sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

tributo em meio ao caos


caos : assim pode-se caracterizar o inacreditável roubo das peças no MASP. tamanho o conluio de absurdos agora revelados que impossível seria que não acontecesse. bem, que o aqui se mostra não atenua, claro, mas talvez possa ser um certo bálsamo -- a poesia de Cândido Portinari [para quem não sabia,dei a conhecer em meu livro São Paulo,a cidade literária,de 2004,que realça a importância da cidade de São Paulo na história literário-cultural do Brasil, e mostra facetas e manifestações artísticas talvez desconhecidas de muitos dos autores que construíram essa história]

Não bastasse ser um gênio consagrado universalmente nas artes plásticas, Candido Portinari (1903- 1962 ) --artista do mais elevado quilate --criou poemas, os primeiros deles feitos ainda na terra natal de Brodósqui, poemas que ele denominava "meus escritos”.
O menino e o povoado [O circo]
(...)
Sentia-me feliz quando chegava um circo.
Vinha de terras estranhas.
Todo o meu pensamento se ocupava dele.
O palhaço, montando um burro velho, fazia
Reclame com a meninada acompanhando.
Eu assistia ao espetáculo e apaixonava-me pelas
Acrobatas de dez a quinze anos. Fazia
Planos para fugir com elas. Nunca lhes falei.
Por elas tudo em mim palpitava.
Minha fantasia.
Voltando à vida real, entristecia-me. Não era eu
Um príncipe? Nada disso. Roupas baratas,
Pobreza... Até as flores lá de casa pareciam
Murchas e sem perfume. Só nos achávamos
Bem rondando o circo. Quando partia para outra
Localidade, eu sentia tanta tristeza, chegava ao desespero,
Chorava silenciosamente; desolado ia ver o trem
Passar na direção onde estavam as acrobatas.
Talvez pensassem em mim
O trem seria meu emissário.
Nos encontraríamos mais
Tarde... O tempo deixava pequena lembrança
Até a chegada de outro circo...

O menino e o povoado [Não tínhamos nenhum brinquedo]

Não tínhamos nenhum brinquedo
Comprado. Fabricamos
Nossos papagaios, piões,
Diabolô.
A noite de mãos livres e
pés ligeiros era: pique, barra-
manteiga, cruzado.
Certas noites de céu estrelado
E lua, ficávamos deitados na
Grama da igreja de olhos presos
Por fios luminosos vindos do céu
era jogo de
Encantamento. No silêncio podíamos
Perceber o menor ruído
Hora do deslocamento dos
Pequenos lumes... Onde andam
Aqueles meninos, e aquele
Céu luminoso e de festa?
Os medos desapareciam

Sem nada dizer nos recolhíamos
Tranquilos...




Nenhum comentário: