quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

degeneração X evolução da Língua


a propósito da sinapse,aí ao lado, na mensagem anterior -- em que teci brevissimas considerações sobre a linguagem literária brasileira , tema relevante, objeto de um programa de pesquisa a desenvolver em 2008 numa universidade -- vale por ilação, o seguinte:


ultimamente tenho refletido -- e escrito, aqui e ali -- sobre a escrita\linguagem bastante comum hoje no cenário virtual, i.e. na internet, utilizada ad nauseam nas mensagens eletrônicos, i.e. emails – inclusive 'alertando' que devia-se ter cuidados e cautelas, senão controle, sobre isso, pois poderia ser grande,e extremamente danoso,o risco de uma absorção\assimilação inconsciente\subsconsciente na escrita comum, do dia a dia, na fala, na palavra, etc. . Embora observasse eu que ,por um lado, essa escrita\linguagem ‘internética’ retoma, para o bem, uma certa oralidade, de resto muito bem vista e aceita – até encorajada—nos meios quer lingüísticos quer literários.[oralidade,ressalto, que acaba reportando a...Lima Barreto]

estudo com afinco questões de linguagem -- aplicáveis não apenas para obras de referência (leia-se, dicionários) que tenho sempre em cogitações , projetos e ações [continuo trabalhando, nas horas ditas vagas[!] (sic...)em um “dicionário de teoria literária :termos,temas e expressões de ficção e não-ficção”, até porque está ele pautado para um dos programas de pesquisa ora em estudos,para decisão, numa universidade fluminense]– por isso permito-me aqui certas variantes nos comentários citados acima.

0 perigo “iminente”, segundo as análises apressadas, de uma degeneração da língua por força de alterações na escrita, vale dizer ortográficas – e nisso inclui-se a propalada e anunciada reforma a entrar em vigor,na comunidade lusófona do mundo, sabe-se lá quando – não existe em tão alto grau assim ; o risco “catastrófico” da tal absorção\assimilação, no escrever e falar corriqueiro, do ‘internetês’—“(...)a língua sofrendo ataques diários nos emails,blogs e chats(...)”, anunciam vozes alarmistas -- também não .
ambas, são asseverações fundamentadas em dois equívocos :
* primeiro, a ortografia não é um elemento central da organização das línguas, simplesmente porque uma língua define-se por um sistema fônico, uma gramática e um vocabulário : ainda que existam diferenças entre a maneira de compor um texto oral e um escrito, a ortografia é uma convenção por meio da qual se representam as formas faladas da língua , significando que nenhuma mudança ortográfica representa transformação da língua.
a internet está fazendo com que os textos sejam escritos de maneira mais informal,próximas da oralidade,como acentuei,o que não representa alteração da língua, apenas mudança na maneira de composição dos textos escritos – que de resto ocorre também, e em grande escala,maior do que se pensa ou imagina,na comunicação comercial, na correspondência entre empresas, etc, hoje muito mais informais, e até mesmo nos textos da imprensa,agora mais simples, objetivos, fluentes, despojados de vocabulário preciosista, rebuscado, etc..

* segundo, as línguas não decaem em conseqüência de agressões de seus usuários—i. e. os falantes – com os tais "ataques deformadores" que provocariam uma mudança lingüística a qual por sua vez seria atestado da degeneração da língua ; ao contrário, os falantes exercitam uma simplificação, tornando a língua mais prática , até porque por outro lado os idiomas têm mecanismos diversos para exprimir o que o falante deseja expor, mecanismos não necessariamente morfológicos, podendo ser sintáticos, por exemplo ; e os lingüistas sustentam que as línguas progridem, caminham em direção de formas mais aperfeiçoadas, pois permitem maior clareza e precisão na fala e exigem dos falantes menor esforço de memória e dispêndio de energia muscular.

de um modo geral – posso concluir -- mudança lingüística não é para ser vista nem como progresso, nem como degeneração mas sim processo pelo qual as línguas "passam de um estado de organização a outro". Como diz o pioneiro da lingüística no Brasil, e uma das maiores autoridades da matéria, Mattoso Câmara [de quem a Universidade Católica de Petrópolis-UCP mantém o Centro de Estudos Lingüísticos Mattoso Câmara], "a palavra evolução, em lingüística, pressupõe apenas um processo de mudanças graduais e coerentes".
a par, acima e além de preconceitos e equívocos (em que por vezes incorremos) , as línguas não decaem nem progridem, elas mudam. sempre interativadas com as transformações sociais e culturais, as inovações tecnológicas e científicas, os processos de antropologia social, a dinâmica da comunicação, a sedimentação da educação,a fala popular, a incorporação de estrangeirismos, etc.

resumo da ópera : há de se estar atento e cauteloso, sim, mas sem discursos ou posturas ‘catastrofistas’. a todos, só posso recomendar :exercitem sua escrita\linguagem afinada com a modernidade – considerando-se que .saberão utilizar as formas gramaticais,sintáticas,léxicas,vernaculares e ortográficas da maneira certa,no momento certo, no objetivo certo.




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