarches para a célebre Questão Christie, que um anos
antes puseram em confronto diplomático e político Brasil e Inglaterra; conflito
da mesma natureza irrompido com o Uruguai em decorrência de uma guerra
civil eclodida em 1863 com graves incidentes com brasileiros residentes; e por
fim o aprisionamento, ordenado por Solano Lopez, do navio “Marquês de Olinda” e
invasão do Mato Grosso, gestando os elementos
preliminares da Guerra do Paraguai, que se iniciaria em 1865 e geraria
decisivas(porque.segundo historiadores, ‘acenderia o rastilho de pólvora que
explodiria na implantação da República”) debilidades política
e econômica do governo imperial.
Vale
anotar que 1864 abrigou 25 crônicas de
Machado tratando de política, dentro de um conjunto de 57 – basicamente,
proporção semelhante à do cômputo geral.
Para Machado, esse ano situava-se numa
espécie de ‘epicentro’ de consciência e pensamento político entre o ápice do
engajamento em 1862 -- sob a trajetória iniciada três ou quatro anos antes, ao se
agrupar em torno dos portugueses e sobretudo do proscrito francês Charles
Ribeyrolles, chegado ao Brasil em junho 1858, trocando “a lira [da produção
poética,esta profusa,e da contística romântica dos primeiros anos de produção
literária] pela pena de aço,sob o lema do ‘escrever era agir e lutar’” – e o iniciar da ‘libertação literária’em
1867 – quando da decisão taxativa de dedicação primordial à literatura
E o ano foi relevante também na seara
literária de Machado – tendo como fato
primordial capital a marca-la a publicação de Crisálidas, sua primeira coletânea de poesia.
Nestes textos, eivados e regados de fartos
elogios e enaltecimentos, louvores e saudações, vai se ver – por certo, outra
‘surpresa’ – um Machado essencialmente diferente dos estilo, teor,timbre,tom e tipo que já imprimia a seus
textos na imprensa : importante lembrar que em 1864 Machado fez da maioria de
suas crônicas ,quer as publicadas na Semana
Ilustrada, na Imprensa Acadêmica
– de São Paulo – no Diário do Rio de
Janeiro, nas quais inclusive o cunho político, de comentários muitos deles
críticos sobre política, eram acentuados.
Aparece aqui um Machado, mais do que
simpatizante do imperador e da família real, um ‘súdito do Império’,inclusive
eivado de patriotismo e espírito de ‘cidadania’. A bem da verdade, patriotismo
– um patriotismo com lastros ideológicos e políticos, mister frisar – Machado
sempre expressara, em diversas ocasiões, motivos e meios: por exemplo, quando
da Questão Christie, 1863(em crônicas em O
Futuro e no Diário
do Rio de Janeiro e no poema “Hino Patriótico”,na Semana Ilustrada); e especialmente
quanto à Guerra do Paraguai, enfocada e comentada, em muitas crônicas,desde seus primórdios em 1864 e 1865 (no Diário do Rio de Janeiro) – e muito
especificamente ,um atestado de ‘patrotismo ardente’, o poema “A cólera do
Império”,1865 -- e no decorrer dos
anos de 1866 a 1870 (na Semana Ilustrada).
Não se pode – faço observar de imediato –
imputar ao Machado que se lê nas apreciações sobre Isabel, a família real, o
casamento, etc a pecha de ‘chapa branca’,
por favor – como a de ‘alienação política’ que nele absurdamente colaram ...
_________________
DIÁRIO
DO RIO DE JANEIRO - Comentários
da Semana[2]
(...)
Parece
que os arautos políticos da parte não oficial do Jornal do Commercio
compreenderam bem.a situação, porque, desde então, nenhum mais apareceu no
posto do costume. Um dia antes Scoevola havia começado uma série de artigos
sobre o casamento da princesa imperial, prometendo discorrer para diante acerca
da conveniência de diversos partidos de casamento, que se possam oferecer à
herdeira da coroa brasileira. Até agora, nada.
Pois é pena ! Estava divertido com os seus protestos de queimar a mão,
e com as mesuras repetidas que fazia diante do augusto assunto de que tratava.
A mim, se me afigurou ver o cabeçalho de um Manual de civilidade cortesã.
Valha-os Deus ! Nisto primam eles, e à fé que não é mérito pequeno. Já
não é pouco saber um homem como se há de haver nestas contingências e cortesias
obrigadas. Pelo menos não se corre o risco daquele fidalgo da sociedade beata
de D. João V, de que fala uma biografia-romance, o qual perdera muito no
conceito dos seus por ter dado a toalha, em vez das galhetas, ao oficiante a
quem servia de acólito.
Esperemos, entretanto, pelo final do discurso de Scoevola, que, como o
de Tarquínio, na comédia portuguesa - Roma exige e tem de ser litografado. (...)
M.A
______________
Em meados de 1864, Isabel completando 18 anos,
por incrível que pareça ainda não se sabia ao certo quem eram os noivos (!) – o que era ‘normal’,
corriqueiro em se tratando de casamentos reais, como de praxe arranjados e
obedientes a conveniências e necessidades entre as dinastias, as casas reais,
as famílias da nobreza.
No caso de Isabel, há uma história – bastante
ilustrativa de sua personalidade e determinadas atitudes ( a corroborar, de
certo modo, observações de Mary del Priore quanto a nuances que apontam
uma Isabel diferente da imagem comum e historicamente, até pessoalmente,a ela
conferida – inclusive no que a mostra como alguém “não tão generoso assim...").
Os noivos escolhidos pelos parentes europeus
da família real brasileira para Isabel e sua irmão Leopoldina eram
respectivamente o príncipe Auguste de Saxe Coburgo Gotha,de 19 anos, e seu
primo o príncipe Luis Felipe Maria Fernando Gastão d’Orleans, o conde d’Eu,de
22 anos ; chegados ao Brasil em agosto e apresentados às princesas, foram
simplesmente ‘trocados’ como nubentes : de imediato, Isabel externou a
preferência,e o reclamou para si, pelo conde d’Eu – e tudo acabou por atender
às suas exigências...
As expectativas, injunções e preparativos para
o casamento ocupavam lugar e tempo marcantes tanto na imprensa – e
especificamente em crônicas de Machado – como na própria opinião pública.
1 de maio de 1864
imprensa acadêmica
- Correspondência da Corte [3]
(...)
Já que falo em missão diplomática tocarei em outra de que se fala aqui
muito baixinho. Dizem que dentro de pouco tempo estará nomeado embaixador para
ir à Europa contratar o casamento da Princesa Imperial. Acrescenta-se que o
escolhido será da família dos Coburg-Gotha. Sua Alteza completa dezoito em
julho, o que me faz crer que não é verdadeira a parte do boato de que antes dos
dezoito anos estará Sua Alteza casada.
Mas, como disse, isto é apenas boato, e como tal o menciono aqui.
(...)
17 de julho de 1864
imprensa
acadêmica - Correspondência da Imprensa
Acadêmica
(...)
Nada se sabe por ora do casamento de nossas augustas princesas. Sua
Alteza Dona Leopoldina completa depois de amanhã 17 anos. A princesa Imperial
está a fazer 18. Os casamentos parece
que se realizarão, com efeito, em outubro, mas quanto aos augustos noivos reina
o mais absoluto silêncio. Todavia, corre o boato de que o Duque de Penthièvre e
um Hohenzollern são os escolhidos. Nada se sabe.
(...) Sileno
____________
1 de agosto de 1864
diário do rio de janeiro – Ao Acaso[4]
Sua Alteza Imperial completou 18 anos; esta circunstância e a do seu
próximo casamento deram ao dia 29 de julho maior importância ainda.
Sua Alteza está moça; chegou à idade em que lhe é preciso observar os
acontecimentos, estudar maduramente as instituições, os partidos e os homens;
enfim, completar como que praticamente a educação política necessária à elevada
posição a que deve assumir mais tarde.
Se a esta circunstância ligarmos outra, a do próximo casamento de Sua
Alteza, ter-se-á compreendido a máxima importância do dia 29.
Esta importância nada perde de si diante das instituições que nos regem
- apesar de já ir longe o tempo em que o príncipe de Ligne, dizendo-lhe a
imperatriz Catarina que ia consultar o seu gabinete, respondia: -- O gabinete
de S. Petersburgo, bem sei o que é, vai de uma fonte à outra, e da testa à nuca
de Vossa Majestade.
Se hoje não é assim, nem por isso o critério do imperante deixa de
tomar parte no desenvolvimento e na prática das instituições.
(...) M.A.
__________________
25 de setembro de
1864
imprensa
acadêmica - Correspondência da
Imprensa Acadêmica
(...)
Estão oficialmente pedidas as nossas princesas. Casa S.A. Imperial D.
Isabel com o conde d'Eu, e S.A. D. Leopoldina, com o duque de Saxe. O casamento
efetua-se a 15 ou 18 de outubro.
Os dois príncipes têm visitado tudo; são infatigáveis, o que vai
perfeitamente com o espírito ativo de Sua Majestade o Imperador. O conde d'Eu,
sobretudo, tem merecido as simpatias gerais. Supõe-se que D. Fernando vira até
cá.
É por ora o que há de mais importante. Se ocorrer alguma coisa antes de
partir o vapor , aqui lhe direi.
Sileno
_______________
27 de setembro de
1864
diário
do rio de janeiro - Ao Acaso
(...)
Os leitores já sabem que no dia 15 de outubro efetuar-se-á o casamento
de S.A. Imperial com o sr. Conde d’Eu. A imprensa já comemorou a escolha do
noivo e escreveu palavras de cordial respeito e firme esperança no consórcio
que se vai efetuar. A ambição dos povos livres, neste caso, é que nos seus
tronos se assentem príncipes honrados e ilustrados, capazes de compreender toda
a vantagem que se pode tirar da aliança da realeza com o povo[6].
Assim o país recebe alegremente a notícia deste acontecimento.(...)
M.A.
______________
Logo em seguida, esmerou-se em enaltecimentos
das festas em si e em ‘derramados’ louvores e elogios à noiva e à “alegria
íntima, natural, espontânea, que o povo tributa à primeira família da nação”...
17 de outubro de 1864
diário
do rio de janeiro - Ao Acaso
(...)
O Rio de Janeiro está em festas – festas realizadas anteontem e festas
adiadas para 24 e 25. O casamento da herdeira da coroa é o assunto do momento.
Um céu puro e um sol esplêndido
presidiram no dia 15 a
este acontecimento nacional. A natureza dava a mão aos homens; o céu comungava
com a terra. Não descreverei nem a festa oficial, nem a festa pública. Quem não
assistiu a primeira leu já a relação dela nos andares superiores dos jornais;
na segunda todos tomaram parte – mais ou menos – todos viram o que se fez, em
arcos, coretos, pavilhões, iluminações, espetáculos, aclamações e mil outras
coisas. E sobretudo ninguém deixou de
ver e sentir a melhor festa,que é a festa da alegria íntima, natural,
espontânea, que o povo tributa à primeira família da nação. Uma das coisas que
fez mais efeito nesta solenidade foi a extrema simplicidade com que trajava a
noiva imperial. É impossível desconhecer o delicado pensamento que a este fato
presidiu: na idade e na condição de Sua Alteza as suas graças naturais, as
virtudes do coração e o amor deste país, são o seu melhor diadema e as suas
jóias mais custosas.
(...) M.A.
_______________
Não apenas em crônicas Machado exibiu – espontânea
ou convenientemente, assim especulo (talvez incentive reflexões e debates) –
seu apreço pela princesa e um inusitado júbilo pelo casamento, não obstante
suas importância e repercussão
serem inerentes às monarquias hereditárias, pelo que significava
de continuidade da dinastia imperial. No próprio dia 15 de outubro, na Semana Ilustrada – da qual era também
colaborador (e o foi até 1873,quando o jornal foi extinto – sucedido pela Ilustração Brazileira,do mesmo Henrique
Fleuiss,onde Machado escreveu de 1876
a 1878 ) – publicou um poema (pode-se dizer que quase
inédito em livro) : sob o mesmo espírito de enaltecimento às núpcias imperiais,
exemplo típico de ‘versinho de circunstância’, particularmente convencional e
despojado de maiores qualidades poéticas, tanto que assinados por pseudônimo.
Estâncias
nupciais
I
Que riso este ar encerra ?
Que canto? Que troféu ?
Que diz o céu à terra ?
Que diz a terra ao céu ?
II
Do seio das florestas
Que aroma sobe ao ar ?
E que oblações são estas
Que a terra envia ao mar ?
III
A peregrina Alteza,
A rosa matinal,
O sonho de pureza
Da mente imperial.
IV
É noiva. A mão de esposa
Ao feliz noivo dá;
Era de amor ditosa
Esta hora lhe abrirá.
V
Almas de luz unidas
Na pura candidez
O amor – de duas vidas
Uma só vida fez.
VI
E a filha predileta
Do paternal amor,
A doce,excelsa neta
Do excelso Fundador,
VII
Aumenta a nossa glória
No sólio imperial,
E a fúlgida memória
Da honra nacional.
Y
_______________
Ainda
sobre os esponsais, foi apresentada na mesma semana, no Teatro Lírico, uma
cantata em homenagem aos nubentes, com música do maestro Besanzoni e versos de
Machado – que a Semana Ilustrada publicou na edição de 25 outubro
:
Poema de simples, singelo,terno patriotismo, -- não mais que isso.
Núpcias
Do seio da espessura,
Ó virgem do Brasil,
Ergue radiante e pura
A fronte juvenil.
Tece com as mãos formosas
À noiva imperial
De lírios e de rosas
A coroa nupcial.
Flor desta jovem terra,
Em seu profundo amor,
Como um penhor encerra
Cândida,excelsa flor.
Vivo,fulgente emblema
Das glórias do porvir,
Que o régio diadema
Um dia hás de cingir;
Salve! Os destinos novos,
Novos, futuros bens,
Querida destes povos,
Em tuas mãos os tens.
Num juramento unidas
Ante o sagrado altar,
As almas, como as vidas,
O céu veio aliar.
É vínculo precioso
Que o prende agora a ti.
Esposa, eis teu esposo;
Alegra-te e sorri.
Abram-se à nova história
As páginas leais,
Onde se escreve a glória
Da pátria e dos teus pais.
E a mão que não consome
Memórias tão louçãs,
De dois fez um só nome:
Bragança e Orleans !
_________________
O nascimento do primeiro filho do casal em
fevereiro 1878 não poderia deixar de ser comentado por Machado. Um varão
(anteriormente Isabel perdera uma menina),por fim : viria a ser o príncipe d.
Luís d’Orléans e Bragança , que escreveria a coletânea de contos Sous la Croix du Sud ,em 1912 – sem edição
brasileira, hoje, obra rara, de alto valor
bibliográfico e comercial -- e que iria concorrer em 1915,sem sucesso, a
uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.
fevereiro de 1878
ilustração brazileira – História de Trinta Dias[7]
(...)
Um novo príncipe enche de regozijo a família brasileira, cujo augusto
chefe reúne às mais elevadas virtudes cívicas as mais austeras virtudes
domésticas.
Sua Alteza a Princesa Imperial sente dobrarem-se-lhe inefáveis alegrias
de mãe.
Ainda bem !
Digna filha da virtuosa Imperatriz, saberá dar a seus amados filhos as
lições que recebeu, e que a exalçam de nobilíssimas. virtudes ; lições iguais
às que lhe transmitirá o ilustre príncipe consorte, educado na escola do velho
rei que deu à França 18 anos de paz, de prosperidade e de glória.
Manasses
_______________
A Isabel, sempre que o imperador estivesse
ausente do país – e cada vez mais freqüentes eram suas viagens à Europa – cabia,como
(interina) Regente a responsabilidade pela “Fala do Trono”,tradicional evento
de reabertura das câmaras (isto é, Câmara dos Deputados e Senado): a
cerimônia,e o discurso da princesa(elaborado
por Ferreira Viana), no dia 3 maio 1888 foi absolutamente especial -- nela Isabel anunciou oficialmente a
Abolição, que seria promulgada em lei no dia 13.
⌂ Também no
que tange à escravatura, e do mesmo modo, absurdamente, evocou-se a tese da ‘alienação’ machadiana. Mister portanto esclarecer de vez : Machado nunca
deixou de exprimir seu mais absoluto horror à escravidão – fosse como funcionário da Diretoria da Agricultura do
Ministério da Agricultura (órgão que tratava da política de terras e da
aplicação da Lei do Ventre Livre, de 1871), na qual emitiu centenas de pareceres e réplicas no sentido
de fazer cumprir a Lei e o preceito de liberdade para os filhos de escravos
nascidos , fosse em sua obra ficcional e não-ficcional. Fez da escravatura
objeto crítico – por vezes desenhada
pelas ‘entrelinhas’, por vezes direta, nada oblíqua ou dissimulada – em dezenas
de crônicas – notadamente aquelas da série “Bons Dias!”,na Gazeta de Notícias, em 1888-89,na qual inclusive valeu-se de um ‘histórico’ anonimato -- em poemas,
peças teatrais, sobretudo contos,
além de torná-la pano de fundo de alguns
romances, tanto os primeiros como aqueles pós-1880..
Por outro lado, sustentava que a Abolição
não iria representar em essência uma ‘revolução’ nem a liberdade mas apenas a transferência de um regime
opressivo para outro, para um mercado de
trabalho e uma convivência social sem perspectivas (em sua visão, aliás, o
mesmo se dava com a República, para ele uma mera mudança de ‘rótulo’, a
oligarquia continuando a governar...). Nesse ‘terreno’, mais do que nunca
manejava ironias finas, como lhe era peculiar, para tratar criticamente de
temas graves e delicados—nos quais suas posições o como de resto na política em
geral oferecem nuances e elementos
passíveis de interpretações equivocadas, ou no mínimo precipitadas.
O biênio 1888-89, sabemos, foi
crucial para o Império,a Monarquia brasileiros, para a história nacional – e para Machado.Às complexidade e gravidade do
momento histórico que o Brasil vivenciava, em plena efervescência dos
movimentos abolicionista e republicano, gerando evidentemente preocupações e
tensões gerais, não poderia Machado ficar alheio : inclusive por estar
consciente da necessidade de,a seu modo e em sua seara literária, participar
mais diretamente dos acontecimentos levou-o a interromper,até abruptamente, a
(bem sucedida) série “Gazeta de Holanda”,1886-88 (crônicas em forma de poemas ,
os “versiprosa” segundo expressão cunhada por ele - antecipando em muitos anos
a Carlos Drummond de Andrade...), iniciando, na mesma Gazeta de Notícias, a série “Bons Dias!,que publicou de abril
1888 a
agosto 1889, toda ela assinada por “Boas Noites” -– o que se constituiu
em ‘histórico’ disfarce machadiano (como lhe era típico, aliás), pois somente
identificado pelo dedicado estudioso José Galante de Sousa em 1952 (!) -- com
crônicas de contornos e proporções mais densos , mais acentuadamente
dramáticas, refletoras da comoção política irrefreável que tomava conta do
país, carregadas de densidade,contundência e incisiva crítica , nas quais
como nunca antes expressa opiniões
políticas de tais forma, modo e grau,,inclusive com apreciações sobre a
escravidão,a Monarquia e a iminente República.
.
4 de maio de
1888
gazeta de notícias – Bons Dias !
(...)
Entretanto, se alguma vez precisei
de estar de perfeita saúde, é agora, por várias razões. Citarei duas:
A primeira é a abertura das câmaras. Realmente, deve ser solene. O
discurso da Princesa, o anúncio da lei de Abolição, as outras reformas, se as
há, tudo excita curiosidade geral, e naturalmente pede uma saúde de ferro. O
meu plano era simples; metia-me na casaca. E ia para o Senado arranjar um
lugar, donde visse a cerimônia, deputações, recepção, discurso Infelizmente,
não posso; o médico não quer, diz-me que, por esses tempos úmidos, é arriscado
sair de casa; fico.
A segunda razão da saúde que eu desejava ter agora, prende com a
primeira. Já o leitor adivinhou o que é. Não se pode conversar nada, assim mais
encobertamente, que ele não perceba logo e não descubra. É isso mesmo; é a
política do Ceará. Era outro plano meu; entrava pelo Senado, e ia ter com o
senador cearense Castro Carreira, e
dizia-lhe mais ou menos isto:
— Saberá V. Ex.a que eu não entendo patavina dos partidos do Ceará.
(...)
— Há entre o céu e a terra mais acumulações do que sonha a vossa vã
filosofia...
— Pode ser, mas isto ainda não me explica a razão desta mistura ou
troca de grupos, parecendo melhor que se fundissem de uma vez com os antigos
adversários. Não lhe parece?
— O que me parece, é que a princesa vem chegando.
Corríamos a janela; víramos que não, continuávamos o diálogo, a
entrevia, à maneira americana, para trazer os meus leitores informados das
cousas e pessoas. O meu interlocutor, vendo que não era a promessa, olhava para
mim, esperando. Pouco ou nenhum interesse no olhar; mas é ditado velho, que
quem vê cara não vê corações. Certo fastio crescente. Princípio de desconfiança
de que eu sou mandado pelo diabo. Gesto vago de cruzes...— Há os Rodrigues, os
Paulas, os Aquirases, os Ibiapas; há os...
— Agora creio que é a princesa. Estas trombetas. . . É ela mesma adeus,
sou da deputação... Apareça aqui pelo Senado... No Senado, não há dúvidas...
(...) BOAS NOITES
______________
No mesmo ano, em maio Isabel ainda era
a Regente, pela ausência de Pedro II, e nessa condição era a figura proeminente na cerimônia de missa
campal celebrada no Campo de São Cristóvão,a 17 maio, em ação de graças pela
Abolição, com a presença de muitas personalidades políticas,inclusive Cotegipe,
até março presidente do Conselho, forçado a se demitir (sucedido pelo Gabinete
de João Alfredo), antiabolicionista que era,
face à inevitabilidade de decretação da libertação total de escravos.
Na crônica alusiva ao evento, Machado constrói
uma clara paródia do Evangelho segundo João ( Cap 1,vrs. 1 : “No princípio era o Verbo,e o Verbo estava com
Deus) -- era ele profundo conhecedor da Bíblia, aliás -- devidamente
adaptado para o cenário político do Império. – e então aparece,ou reaparece, o
cronista vigoroso,contundente,lúcido intérprete da realidade do país.
20-21 de maio de 1888
imprensa fluminense – Bons
Dias ![8]
BONS DIAS!
Algumas pessoas pediram-me a tradução do Evangelho que se leu na grande
missa campal do dia 17. Estes meus escritos não admitem traduções, menos ainda
serviços particulares; são palestras com os leitores e especialmente com os
leitores que não têm que fazer. Não obstante, em vista do momento, e por
exceção, darei aqui o evangelho, que é assim:
1. No princípio era Cotegipe , e Cotegipe estava com a Regente, e
Cotegipe era a Regente.
2. Nele estava a vida, com ele viviam a Câmara e o Senado.
(...)
10. Passados meses, aconteceu que o espírito da Regente veio pairar
sobre a cabeça de João Alfredo, e Cotegipe deixou o poder executivo e o poder
executivo passou a João Alfredo.
(...)
24. E, tendo a Regente abençoado a João e seus discípulos, foram estes
para as câmaras, onde apresentaram o projeto de lei, que, depois de algumas
palavras duras e outras cálidas de entusiasmo, foi aprovado no meio de flores e
aclamações.
25. A Regente, que esperava a lei nova, assinou com sua mão delicada e
superna.
26. E toda a terra onde chegava a palavra da Regente, de João Alfredo e
dos seus discípulos, levantou brados de contentamento, e os próprios senhores
de escravos a ouviam com obediência.
(...) BOAS NOITES.
______________
6 de outubro de 1888
gazeta de notícias – Bons
Dias !
(...)
E vosmecês, como vão da sua tosse? Provavelmente não perderam o
pique-nique (tenho lido esta palavra escrita ora pik-nik, ora pic-nic ; depois
de alguma meditação, determinei-me a escrevê-la como na própria língua dela),
nem sessões de câmaras, nem a entrega da Rosa de Ouro a Sua Alteza Imperial. E
eu de cama, gemendo, sabendo das coisas pelas folhas. Foi por elas que soube da
interpelação do sr. Zama, a qual deu lugar à Gazeta de Notícias proferir uma
blasfêmia. Dizia ela que direito de interpelação degenera aqui, e chama-lhe
válvula. (...)
BOAS NOITES.
________________
Como um tipo de corolário a estas
considerações – e fechar o exercício de ‘diálogo’ : do mesmo modo que Mary del
Priore mostra e revela uma Isabel algo
diferente do retrato historiográfico oficial, como uma ‘mulher comum’, esposa
dedicada e apaixonada, dona de casa e mãe, também apresenta-se – qual interface
– um Machado de Assis distinto do cronista incisivo, do comentarista crítico,
do contundente intérprete da realidade política,institucional,social, etc brasileira
do século XIX : um esmerado louvador da família monárquica, simpatizante
explícito da princesa e do casal imperial; um Machado formal,protocolar nas
crônicas (exceto naquela de 20-21.05.1888), um patriótico poeta piegas.
Em suma: a princesa,
como (realmente) era; o cronista, como (essencialmente) não era.
.
[1] Decreto n. 3092, que
dissolvia a Câmara dos Deputados e convocava “desde já outra”; acoplado ao de
n. 3093, da mesma data, que convocava “para o dia 1 de janeiro do ano próximo
futuro a nova Assembléia Geral Legislativa”.
[2] Com esse título, a
série publicada por Machado, parte com pseudônimo Gil, parte com assinatura M.A,
no Diário do Rio de Janeiro perdurou de
novembro 1861 até maio 1862.
[3]
A Imprensa Acadêmica, cujo titulo completo
era Revista da Imprensa Acadêmica,
jornal “comercial, agrícola, noticioso e literário” dos estudantes da Academia
de Direito de São Paulo, fundada em 1864 (circulou até 1871), publicação de
acentuadissimos cunhos literário e
político, com ideologia de inspiração liberal : Machado colaborou com crônicas e artigos de abril a
outubro desse ano,e em 1868. [compõe obra que estou a preparar,
preferencialmente para se editar e publicar em São Paulo ].
[4] Com esse título, a série
publicada por Machado, toda com assinatura M.A,
no Diário do Rio de Janeiro, perdurou
de de junho 1864 a maio 1865..
[5] O cronista, aqui,
procura expressar a ainda existência de
dinastias, embora não houvessem mais monarquias absolutas.
Contudo, vale neste particular lembrar
o que Machado escrevera naquele artigo “O Jornal e o Livro”, de 1858, no
Correio Mercantil.
[6] A expressão adquire seu
significado exato sob o prisma do ‘monarquismo liberal’: o conde d’Eu era tido
como de tendência liberal e se ligaria com o tempo a políticos liberais – a
corroborar plenamente Mary del Priore
que o descreve como “muito mais ativo, buscando mais protagonismo”.
[7] Machado iniciara, na Ilustração Brasileira, a publicação de
crônicas a cada duas semanas com a série
“História de Quinze Dias”, que foi de julho 1876 a janeiro 1878, todas com o pseudônimo Manassés; a partir de fevereiro 1878, a periodicidade
passou a mensal, alterado o título da
série para “História de Trinta Dias”,encerrando a colaboração ao jornal em
abril 1878.
[8] Apenas nesta crônica, e
nesta única vez, Machado colaborou com a Imprensa
Fluminense, jornal de Niterói,estado
do Rio de Janeiro, que defendia a Abolição : não se sabe exatamente os motivos
e as circunstâncias para que levasse uma crônica da série, que era da Gazeta de Notícias, para esse jornal.
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