sábado, 31 de janeiro de 2009

a melhor literatura,hoje : São Paulo ou Rio ?


janeiro que finda : aniversário de São Paulo, a 25 ; "aniversário' (simbólico) do Rio, a 20. para estimular reflexões e insuflar o saudável e necessário fluxo de idéias.

Não há a menor dúvida de que uma nova geração de escritores abre espaço na literatura brasileira, uma ‘geração 00’ depois de uma ‘geração 90’, ‘geração 80’, etc -- aliás, foi justamente o que se convencionou catalogar como ‘geração 90’ que permitiu vislumbrar e especular sobre o seguinte : o eixo principal da nova criação literária deslocou-se do Rio de Janeiro maciçamente para São Paulo ( e em muito menor escala, Brasília e o Sul do País).
São Paulo passou a exercer um papel que o Rio de Janeiro, por exemplo, sempre teve. No passado, por conta dos jornais e de um mercado de trabalho melhor, o Rio atraía os escritores, que lá instalados passaram a ser chamados de cariocas. Denota-se ,desde os anos 1980/90 , que o eixo principal da nova criação literária deslocou-se do Rio maciçamente para São Paulo ( e em muito menor escala, Brasília e o Sul do País), autores fluminenses, mineiros, gaúchos, paranaenses estão indo para SP, num movimento que ‘coincide’ -- melhor: determina, define e classifica -- essa nova geração literária.

Se de um lado os mais promissores, os mais potencialmente talentosos, criativos, inovadores, renovadores, estão instalados em São Paulo -- Luiz Ruffato (que é mineiro), Bernardo Carvalho, Bernardo Ajzenberg, Marçal Aquino, Fernando Bonassi, João Anzanello Carrascoza, Marcelo Mirisola, Cadão Volpato -- no Rio ficaram Rubens Figueiredo , Mauro Pinheiro, Adriana Lisboa, Nilma Gonçalves Lacerda,Carlos Trigueiro, Maria Conceição de Góes, todos de alta qualidade literária, sobejamente reconhecida . Mas entre os novos e novíssimos --- como João PauloCuenca, Juva Batella,Bianca Ramoneda, Antonia Pellegrino, Augusto Sales, Mara Coradello,Sidney Silveira -- a realidade mostra não existir, ao contrário de São Paulo, escritores de destaque(e qualidade) no Rio, exceção a João Paulo Cuenca.

Tal cenário ‘dicotômico’ reporta historica, sociologica e antropologicamente à tese de José Murilo de Carvalho , que cito no meu artigo”SP 455 anos”,distinguindo cidades ortogenéticas ---caso do Rio --- e cidades heterogenéticas --- isto é São Paulo.
Não tenho a menor dúvida de que esses conceitos de ortogênese e heterogênese de Murilo de Carvalho se aplicam, adaptadas, guardadas as devidas proporções e escalas, à literatura dos novos escritores que se faz hoje em cada uma das cidades . a de São Paulo, uma “geração 90” batizada por Nelson de Oliveira, muito mais consistente e reflexiva, revela nítida preocupação com a representação da realidade social e política do país (mesmo que incorram, uns mais do que outros, em maior ou menor grau, no lamentável pós-modernismo literário...) -- o que interpreto como uma expressão heterogenética . Na nova literatura que se faz no Rio, vemos presentes apenas questões como “subjetividades plurais, múltiplas identidades, tempo e espaço indefinidos, não lugares”, certas manifestações atrasadas, digo eu, das “aventuras do corpo”, da década 1990, de que fala Ítalo Moriconi ; quer na prosa quer no verso, tão somente expressões de relações afetivas,crises existenciais, um permanente ‘olhar o umbigo’, uma literatura menos ‘racional’, mais ligada ao onírico,ao inconsciente, a um lirismo (distantes e alienados por exemplo dos graves e pesados problemas que a cidade outrora maravilhosa vivencia...), em escritos, informa um site carioca, “feitos depois da praia, em bares da orla” -- para mim, algo claramente ortogenético... Uma frase de Murilo de Carvalho sintetizaria tudo: “a característica ortogenética do Rio fazia com que seus intelectuais tivessem grande dificuldade em compreender perfeitamente a realidade do País e da cidade”--- isso se repete hoje, a meu juízo : Refiro-me a novos escritores, à obra literária dos quais se aplicaria essa ortogênese.
Escritores como Sergio Sant’Anna, Rubem Fonseca, Sonia Coutinho, Heloisa Seixas, Maria Alice Barroso, Nelida Piñon, por exemplo,evidentemente têm uma literatura sedimentada, de altíssima qualidade, que se coloca além e acima disso...

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