quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

leitores e protagonistas machadianos


na obra machadiana, o leitor empírico é o ‘frívolo’, e ‘grave’ é o leitor-modelo. Até o final da década de 1870 [ notem que evito chamar de “primeira fase”, creio quão equivocada,e exdrúxula, é essa classificação ] consoante os ditames (estéticos,temáticos,tramáticos,estilísticos,formais,etc) do romantismo ainda vigente [1], os textos ficcionais, i.e. romances e contos – também os não-ficcionais,diga-se as crônicas: sustento cada vez a correspondência/equivalência/coerência/simetria ‘processual’ entre estes e aqueles[ vide meu estudo e palestra “Interseções entre a ficção e a não-ficção de Machado de Assis”] – atendiam ao leitor empírico\frívolo ( como não poderia deixar de ser) condicionado e formado no âmbito desse romantismo e seus valores ; enquanto isso, o grave mantinha-se em ‘surdina’...
nessa linha e cenário, paralelamente ao binômio leitor empírico\frívolo, e a ele integrado e em consonância perfeita, outro viés machadiano expressava-se no tríduo tolo-mulher-homem de espírito [vide meu estudo a respeito, na obra Queda que as mulheres têm para os tolos : Machado de Assis, o subterfúgio, o feminino, a transcendência literária ], criado nesse primeiro livro publicado de Machado, em 1861 (cheio de peculiaridades e absolutamente prenunciador,anunciador e antecipador do ficcionista que viria depois) e desenvolvido\fomentado a partir de então e até o fim da vida literária machadiana : então, a evidente preferência das mulheres pelos tolos, em detrimento dos homens de espírito, satisfazia o leitor frívolo ; e nem mesmo o inconformismo do homem de espírito diante dos ditames e regras do jogo social poderia receber,digamos, a solidariedade do leitor grave, ainda na ‘surdina’ a quie Machado deliberadamente o colocara...
os processos de metamorfose ao longo do tempo, a partir da década de 1860, deram-se concomitantes : na medida da evolução literária machadiana,culminante com a grande inflexão de 1880,o leitor empírico\frívolo vai ‘cedendo espaço’ ao leitor-modelo (inclusive um novo,criado por Machado)\grave da mesma forma e na mesma proporção em que as mulheres vão substituindo sua preferência pelos homens de espírito relegando os tolos em contos e nos romances.

[1] embora Machado inteiramente convicto da total e irreversível decadência do romantismo : vide “sinapse” ao lado.

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