domingo, 17 de janeiro de 2010

Nabuco,100 anos


neste 17 janeiro,há 100 anos, morria um dos maiores intelectuais brasileiros,. Joaquim Nabuco, acima de tudo, foi um grandes intérpretes do País , que sobrepôs os valores universais aos objetivos individuais -- autêntico e genuíno "homem público” e figura perpetuamente alçada ao pedestal da inteligência nacional.

O ano de 2010 foi estabelecido oficialmente como "ano Joaquim Nabuco"


preparo livro “O pensamento de Joaquim Nabuco : escritos políticos,filosóficos e literários” , que abrigará textos publicados na imprensa -- no caso,apenas nela – e trechos selecionados por critérios específicos de opúsculos e obras dele próprio.
os textos aqui expostos estão em ordem e organização aleatória : na obra, se apresentarão agrupados pelas claves temáticas (políticos, filosóficos,literários
).


Os reflexos do ideal assemelham-se às pequeninas espécies que a noite gera em silêncio na sua escuridão. Para poder fixar-lhes os contornos vivos seria mister discerni-los na penumbra, onde surgem para logo morrerem. Vestem os mesmos tons que elas - tintas grisalhas do anoitecer, quando muito o bureI amarelado do crepúsculo. Só em espíritos muito altos, muito puros, passam às vezes algumas que tenham asas de ouro. Tais imagens só podem ser manejadas à sombra mesma da meditação em que nasceram. Não é, pois, sem receio que me atrevo a expor à luz do dia algumas dessas impressões que escapam sempre e se destroem ao pensamento como falenas à luz.

Não procureis a originalidade. Ela acompanha, o mais das vezes, inteligências medíocres. Só tem direito de ser original quem não procura sê-lo. O gênio não é feito da só originalidade. Esta precisa ser a expressão do pensamento ou da aspiração universal. A originalidade, por si só, é qualidade negativa; precisa juntar-se a outra para ter valor, e este valor dependerá da qualidade positiva que acompanha.

São afinal pouquíssimos os escritores preocupados com o futuro remoto. Subir ao palco, ver-se aclamado pelos amigos e pelos contemporâneos, basta em geral para satisfazer sua ambição, sua exuberância de força intelectual. Aparecer só, ainda que no primeiro plano, perante os pósteros desconhecidos, isto lhes parece uma forma antes de morte que de vida.

Nossa era ficará sendo a era do romance. Isto significa que a França e seus satélites literários terão tido o adultério por alimento intelectual, como os coevos de Cervantes tiveram por alimento a cavalaria andante. E uma vez que o Dom Quixote desse gênero de literatura infelizmente ainda não apareceu, é de crer que ela esteja ainda longe de seu termo.

Uma das maiores burlas dos nossos tempos terá sido o prestígio da imprensa. Atrás do jornal, não vemos os escritores, compondo a sós seu artigo. Vemos as massas que o vão ler e que, por compartilhar dessa ilusão, o repetirão como se fosse seu próprio oráculo.

Quantas obras-primas da natureza são destruídas para abrir espaço à humanidade, que cresce sempre, mas cujas unidades reais parecem ir diminuindo à medida que os homens se multiplicam. Em dado momento haveremos de lastimar amargamente a ação devastadora da civilização, como hoje pranteamos o incêndio da biblioteca de Alexandria ou do circo de Constantinopla.

Não há, no entanto, na destruição das florestas apenas um móvel utilitário de riqueza; há também a tendência inata para por a obra humana no lugar ocupado pela natureza, e acima desta. A devastação dessas estupendas plantações de Deus não tem por único fim semear sobre suas cinzas uma cultura de lucro -- trigo, cana ou milho. Tanto quanto o pincel do pintor ou quanto a pena do poeta, o machado e o tição são instrumentos da pobre estética humana. A paisagem transformada há a de nos parecer, um dia, mais bela do que a floresta virgem, porque a alma e o esforço, a angústia e o interesse humanos nos empolgam sempre mais do que a obra de Deus. A vista de uma ermida ou de um castelo em ruías, definindo seus contornos contra uma encosta longínqua, prende-nos mais o espírito que a massa de folhagem ainda espera do fogo e do ferro. O homem quer encontrar, por todo o planeta, sua marca própria, seu carimbo de prazer, seguido de dor.


Para resolver seu próprio enigma, o to be or not to be do seu destino, não teve o homem outro auxilio senão a imaginação. Ela foi a criadora de toda vida moral nesta terra. As religiões, é verdade, todas ensinaram ao homem, desde o berço, que ele é criatura ,e criatura responsável, mas as religiões procedem da aspiração que leva o homem a Deus. Não criaram essa aspiração. Foi a imaginação que a trabalhou longamente, no isolamento e no silêncio, até que os anseios esparsos pudessem unir-se e cristalizar-se nos grandes moldes coletivos e unitários que são as religiões. A imaginação é pois a faculdade religiosa por excelência; é natural que o Positivismo a procure combater como a própria fonte do sentimento religioso.

Assim como o corpo não se nutriria bem com alimentos já preparados para entrar no sangue, também o espírito não se nutriria com pensamentos já feitos. O estômago quer ele mesmo efetuar seu labor, o organismo quer escolher aquilo que lhe serve e lhe é necessário, e não se conformaria com uma alimentação artificial que deixasse inativo todo seu mecanismo. Assim, o cérebro precisa destilar, ele mesmo, de uma massa de leituras aparentemente inúteis, ou de idéias incoerentes, a matéria para construir sua obra; precisa
de viver vida própria. Não lhe seria nutritivo o pensamento puro, preparado de antemão para a assimilação.

A primeira vez que o egoísmo abriu lugar à dedicação e o homem estremeceu pela sorte dos seus, o sentimento de dependência entrou-lhe no coração e assim a religião nasceu. Primos in orbe deos fecit timor. Foi o medo que fez os primeiros deuses, o medo por amor.

A religião é somente o pátrio poder divino. Ela não nos deixa livres no sentido de escaparmos a toda e qualquer sanção exterior. É livre porém quem entende que submeter-se voluntariamente aos móveis mais elevados do nosso livre arbítrio é a única forma verdadeira da liberdade pessoal.

No sistema da criação automática (ou seja o sistema oposto ao da criação por vontade e pensamento) não poderia caber o livre arbítrio, que é a liberdade moral; só seria admissível aquela pseudo-liberdade física que é atributo de qualquer organização volitiva do homem ou do animal. Esta, de liberdade, tem apenas a aparência. Ser independente nos movimentos e nos atos, em virtude de um qualquer mecanismo, por mais complexo ou delicado que seja, não é ser moralmente livre.


Seria de lastimar que os grandes escritores não aproveitassem seu talento para restituir á circulação os antigos lugares-comuns que desaparecerem do curso á força de serem usados.

Muitas vezes, por causa de uma qualquer semelhança nas palavras ou nas idéias, haverá quem afirme que um escritor se inspirou em outro que, antes dele, havia dito aparentemente a mesma coisa, com ligeira diferença. Quem todavia perceber o sentido exato, que cada um lhe imprimiu, verá que eles não poderiam se inspirar um no outro ; que são pensamentos brotados espontaneamente de sentimentos opostos,de fontes de criação inteiramente diversas.

Em literatura, a época atual será para a posteridade uma Tanagra. E sobre fazer pequeno ela não fez acabado, e sua graça é toda de artifício

Para rejuvenescer, ou para conservar sua juventude, a humanidade precisa de fases de repouso intelectua1. Convé-lhe, de vez em quando uma cura de boa e franca estupidez. O arquivo da ciência poderia, no intervalo, ser confiado a um corpo de sábios, como, na Idade Média, foram entregues aos monges as letras da Grécia e de Roma Nada se perca do que já foi adquirido, mas cesse toda produção afim de que o pensamento se possa refazer.

Em milhares de livros, há um que é o tema os demais não passam de variações.

Dos autores contemporâneos os que têm maior probabilidade de se tornar universais são, em geral, aqueles que nós não conhecemos. Em primeiro lugar, subsistirão as fotografias instantâneas da nossa sociedade, os retratos, as viagens (sobretudo em países que estão rapidamente se transformando e perdendo a originalidade ), as cenas de interior. Tudo isso viverá a título de documento, e assim obras para nós inexistentes serão guardadas pelo futuro como se guardam as contas em tijolos dos mercadores chaldeanos.

A profissão de escritor merece toda piedade. Escrever para ganhar o pão, escrever para viver, é deformar o talento.

Nada impede que a literatura seja tida como pura ociosidade de espírito no dia em que se atrofiarem, em favor de outras, as faculdades que a produziram. No o uso da imaginação, há uma tendência infantil que no futuro procuraremos, quiçá, esconder ou reprimir. A arte de dizer bem terá sempre êxito garantido, mas a arte de imaginar talvez cesse de encontrar quem se entretenha com ella e assim o homem poderá vir a se envergonhar do próprio gênio. Já se pressente isso.

O mercado de livros matou a obra literária. Desde que as letras se tornaram fonte de renda, era forçoso transformar-se o literato també em industrial. Escrever ou compor por amor à glória, como Sófocles ou Cícero, era evidentemente violentar a inspiração, mas aí o estimulante era natural, era próprio do gênio, intensificava-lhe o surto. O lucro não tem as mesmas afinidades com a inspiração que têm a gloria ou a liberdade.

O mesmo acontece com as artes, e, no entanto, nenhuma obra feita sem o propósito de lucro, poderá atingir, sobretudo de agora em diante, o níveI que o público moderno requer. Apresentaria um cunho de inocência infantil, apto a provocar o sorriso dos artistas ou dos críticos profissionais. A arte religiosa é a única que pode ser ingênua, pois ela exprime o sentimento dos corações simples, e estes não rejeitam a ingenuidade.

Vêde Goethe; é a perfeita saúde de espírito dentro das mais altas regiões intelectuais; no entanto, ele pensa e sente com os outros; não é um solitário, nem um saciado, nem um exigente, à procura de sensações desconhecidas, e querendo gozar das coisas de modo diverso e apartado de todos. Vê-se a grande maré humana, chegar nele ao seu preamar; nada mais. Das impressões mais triviais, sabe destilar a mais ideal poesia. Não fabrica mel unicamente com essência.de rosas, o extrai de qualquer planta da selva. Não há quase emoção sua que o sibarita esteta dos nossos dias não achasse banal.

Considerai outrossim os pintores da Renascença. Dá-se com eles o mesmo que com Goethe. Antes de tudo são homens, vivendo a vida comum, transcrevendo-a nas suas criações, gravadas com o cunho pessoal de cada um. Produziram obras inconfundíveis, mas seu pensamento, suas afeições, sua vida, empregaram-nos como toda a gente, sem procurar a sensação requintada do momento, nem gastar sua sensibilidade em persegui-la. .

Haverá indiferença mais criminosa do que a indiferença com que a classe única que dirige os destinos deste país desde que ele se fundou, tem assistido ao crescimento desamparado da nossa população, à promiscuidade de nosso povo, à miséria que se espalha por todo o país,à degradação dos nossos costumes, só se preocupando dos seus interesses de classe, de manter o jugo férreo de seus monopólios desumanos e atentatórios da civilização universal?

O patriotismo consiste, muitas vezes, em pôr-nos na situação do estrangeiro e julgar nosso país como se nada tivéssemos com ele.

No teatro do mundo, os espectadores são as nações sem História.

Nenhum governo pode impedir que as nações sejam acometidas de doenças graves e, por assim dizer, periódicas. Mas, quando surge uma dessas doenças, a culpa lhe é logo atribuída.

O favor das massas vai do partido A ao partido -B e, novamente, do partido B ao partido· A, recomeçando sempre a mesma oscilação. E esse flutuar de esperanças sempre decepcionadas, dá lugar, de longe em longe, às revoluções, que são a concentração do desespero. O chamado movimento de opinião é apenas o fluxo e refluxo do bem-estar ou da miséria pública. Essa é a única verdadeira opinião pública; a outra, que se deixa captar com escrutínios e plebiscitos, não é senão o efeito artificial da velha arte política.


O homem de bem lastimará muitas vezes não ter triunfado em política, por ser reto, ou em negócio, por ser escrupuloso. Não quisera ter procedido diversamente; fica-lhe, porém, um pesar involuntário.

Os homens de gênio, no campo da política. são os estadistas capazes de discernir, não somente a sombra que projetam os acontecimentos futuros, coming events cast the·ir shadows before them.. mas ainda o rasto que deixam muito depois de passados.

A responsabilidade pessoal nas crises mais graves e mais sérias pode muitas vezes ser evitada com qualquer expediente para adiar a solução. Quando porém a crise se renovar mais intensa e meios humanos já não a puderem debelar, então a responsabilidade não deveria caber ao estadista subjugado pelo curso dos acontecimentos; deveria recair, toda ela, sobre o homem que, no momento em que os remédios ainda seriam eficazes, se contentou de salvar o próprio nome, por um meio dilatório, deixando aos sucessores a bancarrota inevitável.

Cícero queria o triunfo. A Cesar bastava vencer.

A oposição será sempre popular; é o prato servido à multidão que não logra participar do banquete.

Em política nunca se deve cogitar de dar cheque e mate com peão coberto. Convém evitar rasgos inúteis de força.

Em política , ainda está por descobrir o vapor, ou seja o meio de navegar contra o vento e contra corrente. Só é possível viajar a vela.

Conduzir homens sem levar em conta que suas reações não são idênticas, é querer joga xadrez movimentando todas as peças da mesma maneira.

A propriedade não tem somente direitos, tem também deveres.

Assim como a religião requer o batismo d'água, e a guerra, o do fogo, assim a política exige o batismo do óio. Aquele que o não tiver recebido nãopode aspirar ao triunfo. Os insultadores empurram sem o saber, encosta acima, o carro que os entusiastas, sem auxilio, não poderiam arrastar.

Conserve-se o coração afastado do espírito partidário, afim de que as amizades não variem com a política. Mesmo confundir política com religião já é intolerância.

O político desculpará, no entanto, a abjuração,a apostasia religiosa; só não perdoa aquilo a que dá hoje exclusivamente o nome de apostasia – a mudança de partido. À medida que o espírito da intransigência se afasta das religiões, refugia-se nos partidos. Só há hoje autos-de-fé leigos.

A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil.

Como pode ser criado para a democracia um povo que pratica a igualdade com a escravidão, a liberdade com a escravidão, a fraternidade com a escravidão ?

O que pode salvar nossa pobreza não é o emprego público, é o cultivo da terra, é a posse da terra que o Estado deve facilitar aos que quiserem adquiri-la.
É preciso que os brasileiros possam ser proprietários de terra,e que o Estado os ajude a sê-lo. Não há empregos públicos que bastem às necessidades de uma população inteira.

A melhor educação é aquela que consegue transmitir, de uma geração a outra, maior soma de experiência e de sabedoria. A arte de viver é, afinal, a que mais importa aprender. Os elementos principais de uma educação nacional são os que tendem a manter o caráter da raça, as tradições e os costumes da terra. Tal era antigamente o objetivo da educação. Hoje ela ensina à criança tudo, menos a viver.

a seguir, link para texto do prof. Kenneth David Jackson ,de Yale University (um de meus mais intensos interlocutores literários) sobre Nabuco e Machado -- texto que integra livro de sua lavra a ser publicado em março.
https://mail.google.com/mail/?ui=2&ik=a2b80da499&view=att&th=1232ea7d97db0aa5&attid=0.1&disp=vah&zw

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

embustes


para abrir este ano político de 2010 [nessa seara, publicarei Machado de Assis e a política: crônicas (3 vols.) e Contos políticos de Lima Barreto ]


PT,Lula : chega de embustes
O prof. Claudio Salm investigou os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 1996 e 2002 (anos tucanos) e daí a de 2008 (anos petistas). Ele verificou que a ideia segundo a qual Lula mudou radicalmente a vida do andar de baixo nacional é propaganda desonesta. Estimando-se que no 'andar de baixo' estejam cerca de 50 milhões de pessoas (25% da população), o que se vê nas três Pnads estudadas por Salm é uma linha de progresso contínuo, sem inflexão petista.
Em 1996, quando Fernando Henrique Cardoso tinha um ano de governo, 48,5% dos domicílios pobres tinham água encanada. Em 2002, ao fim do mandato tucano, a percentagem subiu para 59,6%. Uma diferença de 11,1 pontos percentuais. Em 2008, no mandato petista, chegou-se a 68,3% dos domicílios, com uma alta de 8,7 pontos.
Coisa parecida sucedeu com o avanço no saneamento. Durante o tucanato, os domicílios pobres com acesso à rede de esgoto chegaram a 41,4%, com uma expansão de 9,1 pontos percentuais. Nosso Guia melhorou a marca, levando-a para 52,4%, avançando 11,3 pontos.
O acesso à luz elétrica passou de 79,9% em 1996 para 90,8% em 2002. Em 2008, havia luz em 96,2% dos domicílios pobres.
Esses três indicadores refletem políticas públicas. Indo-se para itens que resultam do aumento da renda e do acesso ao crédito, o resultado é o mesmo.
Durante o tucanato, os telefones em domicílios do andar de baixo pularam de 5,1% para 28,6%. Na gestão petista, chegaram a 64,8% das casas. Geladeira? 46,9% em 1996, 66,1% em 2002 e 80,1% em 2008.
O indicador da coleta de lixo desestimula exaltações partidárias. A percentagem de domicílios pobres servidos pela coleta pulou de 36,9% em 1996 para 64,4% em 2008. Glória tucana ou petista? Nem uma nem outra. O lixo é um serviço municipal.
Nunca antes na história deste país um governante se apropriou das boas realizações alheias e nunca antes na história deste país um partido político envergonhou-se de seus êxitos junto ao andar de baixo com a soberba do tucanato.

(Elio Gaspari, Folha de S. Paulo,03.01.10)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

fim \início de ano


"sim, considerei a vida,remontei os anos,vim por eles abaixo, remirei o espetáculo do mundo, o visto e o contado, cotejei tantas coisas diversas,evoquei tantas imagens complicadas, combinei a memória com a história,e disse comigo : '-- certamente,este mundo é um baile de casacas alugadas'."

Machado de Assis