terça-feira, 8 de janeiro de 2008

no Fico, o dito pelo não dito


não é que se queira antecipar fatos e atropelar uma agenda,per se fornida de efemérides-- mas imposível deixar de consignar este dia 9 janeiro como um dia importante para a literatura brasileira. como ? mas não é o 'dia do Fico', referindo-se ao ato de Pedro I em 1822 em resposta às exigências de Portugal para que ele, aqui permanecido depois do regresso de D.João VI a Lisboa em 1821,também deixasse o Brasil ? bem, a história narra os fatos e importa aqui realçar que a decisão do então Príncipe Regente ,e seus atos posteriores ao Fico,sinalizavam ruptura e foram fundamentais para o desenrolar do processo de emancipação política,daí a Independência no famoso 7 setembro "às margens do Ipiranga",que como se mostrará aqui -- no devido momento ( mencionei o quanto não desejo subverter a ordem cronológica das coisas,embora inevitável seja :pois não falei acima da volta da Família Real antes de me dedicar à sua chegada,em 1808 ? nem tudo poderá se encaixado em seu devido tempo, o que fazer)-- dizia eu se mostrará o quanto a Independência determinou a formação sedimentada da literatura brasileira. é só aguardar um pouco mais(pois antes há de se tratar do aporte da comitiva de D.João VI,que se deu a 22 janeiro em Salvador ,BA,e a 7 março no Rio de Janeiro).


fiquemos hoje no Fico:se marco importante para a história política também crucial para a historiografia literária. pois saiba-se que a célebre frase "como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto : diga ao povo que fico" não parece ter sido pronunciada na verdade por Pedro I-- política e história por vezes se fazem na lógica do 'diz-que-diz' e neste caso adotou-se um pronunciamento mais impactante,à altura da ocasião,um discurso conciso e lapidarmais apropriado para permanecer nos anais histórico. só neles porque o auto real da sessão do então Senado da Câmara,no Paço,quando Pedro I formalizou sua permanência no Brasil,registra que a fala do Príncipe teria sido a seguinte :"Convencido de que a presença da minha pessoa no Brasil interessa ao bem de toda a nação portuguesa,e conhecido que a vontade de algumas províncias assim o requer, demorei a minha saída até que as Cortes e meu Augusto Pai e Senhor deliberem a este respeito,com perfeito conhecimento das circunstâncias que têm ocorrido"-- e dito isso, assim dito,em seguida achegou-se às varandas do Paço e declarado "agora só tenho a recomendar-vos união e tranquilidade". quem informa tudo isso é Oliveira Lima (1868-1928: eis aí outras efemérides dignas de celebração) em sua magnífica obra O movimento de independência 1821-1822-- como, aliás, todas de sua lavra(inclusive a indispensável Dom João VI no Brasil e a canônica Formação histórica da nacionalidade brasileira ;além de D.Pedro e D. Miguel, a querela da sucessão 1826-1828, O Império brasileiro 1822-1889, Evolução histórica da América Latina comparada com a da América inglesa. Oliveira Lima é leitura indispensável para se conhecer a história brasileira.

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