sábado, 19 de janeiro de 2008

a propósito de futebol,literatura, Mario de Andrade,etc- III


O futebol , os literatos e duas cidades :em São Paulo...

Impõe-se, de resto, a especulação reflexiva sobre duas instâncias do mesmo núcleo de questão: primeira, por que o futebol em São Paulo, a cidade natal do introdutor do futebol no Brasil, a cidade onde fundou-se o primeiro clube de futebol do País, onde realizou-se o primeiro campeonato organizado de futebol, a cidade berço do ‘futebol de rua, de terreno baldio’ , a cidade que produziu o primeiro “craque”do futebol brasileiro, não teve já em seus primórdios ,por parte de seus intelectuais ,a mesma acolhida entusiástica como, por exemplo, a de um Coelho Neto, Olavo Bilac, Afrânio Peixoto no Rio de Janeiro? E depois, como avaliar o comportamento dos modernistas — da “primeira, segunda e terceira fases” (cf. Afrânio Coutinho) — com relação ao futebol ? entende-se que os modernistas da primeira fase tenham visto no futebol, em seu início de implantação no Brasil, um elemento elitista, “burguês e estrangeirista, alheado dos aspectos considerados essenciais e originais da cultura brasileira” — mas por que, depois da avassaladora popularização do futebol, transformado a partir da década de 1930 (o ano de 1938 como taxativo ponto de inflexão) em ‘símbolo de identidade nacional’, não se engajaram em sua aceitação, com o entusiasmo esperado, como elemento essencialmente ligado a seus ideais de nacionalidade , ou pelo menos não o encararam devidamente como um instrumento para chegar às suas concepções sobre a brasilidade ,a exemplo do que tinham feito ao acolher, por exemplo, o folclore e a música popular ; o futebol tinha tudo para cair nas graças também dos modernistas da primeira fase (mais além dos registros de Alcântara, Menotti, Bopp,Cassiano) lado a lado com os da segunda fase (os do nordeste) e da terceira fase , e mesmo dos ‘pós-modernistas’ — mas deu-se apenas na simpatia de ordem plástico-estética de Mario de Andrade e na contestação de cunho ideológico de Oswald de Andrade...
A realidade incontestável é que o futebol continua, ao longo do tempo, sua meteórica ascensão e disseminação como ‘força esportiva’, ‘força social’, ‘força cultural’. Esporte mais popular, no Brasil e no mundo, seguiu sua trajetória eletrizando todas as camadas sociais e sensibilizando escritores, artistas e intelectuais.
Prossegue o futebol,e assim será ad eternum, sempre provocando prazer e dor, polêmicas e alegrias,brigas, tumultos, conflitos, prazer,tristeza, paixões e ódios — nos campos, nos estádios, nos gramados, nas arquibancadas,nos terrenos baldios, nas várzeas, nos corações e mentes de todo o País.

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