domingo, 6 de julho de 2008

eu e a Flip


Na sexta-feira, ora ora meu amigo e parceiro Gustavo Franco, emérito economista e homem público, tratou de “Machado de Assis e a economia” – tema do livro que organizamos juntos, em 2007 : fruto de minhas pesquisas sobre as crônicas machadianas (que geram também aquela antologia sobre política, para o Senado Federal),levei a Gustavo os textos que Machado escreveu na imprensa sobre finanças e daí veio o livro.
O oblíquo olhar na economia
Aqui ,mais do que nunca --pois também fiz o livro -- meto minha colher :
(...)Machado de Assis,sim senhor, tratou de fatos e assuntos da economia e das finanças , como nenhum outro escritor em sua época. Muitos de seus escritos no período 1892-96, publicados na Gazeta de Notícias [um dos principais jornais da capital nessa ocasião, ao lado do Jornal do Commercio, O Paiz, Jornal do Brasil,Diário de Notícias,A Cidade do Rio,Rio-News ] mostram como o notável escritor,cronista,autor e criador debruçou-se com seu olhar acurado,lúcido,crítico,irônico, satírico – por vezes claro, nítido e direto, por vezes obliquo, dissimulado, sutil – sobre as mazelas provocadas e advindas, nos tempos novos da República, de uma ciranda financeira e sua plêiade de emissões, crédito luxuriante, jogatina, falências em cadeia . Não sem antes, ainda no tempo imperial,ter passado pelo machadiano crivo, aguçado e satírico, quebras de bancos – a “quebra do Souto”,alusão à falência da Casa (bancária) A . F. Souto & Cia, em 1864 -- o “estouro” da bolsa de valores em 1867 , a crise financeira inerente à guerra do Paraguai (1865-70), os problemas da conjuntura econômica envolvendo companhias,bancos e entidades.
As crônicas machadianas referentes à economia trazem uma espécie de tese sobre o Brasil : examinadas em conjunto, formam um enredo de sátira ativa ao nítido capitalismo de Estado que vicejava no país, em que tudo emanava do governo , fosse imperial como até 1889, fosse republicano . Machado percebe nitidamente o quanto o capitalismo brasileiro da época era "uma idéia fora lugar", uma máscara sobre uma economia composta de concessões e privilégios todos emanados do Estado .Não é outro o sentido, por exemplo, da postura crítica,no caso notavelmente cética, com relação ao acionista – personagem central de uma alegoria sobre a atividade empresarial no Brasil do final do século XIX : o acionista machadiano não é similar ao de nossos dias, tampouco se preocupa com as boas práticas de governança corporativa ; para ele, não vale a pena participar de assembléias ou interessar-se pelos destinos da empresa , não há por que se envolver com rituais societários, se tudo a rigor era decidido pelo poder público. Tem plena consciência de que o Estado mandava tanto na economia e no país que qualquer outra forma de pensar o capitalismo brasileiro seria mero fingimento.
As crônicas de Machado que tratam de finanças e economia formam um elenco bastante significativo de sua produção não-ficcional : são 79 textos escritas sob o clamor crítico-satírico do olhar machadiano feito testemunho incomparável sobre a história brasileira nas quatro últimas décadas do século XIX
.(...)


Os acasos na vida e na literatura
No sábado, uma das atrações mais concorridas foi o encontro entre o brasileiro João Gilberto Noll -- autor de "Acenos e Afagos", recém-lançado -- e a cineasta argentina Lucrecia Martel -- diretora de "La Mujer Sin Cabeza", exibido no Festival de Cannes em maio e exibido sábado na Casa de Cultura de Paraty – ambos falando sobre o modo como desenvolvem seus trabalhos, na literatura e no cinema. Para Noll, “a vida, no fim das contas, é um festival de acasos", e completou o discurso dizendo que o objetivo da literatura é "mostrar o que está arredio, evidenciar o que está fora do nosso convívio social, aquilo que não se pode dizer sob pena de ser internado em um hospício".

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns por seu trabalho, blog e pesquisas!
abraço
Aparecida Torneros

mauro rosso disse...

prezada ,

muito me agrada,e alegra, seu comentário e,em especial sua deferência - e paciência\benevolência -- em ler as 'maltraçadas'(sic) linhas com que insisto em povoar este blog e buscar difundir a literatura brasileira.
ao dispor. com todo o desejo de muitas felicidades e sucesso a vc.