quinta-feira, 18 de abril de 2013

LOBATIANAS

dia de LOBATO, dia do LIVRO INFANTIL; dia da CULTURA BRASILEIRA !
neste duplamente memorável dia -- de nascimento de Monteiro Lobato
; do livro infantil -- entrei (e milhões de crianças) no mundo dos livros exatamente por Lobato e suas obras para infantis... 
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em reverência e referência a Lobato e a mais pura e melhor literatura infantil que já se fez entre nós.[a notar que,em seguida à estória, Lobato apunha um complemento interpretativo,de cunho até mesmo 'didático',por meio de diálogo entre Emilia (sempre ela...) e dona Benta ]


O corvo e o pavão

O pavão, de roda aberta em forma de leque, dizia com desprezo ao corvo:
-- Repare como sou belo! Que cauda, hein? Que cores, que maravilhosa plumagem! Sou das aves a mais formosa, a mais perfeita, não?
-- Não á dúvida que você é um belo animal, disse o corvo. Mas, perfeito? Alto lá!
--Quem quer criticar-me! Um bicho preto, capenga,desengonçado e, além disso,ave de mau agouro...Que falha vê em mim, ó tição de penas ?
O corvo respondeu:
-- Noto que para abater o orgulho dos pavões a natureza lhes deu um par de patas que, faça-me o favor,envergonhariam até a um pobre diabo como eu...
O pavão, que nunca tinha reparado nos próprios pés, abaixou-se e contemplou-os longamente. E, desapontado, foi andando o seu caminho sem replicar coisa nenhuma.
Tinha razão o corvo: “Não há beleza sem senão”.
[in Fábulas, 1922]
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-- que quer dizer “senão”, vovó?
-- aqui nesta frase quer dizer defeito.
-- e por que não é defeito?
-- porque o modo de botar um defeito em alguém ou alguma coisa é sempre por meio do “senão” – e por fm essa palavra ficou sinônima de defeito.
-- mas será verdade, vovó, que não há mesmo beleza sem senão ?
-- a fábula diz que não há e as fábulas sabem...
-- são sabidinhas, sim! Confirmou Emilia. E a dos filhos da coruja é a mais sabida de todas. Quem é que andou inventando as fábulas, dona Benta? foram os animais mesmo ?
Dona Benta riu-se.
-- não, Emilia. Quem inventou a fábula foi o povo e os escritores as foram aperfeiçoando. a sabedoria que há nas fábulas é a mesma sabedoria do povo,adquirida à força de experiências.
-- mas não haverá mesmo beleza sem senão, vovó? Insistiu a menina.
-- há sim, minha filha. Para mim,por exemplo, você é uma belezinha sem senão.
Emilia torceu o nariz. Depois prometeu escrever uma fábula com o título “Os netos da coruja”.
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Em 2527 
No futuro, a obra literária será apresentada sob forma de essências em frasquinhos ou de alguma especial eletricidade acumulada em bobinas. . Sorvendo a essência ou pondo-se em contacto com o fluido, o 'leitor terá, desdobrado na tela da imaginação, o romance que o autor enfrascou •ou acumulou, e sentirá as mesmas emoções que o romancista, sentiu.
Já em nossos tempos o álcool, o ópio e outras drogas produzem visões e deliciosos estados d' alma. Indeterminados, porém, sem controle possível. No futuro. não. A seriação das imagens será perfeitamente ordenada pelo jogo dos estímulos.
Não se dirá como hoje : li um romance , e sim -- cheirei.
- Marieta, onde pôs você o Professor Jeremias que estive cheirando ontem?
- Caiu das mãos da Valeria e quebrou-se.
- Mande à farmácia comprar outro. E mais novos, Vida Ociosa, Condenados, por exemplo.
- Fluido ou comprimido ?
- Em comprimidos. Com a Valeria, impossível uma biblioteca fluida...
[in Mundo da Lua, 1923 [observe-se : 90 anos de publicação]

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Monteiro Lobato  e o futebol

1. em carta a Godofredo Rangel, em 11.07.1904: "(...) E cá estou de novo em São Paulo, mas ainda atribulado. Mudei-me para um quarto de frente na rua Araújo 26, com um lampião de rua bem junto à minha janela. Tenho luz de graça. E defronte há uma vizinha janeleira que já piscou. Em vez de namorá-la, meti-me no futebol –‘Palmeiras !’ Joguei vários dias seguidos e fiquei mais derreado que com as léguas do sertão. Estou cheio de pisaduras e dodóis. Isto deve ser o que na Vida intensa o Th. Roosevelt quer. O futebol empolgou-me de alma e corpo; escrevo crônicas de futebol e jogo. Diz o Tito que é mania - e diz-lhe o Raul:’Jacques, tu es un âne’. Seja como for, asseguro-te que o futebol apaixona e contunde". 
2. num discurso em 1905 após assistir a jogos entre paulistanos e ingleses: "(...) Essa luta tinha para a população de São Paulo um significado moral dez vezes maior do que a eleição para um presidente do Estado (...) O último goal do Paulistano provocou a maior tempestade de aplausos jamais conhecida em São Paulo (...) É desta espécie de homens que precisamos. Menos doutores, menos parasitas, menos bajuladores, e mais struggle-for-life. Mais homens, mais nervos, mais corpúsculos vermelhos, para que um Camilo Castelo Branco não possa repetir que ele tem sangue corrompido nas veias e farinha de mandioca nos ossos".
3. no artigo "Os 22 da 'Marajó'",escrito e publicado em abril 1923 -- há 90 anos portanto: "Esse delírio que por aí vai pelo futebol tem seus fundamentos na própria natureza humana. O espetáculo da luta sempre foi o maior encanto do homem; e o prazer da vitória, pessoal ou do partido, foi, é e será a ambrosia dos deuses manipulada na terra. Admiramos hoje os grandes filósofos gregos, Platão, Sócrates, Aristóteles; seus coevos, porém, admiravam muito mais aos atletas que venciam no estádio. Milon de Crotona, campeão na arte de torcer pescoços a touros, só para nós tem menos importância que seu mestre Pitágoras. Para os gregos, para a massa popular grega, seria inconcebível a idéia de que o filosofo pudesse no futuro ofuscar a glória do lutador.
(....)
E os delírios coletivos provocados pelo combate de dois campeões em campo? Impossível assistir-se a espetáculo mais revelador da alma humana que os jogos de futebol em que disputam a primazia paulistanos e italianos em S. Paulo. .
(...)
[esses textos compõem meu estudo\projeto "Futebol e literatura"]

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Lobato, grande leitor grande formador de leitor
Monteiro Lobato, inquestionavelmente um grande formador de leitor, dos maiores da cultura brasileira: é um dos escritores ‘presentes’ – como não poderia deixar de ser – no estudo\projeto que desenvolvo [lido com dificuldades para concluí-lo de todo...] , significativamente designado “As leituras dos formadores de leitores”. Ao lado de Lobato, dois outros ‘senhores’ formadores de leitores: Machado de Assis e Lima Barreto. [deduz-se e induz-se o estudo propor-se a reunir e fornecer elementos para atividades de pesquisa, ensino e extensão sobre leitura e formação do leitor nos circuitos universitários, escolares, acadêmicos e de entidades, instituições e programas específicos desse teor; em sua constituição, levanta, identifica, mapeia, examina e interpreta as leituras e influências literárias de autores e de obras,brasileiros e estrangeiros, nos 3 escritores, por meio dos acervos de suas bibliotecas pessoais e de leituras e consultas regularmente feitas por eles em bibliotecas públicas e gabinetes de leitura, e por meio das citações, referências e recorrências praticadas por eles em suas obras, seus textos e seus escritos.]
--sob a 'inspiração', a égide magnífica e magnânima de Monteiro Lobato – quem, como Machado e Lima, foi grande escritor e grande formador de leitor porque muito leu e recolheu de autores e livros -- subsiste a mensagem, uma ‘moral da história’, a todos os contingentes etários,sociais,culturais : leiam muito , assim poderão se tornar grandes cidadãos,grandes profissionais, grandes pensadores...

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