sábado, 19 de julho de 2014
MORTE DE UM GÊNIO -- QUE EXISTIRÁ E FICARÁ PARA SEMPRE
Profundamente abalado, arrasado
mesmo – nem conseguia escrever ontem, tento hoje -- com a morte do grande João
Ubaldo Ribeiro, 18.07. todos que me conhecem sabem de quanto o adoro, como
escritor e pessoa. Para mim, o maior romancista brasileiro de hoja, fora de
qualquer dúvida – quem escreve “Viva o povo brasileiro”, “Sargento Getulio”, “O
albatroz azul”, p. ex. possui estatura universal, comparável aos gênios da
Literatura. [mas é dele uma esplêndida coletânea de contos e crônicas,
inclusive de cunho paradidático, publicada em livro impresso e ebook ].
“Gênio”, era João, assim Glauber
Rocha o definia com todas as letras. E com tal genialidade, era de uma
simplicidade, um despojamento, uma autenticidade, até mesmo modéstia (muuuuita)
e timidez. Acadêmico com todas as honras e fardões, era nas ruas do Leblon que
o encontrávamos em sua melhor, e contumaz quase inseparável, indumentária :
bermudas, chinelas – com aquela irresistível cara abolachada, o cinematográfico
bigode, o eterno sorriso e um bom humor indestrutível. Os gênios, como se sabe,
não precisam de pompas e circunstâncias, dispensam falsas elegâncias e rituais,
vivem e aparecem como são.
João era dono de vasta cultura,
literária e de outras áreas (inclusive foi pós-graduado em Ciência Política,
leu e discorria com absoluto conhecimento sobre os grandes ensaístas políticos,
os chamados intérpretes do Brasil): leu
de tudo, desde cedo (conta sua iniciação por imposição severa do pai), por isso
o excepcional embasamento literário – segundo ele, fundamentado nos escritores
barrocos, Vieira à frente e no cimo.
Seu estilo narrativo vinha daí :
fluente, quase na oralidade, único, impermeável a modismos, a ‘modernidades’,
certeiramente atemporal. Ler seus escritos era\é um prazer e um deleite somente
proporcionado pelo baluartes de altíssimo quilate literário.
Sua riqueza cultural, aliás,
extrapolava : viveu um tempo na Alemanha, daí dominava (e amava) perfeitamente
o alemão [cá entre nós: foi ouvindo-o, primeiro numa memorável palestra, depois
em conversas informais –sim, tive-as com ele, onde ? nas ruas do Leblon,
claro...—que despertou em mim o fervor pelas língua e lingüística, literatura e
cultura alemãs, como já expus aqui (ao tratar do Unheimlich, lembram ?)]; e
para quem não sabe, ele pessoalmente verteu para o inglês todo o “Viva o povo
brasileiro” para efeito de sua publicação pelo mundo !.
Assim era João – e suas
deliciosas estórias e ‘causos’ pessoais. Divertíamos ouvindo-o declarar, eis um
exemplo concreto de sua modéstia, sua autenticidade, que “ eu só podia mesmo
ser escritor, não por vocação ou talento [sic] , mas por exclusão, não tinha
aptidão para cantar nem tocar instrumento musical, não sabia dançar, não jogava bem futebol, não consegui aprender
a jogar xadrez, era péssimo em jogo de cartas, não dava pra nada – por isso fui
escrever.... vejam só, a marca dos
gênios é assim.
Foi-se, de corpo, mas fica
permanente entre nós -- e no Olimpo da literatura brasileira -- de genialidade e um conjunto de atributos que
nem todos possuem.
mr
19.07.2014
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